quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

LEITURA DE ESTUDO

Texto, que agradecemos, recebido do nosso leitor (Nuno Pereira):

   A leitura, como poderoso meio de acesso à cultura, quer para fruição estética quer para adquirir conhecimentos, exige aprendizagem estruturada. Aprender a ler implica passar da mera decifração de palavras à compreensão e interpretação de textos de tipologia variada. É um facto que muitos alunos decifram sem compreenderem o texto, pelo que não são evidentemente capazes de reproduzir o que leram. A leitura representa o principal veículo para a aquisição de conhecimentos transmitidos nas diferentes disciplinas escolares.

   No ensino básico, há maior empenho nos textos literários do que nos informativos. Como estes usam uma linguagem clara, precisa e objetiva – diferente da linguagem daqueles, predominantemente conotativa, subjetiva e com recursos expressivos – parte-se do princípio que é menor a exigência para a sua compreensão. Dado o carácter transdisciplinar da leitura, a compreensão de textos informativos deve ser ensinada, de forma direta e explícita, em todas as áreas curriculares e não só na  disciplina de Português.

   Nos textos para obter informação de interesse geral, como notícias, reportagens, roteiros e outros, basta habitualmente uma leitura superficial. No entanto, já requerem uma leitura profunda os textos informativos, sobretudo didáticos, para estudar, isto é, para organizar, reter e aplicar conhecimentos. Dentro destes cabem os textos matemáticos, escritos na língua natural e em linguagem matemática. Ora, para captar o conteúdo dum texto matemático, nomeadamente do enunciado dum problema, é imprescindível “traduzir” a linguagem formal, simbólica e universal da Matemática, o que cria uma dificuldade acrescida a alunos já com deficiências na língua materna. Também, a simbologia da Física e da Química afasta muitos alunos destas disciplinas científicas.

   Quando o professor prescreve os clássicos trabalhos para casa, focaliza a atenção do aluno na resposta às questões ou na resolução dos problemas, partindo naturalmente do pressuposto de que o aluno recorrerá para tal não só à memória e aos apontamentos da aula, como à leitura dos textos informativos do livro e doutras fontes. Porém, muitos alunos dependentes, com dificuldade na compreensão da leitura, nem sequer leem os textos com o objetivo específico de colher os elementos necessários para responder ou resolver conforme o solicitado pelo professor e muito menos leem todo o texto com a intenção de se apropriarem do conteúdo.

   A leitura compreensiva do texto informativo com a finalidade de organizar, reter e aplicar conhecimentos envolve vários passos, que o estudante, a partir do 2º Ciclo, deve executar, de modo autónomo em horário extraescolar. Na pré-leitura, procede à localização do título do texto no índice do livro/manual. Inicia, então, o verdadeiro ato de ler com a leitura de síncrese para ter uma visão geral do tema. Em seguida, passa à leitura de análise, em que salienta as ideias principais ou noções-chave. Remata com a leitura de síntese, em que anota (ao lado) títulos que sintetizam as ideias principais ou noções-chave, em blocos significativos. Trata-se de um processo dinâmico e cíclico de autorregulação do estudo.

   Para consolidação, deve registar (no caderno diário) o produto da leitura, isto é, a informação organizada em esquema, conjugada com os apontamentos da aula e doutras fontes. Sem organizar toda a informação, não pode memorizar nem aplicar conhecimentos na resposta a questões ou na resolução de problemas, com proficiência. Em suma, saber ler para estudar constitui um pré-requisito essencial para o êxito académico e profissional.


                                                                         Nuno Pereira (psiquiatra)

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