quinta-feira, 5 de julho de 2018

"Ora, nos centros de explicações trabalha-se diretamente para as notas"

Um leitor anónimo, em comentário ao texto "Professores apaixonados" ou o marketing de um negócio em florescimento, escreveu o seguinte:
Ora, nos centros de explicações trabalha-se diretamente para as notas. Repetem-se, até à náusea, a resolução das provas de exame dos anos imediatamente anteriores e, dada a simplicidade da reduzida matéria alvo de avaliação, os exercícios propostos, ao longo de anos sucessivos, são sempre tão parecidos [pelo] que acaba por compensar andar em explicações. 
As explicações não se destinam, principalmente, aos alunos menos dotados, como noutros tempos em que já era muito bom passar de ano, agora o grande objetivo do aluno médio é atingir os vinte valores, nem mais nem menos, e, muitas vezes, atinge! 
A massificação do ensino, com o golpe de misericórdia da escolaridade obrigatória até aos dezoito anos, afastou da escola o critério da qualidade, acabando por ter o efeito perverso de guindar aos cursos com melhores saídas profissionais os alunos mais ricos que têm dinheiro para pagar colégios, explicações e notas elevadas!
O meu comentário ao comentário é o seguinte:
As políticas para a escola pública traduzem-se na legitimação da "narrativa" da OCDE, a qual é corroborada por muitos académicos, directores e professores. Não sabemos que efeitos terá nas práticas lectivas, mas algum efeito deve ter.
Acontece que os exames nacionais estão (ainda) desfasados dessa narrativa. Os nossos exames nacionais, ou pelo menos alguns deles, requerem o domínio de conhecimentos disciplinares e demonstração de capacidades cognitivas. 
Se na escola o ensino é desviado da sua essência, dificilmente os alunos que pretendem terminar a escolaridade obrigatória ou prosseguir estudos superiores aprendem com a extensão e profundidade que lhes permita obter classificações para passar ou para entrarem nos cursos pretendidos.
Em suma, os sistemas educativos ao mesmo tempo que aligeiram a aprendizagem disciplinar, mantêm exames que testam a efectiva aprendizagem disciplinar. 
As empresas de explicações, como empresas que são, aproveitam esta manifesta incongruência para fazer negócio.

1 comentário:

Anónimo disse...

Concordo plenamente, mas as empresas de explicações são um sintoma, não a causa do problema. O objectivo é político-filosófico, o que se esta a criar hoje são hordas de pessoas sem autonomia de ideias, pensamento próprio, facilmente rendidas ao medo. É a criação de um novo tipo de analfabetismo, onde a tecnologia é apenas um meio. Nada há aqui de inocente.

O BRASIL JUNTA-SE AOS PAÍSES QUE PROÍBEM OU RESTRINGEM OS TELEMÓVEIS NA SALA DE AULA E NA ESCOLA

A notícia é da Agência Lusa. Encontrei-a no jornal Expresso (ver aqui ). É, felizmente, quase igual a outras que temos registado no De Rerum...