“Fazei primeiro vosso aluno são e forte
para que possais vê-lo inteligente e sábio”.
Jean-Jacques Rousseau
Escreveu um anónimo este comentário ao meu post, “Da poesia
à crise do Sporting Clube de Portugal” (27/06/2018), chamando a atenção para a
minha incoerência com a seguinte argumentação:
“Pois, e Portugal nunca dantes na História conhece tantos e tão espantosos desportistas de elite como agora. E nunca antes teve tantos campeões mundiais ou europeus a actuarem numa mesma era desportiva. Nunca ganhámos tantas medalhas, nunca tivemos tantos desportistas federados a praticar desporto de competição. É um período de autêntico fulgor, com campeões em modalidades tão diversas como Judo, Motociclismo, Ténis, Futebol, Canoagem, Triatlo, Ténis de Mesa, Ginástica, Ciclismo, Futsal, Natação…”
Pela forma correcta como foi redigido o comentário - indo ao
encontro (não confundir com “de
encontro”) de António Sérgio que
escreveu judiciosamente que “contestar a
ideia de um certo homem, ou defendida por um certo homem, não é insultar esse
mesmo homem” - merece que clarifique
aquilo que tive como decadência do império romano e apogeu de uma educação integral
helénica.
No primeiro caso, reportava-me ao futebol profissional, que
arrasta multidões numa espécie de ópio
do povo tão criticado no tempo de Salazar e hoje servindo, em doses maciças, aos nossos políticos para fazer esquecer as agruras desse mesmo
desgraçado povo, em que os escândalos se sucedem em catadupa para além do que
referi relativamente ao Sporting Clube de Portugal de parceria com outros grandes clubes portugueses,
sob suspeita de jogos combinados para
ganhar campeonatos nacionais, árbitros comprados para favorecerem determinadas
equipas, dopagem de futebolistas, etc.,
etc..
No segundo caso, referia-me à ausência de uma educação integral helénica causada pela letargia dos nossos políticos, responsáveis pelo pelouro da Educação, em que os mais prejudicados têm sido os alunos das nossas escolas por escassearem horas nos horários escolares de Educação Física, preconizadas pela própria Organização Mundial de Saúde (OMS), faltarem instalações gimnodesportivas condignas (ou, nas que existem, desleixo em as conservar para evitar a sua evidente degradação), situações agravadas pelo facto de ter sido defendido por determinados pais/encarregados de educação, mais interessados no êxito escolar dos filhos do que na sua saúde, que a classificação de Educação Física do ensino secundário devesse continuar a não contar para o acesso ao ensino superior para não prejudicar a entrada dos seus rebentos, agarrados aos calhamaços escolares horas e horas diárias, e em sôfregas buscas de informação na Net, quais lapas fixadas em rochedos, para o ingresso em Medicina tirando, com isso, possível vantagem embora se transformem em Ernestinhos “com membros franzinos, ainda quase tenros, que lhe dão um aspecto débil de colegial”, tão bem caracterizados pela pena de fina ironia de Eça de Queiroz. Ou seja, já é tempo de acabar com aqueles que se sentem iluminados pela deusa romana Minerva tentando fazendo crer, como tenho criticado publicamente, vezes sem conta, de que que as capacidades físicas estão nas razão inversa das capacidades cognitivas, ou vice-versa!
No segundo caso, referia-me à ausência de uma educação integral helénica causada pela letargia dos nossos políticos, responsáveis pelo pelouro da Educação, em que os mais prejudicados têm sido os alunos das nossas escolas por escassearem horas nos horários escolares de Educação Física, preconizadas pela própria Organização Mundial de Saúde (OMS), faltarem instalações gimnodesportivas condignas (ou, nas que existem, desleixo em as conservar para evitar a sua evidente degradação), situações agravadas pelo facto de ter sido defendido por determinados pais/encarregados de educação, mais interessados no êxito escolar dos filhos do que na sua saúde, que a classificação de Educação Física do ensino secundário devesse continuar a não contar para o acesso ao ensino superior para não prejudicar a entrada dos seus rebentos, agarrados aos calhamaços escolares horas e horas diárias, e em sôfregas buscas de informação na Net, quais lapas fixadas em rochedos, para o ingresso em Medicina tirando, com isso, possível vantagem embora se transformem em Ernestinhos “com membros franzinos, ainda quase tenros, que lhe dão um aspecto débil de colegial”, tão bem caracterizados pela pena de fina ironia de Eça de Queiroz. Ou seja, já é tempo de acabar com aqueles que se sentem iluminados pela deusa romana Minerva tentando fazendo crer, como tenho criticado publicamente, vezes sem conta, de que que as capacidades físicas estão nas razão inversa das capacidades cognitivas, ou vice-versa!
Felizmente que prevaleceu “o soberaníssimo bom senso”,
defendido por Antero, no processo de avaliação dos alunos que passou, finalmente, a contar para o
ingresso em todos os cursos superiores,
pela qual me bati e da luta sem quartel
das associações de professores de
Educação Física com o arrimo forte do parecer de um grupo de professores catedráticos
da Faculdade de Medicina de Coimbra sobre as vantagens da aulas de Educação
Física para a saúde dos alunos num tempo em que se denominam certas doenças
provocadas pela falta ou pouca exercitação física de doenças hipocinéticas.
