quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

POLITÉCNICOS INSISTEM NA CRIAÇÃO DE DOUTORAMENTOS, E NÃO SÓ!



Com a devida vénia, transcrevo do “Jornal I” (22/11/2016), a  notícia intitulada “Superior. Marcelo sai em defesa dos politécnicos”, da autoria de Ana Patronilho:

“Numa altura em que se debate a transformação e o futuro dos politécnicos no ensino superior, o Presidente da República teceu esta terça-feira vários elogios a estas instituições.

Para Marcelo Rebelo de Sousa, “o país seria diferente” e “não se consegue sequer imaginar” como seria Portugal sem os politécnicos. O Chefe de Estado frisou ainda que os politécnicos têm um “papel único” no combate  ao desemprego e à desertificação do interior país.

Marcelo Rebelo de Sousa - que confessa ter um sonho de dar aulas num politécnico - lembra ainda que estas instituições contribuíram para a democratização do ensino superior. “Não há coesão territorial sem coesão social e foram os politécnicos que favoreceram a circulação social, possibilitando o acesso ao ensino superior de um maior número de pessoas, ajudando na sua progressão social, comunitária e pessoal”.

As declarações do Chefe de Estado foram feitas para uma plateia de professores e alunos do superior durante um seminário sobre “o contributo dos politécnicos para o desenvolvimento do país”, que decorreu na Escola Superior de Tecnologia da Saúde, em Lisboa, e que contou com a presença de vários ex-ministros da Educação, como Eduardo Marçal Grilo.

O encontro e o debate tiveram como pano de fundo as reivindicações dos politécnicos para oferecerem cursos de doutoramentos e para alterarem o seu estatuto para Universidades de Ciências Aplicadas (University of Applied Science), acompanhando uma tendência que dizem ser europeia.

Em carta enviada à tutela, em outubro, os presidentes dos conselhos gerais dos politécnicos defendiam que a impossibilidade terem doutoramentos “é uma penalização” e constitui “uma limitação ao serviço que têm capacidade de prestar ao país e às regiões em que se inserem, bem como para o seu próprio desenvolvimento institucional”.

Estas reclamações já antigas vieram unir novamente os politécnicos, depois de Lisboa, Porto e Coimbra terem entrado em rutura com as restantes 12 instituições, abandonando o órgão máximo de representação o Conselho Coordenador dos Politécnicos (CCISP).

O seminário procurou ainda analisar a duplicação dos cursos em funcionamento nas universidades e nos politécnicos e a qualificação do corpo docente”. 

Por desconhecimento presencial da reunião noticiada, começo por fazer referência à transcrição feita pelo Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas” (18/07/2016) do meu artigo saído no “Público” (11/07/2016), intitulado “Ensino Superior e Doutoramentos”;  e, depois,  tecer breves considerações motivadas pelas minhas muitas tomadas de posição contra esta pretensa igualdade de direitos sem contrapartida de deveres (por exemplo, o curso de formação de professores do 2.º ciclo do ensino básico habilita os seus diplomados a ministrarem as disciplinas de Matemática e Ciências da natureza enquanto que os respectivos cursos universitários apenas habilitam a dar aulas de Matemática ou de Ciências da Natureza). Aliás, os latinos utilizaram uma máxima que disso mesmo dá conta: Suum cuique tribuere!

Não enjeitando os versos de António Gedeão: “Onde Sancho vê moinhos / D. Quixote vê gigantes. / Vê moinhos? São moinhos. / Vê gigantes ? São gigantes”, pela análise do texto supracitado ficou-me o elogio merecido do papel desempenhado actualmente pelos institutos politécnicos não me parecendo que ficasse escrito branco no preto a anuência do Chefe de Estado, Professor Marcelo Rebelo de Sousa, às pretensões dos institutos politécnicos em atribuírem doutoramentos ou à mudança do seu estatuto de institutos politécnicos para “Universidades de Ciências Aplicadas”, para acompanhar uma tendência que os politécnicos dizem ser europeia. E aqui, sinto-me tentado a evocar dois ditados portugueses:. “Em Roma sê romano” e “Cada terra como  seu uso, cada roca com o seu fuso”.

Aliás, este assunto encontra-se encerrado pela tomada de posição pública ministerial em manter a desaprovação da atribuição de doutoramentos por parte do ensino politécnico. Continuar a insistir em tese diferente por parte dos politécnicos parece-me comparável, como costumo dizer, a continuar a serrar serradura!

5 comentários:

Rui Baptista disse...

Uma atrevida gralha pousou na última linha do meu texto: "cerrar serradura", não; serrar serradura, sim!

Rui Baptista disse...

Para evitar intoxicar o leitor com o meu "lapsus calami", acabo de corrigir, no próprio texto, a palavra cerrar por serrar.

Ildefonso Dias disse...

Por ora... por ora..., Professor Rui Baptista;
Nada de bom se pode esperar numa sociedade edificada pela estupidez, inveja e cupidez,... a razão e a justiça não tem ai lugar, falar em generosidade, nestas circunstancias de vida, subvertida de valores, é um erro que deturpa o significado da palavra.
Os perguicosos, os ineptos já se aperceberam que o melhor é nivelar pela mediocridade; Assim vão continuar.

Rui Baptista disse...

Engenheiro Ildefonso Dias: Num deserto de indiferença de licenciados por Universidades Públicas (escuso-me, por desnecessário, justificar a exclusão das privadas!), deparo-me com o oásis dos seus comentários. Toda esta situação existe, no caso dos licenciados universitários via Ensino, com o apoio sindical, nomeadamente da Fenprof, para benefício dos seus associados e de uns tantos dos seus dirigente que se profissionalizam e eternizam nas respectivas direcções.
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Há um ditado anglo-saxónico que nos diz que quando se dá um copo de leite a um rato logo ele exige um biscoito. Copos de leite têm sido dados aos politécnicos quando os seus diplomados de 2 anos de formação "exigiram" um bacharelato para daí partiram para uma licenciatura e mestrado. E, agora, aspiram três politécnicos (Lisboa, Porto e Coimbra) à outorga de doutoramentos e a sua transmutação do nome de politécnicos em universidades de ciências aplicadas. Que mais virá a seguir”!

Brevemente, penso tornar a este tema com a insistência declarada no título deste meu post por acreditar em Freud: “Um dia, quando olhares para trás, verás que os dias mais belos foram aqueles em que lutaste”!

Ildefonso Dias disse...

Permita-me aqui um desabafo Professor Rui Baptista, até porque o assunto parece que é actual, pelo menos para a SPM e para o seu presidente, o professor Jorge Buescu;

Estava eu à volta do prisma 5 (Matemática do 5. ano) que é mau demais, já aqui o escrevi. Num dos exercícios, n.5 b) da pág. 75, pede-se para medir a amplitude de um ângulo com auxilio do transferidor. Ora a medida do ângulo está a 3 graus da marca de 70 graus. Mas a medida, para quem saber usar o transferidor é de 67 graus (que é o objectivo do exercício, ensinar as crianças a usar o transferidor). Pasme-se senhor professor Rui Baptista que a solução do exercício no livro apresenta o valor de 73 graus, portanto leitura errada (má utilização do transferidor) por um dos senhores autores, a ESE de Viseu, que certifica o manual, também não sabe usar um transferidor? mas o que foi que certificaram?
Que vergonha!

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