segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Circunstâncias "excepcionais" tornadas "normais"

Fotografia de Graeme Robertson for the Guardian publicada aqui.

Foi hoje publicada no The Guardian uma notícia que, de alguma maneira, já seria de esperar: as muitíssimas câmaras de vigilância espalhadas pelas cidades - no caso, Londres - instaladas, primeiro, com o argumento de se poderem identificar deliquentes e, depois, com o argumento de se detectarem ameaças terroristas, são usados para registar - em audio e vídeo - hábitos quotidianos das pessoas comuns.

Refugiando-se na legislação recente que alarga a possibilidade de vigilância em "circunstâncias excepcionais" (quando absolutamente necessário para protecção da população face a ameaças extremas), diversas autoridades britânicas locais usam esses registos para identificar quem:
não cumpre regras ao passear os cães;
- alimenta os pombos de rua;
alega ser pai solteiro;
importuna vizinhos com barulho ou de outros modos;
acumula lixo no quintal ou não respeita a sua separação;
vende álcool e tabaco a menores de idade;
comete fraudes comerciais e falsificações;
- ...


Os responsáveis pela vigilância "de todos a todo o momento" alegam que esses e outros comportamentos não são nada inocentes pois afectam a vida da generalidade das pessoas. Atentando contra os direitos dos consumidores, constituíndo crimes ambientais, e configurando fraudes em termos de benefícios sociais, têm de ser descobertos. provados e punidos.

Quem detectou o "abuso" declara ser "absurdo que as autoridades locais se aproveitem de medidas destinadas a combater o terrorismo em questões tão triviais como o ladrar de um cão ou a venda de bilhetes de teatro".

Este é o futuro, que já é bem o presente.

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