quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Elísio Estanque sobre a praxe


Entrevista da jornalista Lídia Pereira ao sociólogo Elísio Estanque sobre o seu mais recente livro "A Praxe" (FFMS) publicada hoje no jornal "As Beiras":

Que livro é este seu “Praxe e Tradições Académicas”? 

O livro procura responder e lançar um olhar mais profundo do que aquilo que são, normalmente, as notícias da comunicação social em torno deste fenómeno, porque me pareceu, ao longo de uma observação que já dura há longos anos, aqui em Coimbra, que ainda não existia.

Este seu olhar sobre este fenómeno já não é novo? 

Vem de há muito tempo e de um acompanhamento regular que eu tenho feito da realidade da Universidade de Coimbra e dos seus estudantes, do seu quotidiano e da maneira de se comportarem. Portanto, o tema surge, agora, não apenas por causa dos acidentes maiores e dos casos mais mediáticos, embora eles tenham tornado o tema de interesse público, a partir do momento em que ganharam visibilidade e que essa visibilidade se traduziu na revelação de contornos mais preocupantes associados direta ou indiretamente à praxe.

Uma visibilidade pública que ainda não tinha tido? 

Esses aspetos associados ao abuso, à humilhação, já vêm de trás, embora não com a gravidade que estes últimos assumiram. No livro, faço uma lista dos casos mais falados pela comunicação social ao longo dos tempos. Mas o fenómeno da praxe, para mim, sempre aconteceu com a preocupação de conhecer as subjetividades da atual juventude, numa sociedade que está em mudança e de uma universidade também em mudança muito profunda ao longo das últimas décadas.

 A sua preocupação é, portanto, mais sociológica? 

Para mim, a praxe é muito mais um meio do que um fim em si. Os rituais da praxe e outras tradições académicas e estudantis que eu também procuro captar, são mais uma forma de eu tentar compreender as subjetividades, os comportamentos, as atitudes, as expectativas, o modo de intervenção entre o indivíduo e o coletivo, na relação entre os estudantes e a universidade e a coletividade académica no seu conjunto. No sentido de mostrar o significado do que isto representa em termos da nossa juventude, da relação com a sociedade mais geral, com o associativismo, por exemplo, e também na relação dos jovens com a participação cívica e cultural.

O livro surge a propósito da adesão que constata relativamente à praxe? 

A razão do surgimento deste livro, agora, diz respeito ao facto de eu ter constatado que, independentemente da atenção que, em determinadas situações particulares, os media dedicam ao fenómeno, ou da indiferença com que as instituições o encaram quando não acontece nada de anormal, digamos assim, em Coimbra e noutras cidades pelo país fora, o fenómeno da praxe tem demonstrado uma adesão que me parece massiva e muito maioritária da generalidade dos estudantes.

Essa adesão merece, portanto, olhar mais atento? 

Quem observa isto e verifica uma adesão tão grande, chega à conclusão que o tema merece ser olhado com maior seriedade e merece ser analisado no sentido de perceber o que é que significa, o que é que nos diz das atuais tendências da sociedade. Isto com um olhar o mais possível objetivo, entre a visão anti praxista e a de adesão incondicional à praxe.

Partindo, então, para a análise e o debate necessários? 

Exatamente. É isso que o livro pretende. E é o que tem acontecido nas diversas sessões que já decorreram, em Coimbra, mas também nas universidades do Algarve ou da Beira Interior, na Covilhã, num debate que é necessário continuar.

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