sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Sobre os resultados do PISA

A Sociedade Portuguesa de Matemática distribuiu um comunicado sobre os recentes resultados PISA. Vale a pena ler:

SPM felicita alunos e professores pelos melhores resultados de sempre no PISA 2015


A Sociedade Portuguesa de Matemática (SPM) congratula-se com os resultados obtidos pelos alunos portugueses no Program for International Student Assessment - PISA 2015.

Portugal teve os melhores resultados de sempre nestes testes da OCDE, alcançando 501 pontos em Literacia Científica, 498 em Leitura e 492 em Matemática. Estes resultados estão integrados numa sequência crescente de dados em todos os domínios, registando-se, no caso da disciplina de Matemática, uma progressão média de cerca de 2,6 pontos por ano desde o ano 2000. Observa-se ainda que em Portugal, 95% dos alunos tiveram pelo menos 332 pontos, 75% tiveram 424 pontos ou mais, 50% tiveram pelo menos 495 pontos, 25% tiveram 561 pontos ou mais e 5% tiveram 644 pontos ou mais. Os valores dos percentis 50, 75 e 95 de Portugal são superiores aos da OCDE em 3, 8 e 10 pontos, respetivamente. Analisando os resultados por níveis de escolaridade, constata-se que em todos os anos se regista progressão positiva na sequência de dados desde 2000, salientando-se, no 3.º Ciclo, o 7.º ano de escolaridade.

A SPM felicita, em primeiro lugar, os alunos e os professores, que têm desenvolvido um trabalho meritório, muitas vezes em condições difíceis, no sentido de superar os maus resultados obtidos em 2000, aquando da primeira participação do nosso país neste estudo.

Em segundo lugar, congratula-se pelas decisões tomadas ao longo dos últimos 15 anos, que permitiram encarar este desafio com confiança e de forma empenhada. Essas decisões passaram pelo investimento de recursos na Educação mas também pela adoção de medidas decisivas. Entre elas, destacamos a implementação da avaliação externa, que possibilitou a cada escola - e portanto ao sistema em geral - ir acompanhando o desempenho dos alunos, corrigindo percursos quando necessário. Esta prática foi-se instalando progressivamente no sistema educativo português, com os frutos agora visíveis quer no TIMSS, com alunos do 4.º ano, quer agora no PISA com alunos de 15 anos. Note-se que, neste período de crescimento sustentado num período de 15 anos, foram igualmente determinantes muitos outros fatores que fizeram crescer a exigência e o rigor a todos os níveis: melhorou-se a formação de professores, enriqueceram-se os currículos e Programas, estabeleceram-se objetivos claros para o ensino – Metas Curriculares –, introduziram-se provas finais no final de cada ciclo do Ensino Básico e exigiu-se qualidade aos manuais escolares através do processo de avaliação e certificação.

Mas o trabalho em Educação nunca está terminado. O relatório do PISA 2015 evidencia bons resultados mas mostra também que não podemos diminuir o grau de exigência. Mostra que devemos continuar a trabalhar e a estabelecer medidas para que uma maior percentagem dos alunos portugueses tenha sucesso. Este relatório evidencia que uma maior percentagem de alunos deveria estar a frequentar o 10.º ano de escolaridade – ano modal do PISA – e não anos de escolaridade anteriores, por ter havido retenção.

A diminuição das taxas de retenção também é uma meta em que se tem investido e os últimos resultados apurados evidenciam uma melhoria. Se observarmos as estatísticas oficiais, no ensino básico, passou-se de 12,7% em 2000/01, para 7,9% em 2014/15 e, no ensino secundário, de 39,4% para 16,6% nos mesmos anos. Note-se no entanto que a diminuição das retenções deve traduzir uma real melhoria do desempenho dos alunos com mais dificuldades, e não ser decretada.

Em Educação não há milagres: o sucesso passa por professores bem preparados, bons programas e currículos, metas claras e rigorosas a atingir, bons manuais para estudar, e exames que monitorizem a aprendizagem.

No entanto, no dia em que foram anunciados estes resultados, já não há Certificação de manuais de Matemática, embora esteja a ser implementado um novo programa de Matemática no 12.º ano, já não há provas de avaliação no final dos 1.º e 2.º Ciclos do Ensino Básico e está em curso uma reforma que tem por objetivo reduzir em 25% os conteúdos curriculares a ensinar aos alunos.

Porquê desmantelar o que está a dar tão bons resultados?

A SPM está, como sempre esteve, interessada em contribuir para que o percurso português se faça de forma a aumentar os níveis de sucesso em Matemática e não concorda com visões catastrofistas e infundadas que há largos anos entendem as últimas mudanças curriculares como propiciadoras de futuros insucessos, em total dissonância com o que de facto se tem observado na prática desde que foram implementadas. Muito pelo contrário, a maior exigência sempre foi motivadora de sucesso se for conjugada com empenho de professores e alunos, tal como está a acontecer. Os resultados do TIMSS 4.ºano deram um sinal mais do que evidente de que se está no bom caminho, assim como os resultados agora conhecidos do PISA. Foram obtidos num contexto em que os novos Programas e Metas Curriculares estavam parcialmente implementados no Ensino Básico, e eram conhecidos há mais de três anos, constituindo uma orientação curricular fundamental para os professores de todos os níveis.

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