Aliás, encontro uma possível razão para a minha voz ecoar no deserto no
fenómeno a que os psicólogos sociais
denominam de erro de atribuição, ou seja a tendência humana para certos
indivíduos desacreditarem certas argumentações motivados por questões de natureza
política, ou de qualquer outra natureza, que lhes merecem os seus subscritores!
Esta visão distorcida e preconceituosa para com o Corpo (em reminiscência do dualismo
cartesiano), com excepção de uma máquina
de fabricar taças e medalhas com
dividendos políticos, foi criticada de forma
lapidar por um ilustre colega meu de Educação Física José Esteves, doutor “honoris causa” pela Universidade Técnica
de Lisboa, percursor da actual Sociologia Desportiva portuguesa, quando escreveu numa época
planetária de exacerbados nacionalismos (v.g., a disputa travada entre os
Estados Unidos e a antiga União Soviética pela hegemonia de medalhas olímpicas ou
de campeonatos europeus ou mundiais) em nome de um povo acolitado por uma ideologia política, hino ou simples
bandeira nacional: “Não troco a formação desportiva de uma centena de crianças
das nossa escolas primárias por uma medalha de ouro olímpica”.
Aqui chegado, o meu polémico texto (?) reportava-se, tão-só, ao interesse paroxístico do planeta terra pelo
futebol profissional (repare-se que o
estádio russo onde decorreu o último Portugal-Irão tem o nome de “Monrávia
Arena”, isto é arena local onde decorriam
as ancestrais pugnas do circo romano) e, em antítese, à parcimónia de meios atribuídos à Educação Física escolar portuguesa contrastando
com uma Educação Integral helénica, por mim
defendida, decorridos quase seis
decénios, num artigo intitulado "A Educação Física ao nível da Educação
Intelectual”. Nele escrevi:
”Numa civilização em que se procura auscultar as preferências e as aspirações dos adultos por meio de inquéritos e estatísticas, num século em que as percentagens jogam papel quase dogmático, nota-se pouca preocupação em saber o que a criança quer, e dentro desse querer, condicionado pela experiência do adultos, orientá-la então por processos menos rígidos, menos intelectualizantes, de harmonia com as suas necessidades não só intelectuais como físicas, encarando a criança, enfim, na sua complexidade intelecto-físico-moral ( Jornal “Diário”, de Lourenço Marques, 23/08/1961).
Ora o exemplo do comentário que comento (passe a redundância)
não se encaixa em nenhum destes aspectos:
futebol profissional e Educação Física escolar. Reporta-se ele ao grande impulso dado ao Desporto Nacional
nos últimos anos que, em minha opinião, justifica e corporiza uma acção desenvolvida com muito
mérito pelos grandes clubes (como o exemplo por mim dado do eclectismo do
Sporting Clube de Portugal), pelos simples clubes de bairro, pelas autarquias,
pela própria pequenada que fazia uma
espécie de iniciação desportiva obedecendo a jogos tradicionais, que caíram em desuso, putos que saltavam e corriam nas ruas em que viviam, etc. Aí sim, a verdadeira génese
dos exemplos por si apresentados e por si adjectivados, com toda a propriedade,
como “um período de autêntico fulgor” comungando eu desta sua opinião acerca do desporto actual
relativamente a decénios atrás.
Desta forma, a nossa discordância parece-me ter sido só
aparente porque, como diria Fernando
Pádua, presidente do Instituto Nacional de Cardiologia Preventiva, “há sempre
um modo diferente de ver os problemas dependendo ‘del cristal com que se
mira’”! Ou seja, encarámos nós o mesmo problema por caminhos diferentes em que
ambos, por não serem paralelos, se encontram finalmente na nossa concordância com “um período de autêntico fulgor na história do Desporto Nacional”.
1 comentário:
A Filosofia também ajuda a explicar o golo de trivela do Quaresma.
Qual é a realidade e verosimilhança do golo?
São as equações da física dos meios contínuos?
São as imagens da televisão?
São as fotografias dos jornais?
É o grito de alegria do do relatador João Ricardo Pateiro?
Será um poema luso-português?
Benito di Paula consegue aproximar-se da resposta ideal quando canta:
Seria muito bom, seria muito legal
Se cantor ou compositor
Pudesse ser ator, ou jogador de futebol
Seria muito bom, seria muito legal
Se cantor ou compositor
Pudesse ser ator, ou jogador de futebol
Nem tudo pode ser perfeito
Nem tudo pode ser bacana
Quero ver o cara sentar numa praça
Assoviar e chupar cana
Nem tudo pode ser perfeito
Nem tudo pode ser bacana
Quero ver o cara sentar numa praça
Assoviar e chupar cana
A taça do mundo é nossa
Com brasileiro não há quem possa
A taça do mundo é nossa
Com brasileiro não há quem possa
P.S: Por favor, acrescentem a música.
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