quarta-feira, 22 de junho de 2016

Colóquio sobre a cultura e as língua clássicas no ensino básico

Representação da peça Prometeu Agrilhoado de Ésquilo pelo grupo de teatro Thíasos, 
do Instituto de Estudos Clássicos da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra
(Claustros da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da mesma universidade)  
(Fotografia de Belmiro Fernandes Pereira)

Para fazer face ao progressivo desaparecimento da cultura e das línguas clássicas do currículo escolar, em 2015, o Ministério da Educação/Direcção Geral da Educação entendeu acolher um projecto destinado ao Ensino Básico designado por “Introdução à Cultura e Línguas Clássicas”.

Trata-se de um complemento curricular que as escolas portuguesas podem integrar, como "Oferta de Escola", no seu Projecto Educativo.

Foi proposto por diversas entidades que se têm mostrado particularmente preocupadas com a situação de abandono dessa área de conhecimento civilizacional no nosso sistema de ensino: Associações de Professores, Departamentos Universitários, Centros de Formação de Associações de Escolas, Centros de Investigação e Escolas.

Um ano após a realização de um Seminário nacional de apresentação desse projecto, que teve a presença do então Ministro Nuno Crato, de representantes da Direcção Geral da Educação e de muitos directores, professores e estudiosos de todo o país, teve lugar no passado dia 4 de Junho, na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, um Colóquio internacional cujo objectivo foi fazer o balanço do trabalho desenvolvido durante o ano nas nossas escolas e traçar linhas de actuação para o futuro.

Foram convidados especialistas e professores europeus que deram o seu testemunho sobre o ensino das línguas clássicas nos seus países, onde, em virtude das recentes reorganizações do currículo, se faz sentir o mesmo problema.

Em nenhum deles, porém, a situação se compara com a portuguesa: em Itália o estudo da língua latina é obrigatório durante cinco anos, tanto para os alunos da área de humanidades como para os da área científica, enquanto o grego é apenas obrigatório na área de humanidades. Na Áustria também o latim é estudado por alunos de ambas as áreas, tal como na Bélgica. Em Espanha, o latim continua a ser obrigatório para os alunos de estudos humanísticos. Apenas em Portugal a disciplina de latim é opcional no ensino secundário e, na maior parte dos casos sem hipótese de funcionar, por não haver  número suficiente de alunos para que a escola possa abrir uma turma.

Foram igualmente convidados representantes das ciências, das artes, da pedagogia, que explicaram, nas suas intervenções, a importância da cultura e das línguas clássicas para o seu trabalho de investigação, de criação e de ensino.

A representante da Direcção Geral da Educação sublinhou essa importância e acentuou o valor formativo da mencionada área em níveis precoces de aprendizagem e ao longo da escolaridade.

Foi dado um lugar de relevo aos depoimentos das direcções das escolas e aos professores que integraram o projecto durante este ano lectivo e que, com entusiasmo, permitiram que muitas centenas de alunos do 1.º ciclo até ao 9.º ano fizessem uma viagem pela Antiguidade numa ligação com o Presente.

O modo diverso como o projecto foi apreendido e desenvolvido superou as expectativas dos proponentes, sinal de que ainda existem no sistema pessoas que podem concretizá-lo e que têm vontade de o fazer.

Tratou-se, enfim, de um bom começo.

O facto de ter agregado, por vontade própria, tantas entidades e tantas pessoas traduz um consenso muito louvável acerca da importância da cultura e das línguas clássicas no currículo que a escola deve proporcionar.

Esperamos que este bom começo venha a alterar o panorama do ensino secundário, onde o número de alunos que frequentam o latim e o grego é absolutamente residual.

Helena Damião, Isaltina Martins, Cláudia Cravo, Delfim Leão, 
José Luís Brandão, Alexandra Azevedo, Paula Barata Dias.

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