“De
repente, perante a obstinação dos que teimaram em acreditar na realidade, o
Portugal novo-rico transformou-se no Portugal novo-pobre. Pobre, porque pobre
na qualificação das pessoas” (António Guterres).
Existem actualmente 17 (dezassete) ordens profissionais.
A doutrina
legislativa que tem presidido à respectiva criação aponta estas, inequivocamente, stricto sensu, como associações públicas
que exigem uma formação académica superior dos seus membros que se possa
responsabilizar pela qualidade dos respectivos actos profissionais e pelo
estrito cumprimento de um código deontológico próprio.
Em tempos, a Fenprof, numa perspectiva
maniqueísta, pouco abonatória e elegante para com os profissionais tutelados
por ordens profissinais, considerou publicamente que os problemas de natureza
ética e deontológica “para serem assumidos
pela classe docente não necessitam da vigilância ou da orientação de nenhuma
ordem” ( Jornal de Notícias,
13/08)1998). Ou seja, de um lado os maus e desonestos profissionais a
necessitarem do “policiamento” dos respectivos pares; do outro, os bons e
honestos professores à rédea solta.
Este statu quo tem dado azo a que a voz dos professores se manifeste,
essencialmente, através dos sindicatos
de professores como se a nobre missão de ensinar se pudesse
circunscrever a questões meramente salariais ou de horários de trabalho. Deixando,
consequentemente, a responsabilidade das grandes e graves
questões educativas (de entre elas, o
sistema de avaliação dos alunos) para os
diversos ministros da Educação, que se têm sucedido em catadupa e que a
primeira coisa que fazem é desfazer o
que os seus antecedentes fizeram.
Embora reconhecendo a carga
política subjacente, por o seu autor
Paulo Rangel ser eurodeputado pelo PSD, o
artigo de opinião, saído ontem no Público, intitulado “O grande desastre educativo”, julgo
poder trazer novas achegas para a discussão, concordante ou discordante, sobre os exames que neste
blogue me mereceram dois posts “A velha polémica sobre os exames” (14/01/2016) e ”Ainda a velha polémica sobre os exames”
(16/01/2016).
Transcrevo parte do supracitado e extenso artigo por ser a prova que os exames não são tratados
como uma questão eminentemente do múnus docente, mas transformados numa questão política ( o próprio Mário Nogueira reconheceu publicamente quando confessou “estar a travar um combate
político-partidário”, “Jornal de Notícias”, 08/11/2008). Aliás, a Fenprof congratulou-se (pouco faltando
lançar foguetes de jubilo) com o seu fim anunciado, extemporaneamente, pelo
actual ministro da Educação, mais um dos que se vão sucedendo na 5 de Outubro,
sem a audição dos professores
representados por uma ordem profissional que os represente em bloco e não, como o acontecido, pulverizados por inúmeros sindicatos de
professores que os não representam na
totalidade. Reza esse excerto:
“O Primeiro-Ministro e o Ministro retomam a
outrora flamejante recusa dos exames como método de avaliação. Tudo começa por
uma impostação infantil a respeito dos exames. Tudo assenta na diabolização dos
exames e das capacidades que eles são adequados a avaliar. E no caso concreto,
assentou até num logro, num logro intencional: a ideia de que a avaliação feita
nos 4.º, 6.º e 9.º ano era exclusivamente determinada pelas provas de exame.
Ora, ao contrário da ideia que se fez passar, o resultado dos exames era apenas
uma fracção da avaliação e a sua influência efectiva na aprovação dos alunos
foi comprovadamente diminuta. Os exames são um método legítimo e útil de
avaliação: medem capacidades e qualidades – ou competências, como gostam de
pomposamente dizer os adeptos do “eduquês” – que outros tipos de avaliação não
são aptos a medir. E introduzem um factor de apreciação externa e homogénea que
permite colocar todos os discentes em igualdade de circunstâncias. De resto,
fomentam e desenvolvem a consciência de que, nas sociedades competitivas
hodiernas, há momentos especialmente determinantes em que o nosso grau de
ciência e de destreza é posto à prova. Que se saiba, os exames não fazem ainda
parte do museu dos instrumentos da tortura, dos registos da inquisição ou do
arsenal das polícias políticas. Nem implicam nenhuma violência psicológica
sobre as crianças. São um teste com exigências próprias, com dificuldades
inerentes, mas que correspondem às exigências e às dificuldades que os humanos
encontram na vida quotidiana. Achar que uma criança de 10, 12 ou14 anos não
pode fazer um exame, – que nem sequer é a fonte exclusiva ou principal de
avaliação – porque isso pode ser traumático, releva do mero preconceito e
revela uma visão desqualificada das crianças e dos jovens”.
Em face do exposto e “em nosso tempo, onde insultamos a democratização pela mediocratização
de tudo”, como escreveu o falecido académico de Física António Manuel
Baptista, tenho agendado, para breve,
um texto em que abordarei, mais detalhadamente, os argumentos que me levam a
persistir na necessidade da criação de uma Ordem dos Professores por mim
defendida no meu livro “Do Caos à Ordem
dos Professores (2004).
Aliás, criação que foi debatida por iniciativa do Sindicato Nacional dos Professores
Licenciados, em 2 de Dezembro de 2005, na Assembleia da República e que não vingou com o argumento de estar para breve uma
nova legislação sobre esta matéria. Criada que está essa legislação não seria
altura de criar esta associação profissional de direito público que dê voz ao sociólogo Francesco
Alberoni: “Na verdade a pedagogia que
nivela tudo por baixo no intuito de esbater as diferenças tem como consequência
tornar ignorante milhões de pessoas e não privilegiar aqueles que podem ir para
a universidade e para escolas de excelência com professores respeitados e
programas rigorosos; é por esta razão que há cada vez mais pessoas a quererem
uma escola mais séria, mais rigorosa, com professores preparados e mais
respeitados”.
2 comentários:
Este texto merecia muitos comentários. Infelizmente, as presidenciais levam-nos o tempo... Obrigado ao autor. Da Fenprof não vale a pena falar. Usurpou o poder, com o seu "mentor" bem instalado na direcção, mentor que nunca deve ter dado aulas, se é que é professor..., e só é de admirar que haja professores que se filiem em tal sindicato cujo contributo, em análise objectiva, tem sido bem negativo para a educação em Portugal e dignificação da classe docente. Quanto ao actual ministro da educação e governo que acabam com os exames, só não percebo porque ainda continua como ministro quando o povo o rejeita liminarmente.
Obrigado sobre o seu comentário. Brevemente, publicarei um outro sobre a Ordem dos Professores que espero merecer a sua atenção.
Só não posso deixar de lamentar que os professores (os verdeiros professores) não se pronunciem com os seus comentários (quer pró quer contra) sobre uma matéria que poderia valorizar uma profissão (ou mero exercício profissional) de que muito haveria a esperar no que tange à respectiva valorização e à melhoria do ensino em prol dos alunos.
Enviar um comentário