A leitura, como poderoso meio de acesso à cultura, quer para fruição
estética quer para adquirir conhecimentos, exige aprendizagem estruturada.
Aprender a ler implica passar da mera decifração de palavras à compreensão e interpretação
de textos de tipologia variada. É um facto que muitos alunos decifram sem
compreenderem o texto, pelo que não são evidentemente capazes de reproduzir o
que leram. A leitura representa o principal veículo para a aquisição de
conhecimentos transmitidos nas diferentes disciplinas escolares.
No ensino básico, há maior empenho nos textos literários do que nos
informativos. Como estes usam uma linguagem clara, precisa e objetiva –
diferente da linguagem daqueles, predominantemente conotativa, subjetiva e com
recursos expressivos – parte-se do princípio que é menor a exigência para a sua
compreensão. Dado o carácter transdisciplinar da leitura, a compreensão de
textos informativos deve ser ensinada, de forma direta e explícita, em todas as
áreas curriculares e não só na disciplina de Português.
Nos textos para obter informação de interesse geral, como notícias,
reportagens, roteiros e outros, basta habitualmente uma leitura superficial. No
entanto, já requerem uma leitura profunda os textos informativos, sobretudo didáticos,
para estudar, isto é, para organizar, reter e aplicar conhecimentos. Dentro
destes cabem os textos matemáticos, escritos na língua natural e em linguagem
matemática. Ora, para captar o conteúdo dum texto matemático, nomeadamente do
enunciado dum problema, é imprescindível “traduzir” a linguagem formal,
simbólica e universal da Matemática, o que cria uma dificuldade acrescida a
alunos já com deficiências na língua materna. Também, a simbologia da Física e
da Química afasta muitos alunos destas disciplinas científicas.
Quando o professor prescreve os clássicos trabalhos para casa, focaliza
a atenção do aluno na resposta às questões ou na resolução dos problemas, partindo
naturalmente do pressuposto de que o aluno recorrerá para tal não só à memória
e aos apontamentos da aula, como à leitura dos textos informativos do livro e
doutras fontes. Porém, muitos alunos dependentes, com dificuldade na compreensão
da leitura, nem sequer leem os textos com o objetivo específico de colher os
elementos necessários para responder ou resolver conforme o solicitado pelo
professor e muito menos leem todo o texto com a intenção de se apropriarem do
conteúdo.
A leitura compreensiva do texto informativo com a finalidade de
organizar, reter e aplicar conhecimentos envolve vários passos, que o
estudante, a partir do 2º Ciclo, deve executar, de modo autónomo em horário
extraescolar. Na pré-leitura, procede à localização do título do texto no
índice do livro/manual. Inicia, então, o verdadeiro ato de ler com a leitura de
síncrese para ter uma visão geral do tema. Em seguida, passa à leitura de
análise, em que salienta as ideias principais ou noções-chave. Remata com a leitura
de síntese, em que anota (ao lado) títulos que sintetizam as ideias principais
ou noções-chave, em blocos significativos. Trata-se de um processo dinâmico e
cíclico de autorregulação do estudo.
Para consolidação, deve registar (no caderno diário) o produto da
leitura, isto é, a informação organizada em esquema, conjugada com os
apontamentos da aula e doutras fontes. Sem organizar toda a informação, não
pode memorizar nem aplicar conhecimentos na resposta a questões ou na resolução
de problemas, com proficiência. Em suma, saber ler para estudar constitui um
pré-requisito essencial para o êxito académico e profissional.
Nuno Pereira (psiquiatra)
Sem comentários:
Enviar um comentário