quarta-feira, 25 de julho de 2018

"A nova pedagogia [essencialmente pós-anos 2000]"

Nos antípodas da perspectiva pedagógica da sueca Inger Enkvist (ver aqui e aqui) está a da norte-americana Hillary Hart, professora da Universidade do Texas e directora de um centro de investigação (Faculty Innovation Center - FIC -, antes Centro para o Ensino e a Aprendizagem).

Hart esteve, a meio deste mês, em Portugal, na Universidade do Porto, onde fez formação (presume-se que a professores). Numa entrevista a Filipa Silva (ver em JPN -  Jornalismo Porto Net: aqui) explica uma máxima antiga, que situa no ano pós 2000: "o professor passou de transmissor de conhecimento a facilitador da aprendizagem". Dessa entrevista, destacamos passagens nas quais explica esta máxima e a resistência que encontra na sua implementação.

                                                                                                Maria Helena Damião e Isaltina Martins

Imagem recolhida aqui.
"O papel dos professores mudou e é tempo de encaixar a mudança (...) a mensagem da pedagogia moderna é clara: se o paradigma do ensino estava centrado na figura do professor, hoje o epicentro é o aluno e isso significa alterações na forma como é transmitido o conhecimento nas escolas."
“O que ressalta da nova pedagogia [essencialmente pós-anos 2000] é que o papel dos professores mudou. O vosso papel principal passou de transmissores de conhecimento, do especialista que debita o seu profundo conhecimento na mente dos estudantes, para um facilitador da aprendizagem”. 
“Quando digo isto no FIC, muitos deles não gostam mesmo nada. Não gostam da expressão. ‘O que é que queres dizer com facilitador? Eu sou um professor, tenho conhecimento do conteúdo que tem de ser passado aos alunos para que eles aprendam os princípios básicos da Química ou da nossa História’. E isso é verdade. Mas a questão é como é que isso se faz e como é que colocamos os estudantes mais ativamente envolvidos na sua própria educação e aprendizagem.” 
"Gerar motivação, diz, é fundamental. Promover a autonomia, a capacidade de reflexão e o envolvimento do aluno, também. Apostar no ensino experimental e transdisciplinar tem resultados demonstrados na fixação de conhecimento e o desenvolvimento de competências transversais. E, pelo caminho, podem e devem ser usadas as ferramentas digitais mais simples (e muitas delas gratuitas) para ir ao encontro do aluno." 
Pergunta: [o] que os professores podem fazer nas aulas para aproveitar os media digitais no ensino?  
Resposta: Então, eu iria às aulas híbridas. Era o que eu promoveria. Falo de aulas parcialmente dadas online e noutra parte dadas presencialmente. O que se coloca online é o conteúdo. Coisas para ler, vídeos para absorver informação e trabalhos para fazer. Depois, os alunos vão às aulas e fazem atividades à volta disso. Os estudantes não se sentam e ouvem muito da conversa do professor. Eles fazem atividades. Por isso, se tiverem lido um livro – imagine-se, o Orgulho e Preconceito para a aula de Inglês – e tiverem um trabalho associado sobre um capítulo específico, por exemplo. Depois vão às aulas, discutem-no com os pares e escrevem o seu mini paper ou algo do género. Assim, o tempo da aula é baseado em colaboração, discussão, aprendizagem com os pares, revisão pelos pares, de vez em quando alguns exercícios de avaliação, coisas que é melhor fazer presencialmente. 
Pergunta: Falou na sua apresentação de algumas palavras-chave que associa à pedagogia moderna. Pode falar-nos disso? 
Resposta: Está tudo relacionado com esta mudança de paradigma: agora “centrado no estudante” e não “centrado no professor”. Está focado no aluno e em empoderar o aluno para o futuro, empoderá-lo não só para aprender o conteúdo do seu curso mas para ir além. Foi nisto que começamos a pensar, que as universidades começaram a pensar. Por exemplo, tivemos um grande estímulo há seis anos para aumentar os nossos cursos de quatro anos, para conseguir ter os alunos formados em quatro anos, porque é mais rentável… enfim. Conseguir pô-los lá fora [em menos tempo]. E, claro, temos de ter em consideração o que lhes vai acontecer quando saírem da Universidade (...). E empoderamos os alunos dando-lhes autonomia, para tentar e falhar, para refletirem (...) 
Há tanto tempo que os matemáticos tentam criar outros matemáticos, ou professores de Inglês que tentam criar estudantes super letrados que sabem o cânone, ou mais do que o cânone, uma especialidade. Ou seja, em larga medida, eles estão a tentar replicar-se a si próprios pelo menos os de pensamento mais antiquado. E nós estamos a tentar mudar essa direção. Fazer a universidade perceber que ela tem uma obrigação de ajudar os seus alunos a serem bem sucedidos. Não estamos a tentar fazer da universidade uma universidade para um emprego, mas que atenda a essas competências mais gerais como o pensamento crítico. Só desenvolvemos isso dando-lhes alguma autonomia, deixando-os falhar, deixando-os ir além da sala de aula. E para isso temos de os motivar também. 
Pergunta: Porque é que acha que encontra nos professores a resistência de que falou há pouco? 
Resposta: Porque é difícil. Se está habituada a dar a mesma aula durante um período longo… Um dos problemas é a avaliação do ensino. Na Universidade do Texas não o avaliamos muito bem. Estamos dependentes de um inquérito aos alunos no final e devíamos estar a fazer muito mais avaliação pelos pares, observação pelos pares, de uma forma não ameaçadora. Como aos nossos estudantes. Nós também lhes pedimos para se comportarem como pares e reverem os trabalhos dos outros. Devíamos pedir o mesmo a nós (...).

2 comentários:

Graça Sampaio disse...

Lamento dizer que esta nova pedagogia está a anos-luz de ser apreendida e utilizada pelos nossos professores, especialmente os do ensino secundário, que só pensam em preparar mecanicamente os alunos para os exames. Exames que, diga-se, são desonesto, cheios de rasteiras nomeadamente na malfazeja escolha múltipla, americanice que entrou na moda por cá há una anos e não despega. Muito lamentável...

Anónimo disse...

Esta nova pedagogia pode estar longe de ser "apreendida pelos nossos professores", mas já é aplicada em doses maciças, tanto em "contexto de sala de aula" como nos exames. A doutora Graça Sampaio está a ver o "nosso" mundo da educação ao contrário!
A pedagogia do aprender a aprender é contra a escola!

O BRASIL JUNTA-SE AOS PAÍSES QUE PROÍBEM OU RESTRINGEM OS TELEMÓVEIS NA SALA DE AULA E NA ESCOLA

A notícia é da Agência Lusa. Encontrei-a no jornal Expresso (ver aqui ). É, felizmente, quase igual a outras que temos registado no De Rerum...