“A
actuação de Ana Benavente nos governos de Guterres resultou nos piores
resultados escolares da Europa em matéria de sucesso escolar, e na base deste
falhanço esteve uma cedência permanente aos interesses da Fenprof” (Valter
Lemos, Público, 29.Fev.2008).
Começo por
transcrever integralmente um comentário que foi feito neste blogue ao meu post: “A
velha polémica sobre os exames” (jads,
22 de Janeiro último):“O que me
parece pouco sensato é partirmos do princípio que, não havendo exames, a escola
se vai relaxar e despreocupar-se com a busca da excelência. Quem classificava
aqueles exames são os mesmos professores que realizam e corrigem testes de
avaliação (ou outros instrumentos similares). Por norma, quando nada sei sobre
determinado assunto, não me ponho a disparatar”.
(Convém desde já esclarecer que os exames nacionais eram obrigatórios para toda população escolar e tinham peso na nota final dos alunos, enquanto as provas de avaliação não têm peso nessa avaliação e não são obrigatórias).
Pondo de lado alguns dos remoques ínsitos no referido comentário, aduzo o seguinte esclarecimento sobre o argumento de “quem elabora e corrige os testes de avaliação são os mesmos professores que realizam e corrigem nas escolas”. Há aqui um equívoco. Os exames nacionais eram elaborados por equipas de professores, mandatados pelo Ministério da Educação, destinando-se aos alunos de todas as escolas do país, em igualdade de avaliação de conhecimentos. Isto, para já, tinha a vantagem de impedir, de certo modo, que as escolas oficiais inflacionassem, sem qualquer controlo, as notas dos seus alunos para se posicionarem no topo dos respectivos rankings. E os colégios privados, com contratos de associação, pagos com os nossos impostos, tendo em vista o lucro, inflacionassem, igualmente, as classificações dos respectivos discentes. Ninguém se mete num negócio com o fim altruísta de amor ao próximo.
(Convém desde já esclarecer que os exames nacionais eram obrigatórios para toda população escolar e tinham peso na nota final dos alunos, enquanto as provas de avaliação não têm peso nessa avaliação e não são obrigatórias).
Pondo de lado alguns dos remoques ínsitos no referido comentário, aduzo o seguinte esclarecimento sobre o argumento de “quem elabora e corrige os testes de avaliação são os mesmos professores que realizam e corrigem nas escolas”. Há aqui um equívoco. Os exames nacionais eram elaborados por equipas de professores, mandatados pelo Ministério da Educação, destinando-se aos alunos de todas as escolas do país, em igualdade de avaliação de conhecimentos. Isto, para já, tinha a vantagem de impedir, de certo modo, que as escolas oficiais inflacionassem, sem qualquer controlo, as notas dos seus alunos para se posicionarem no topo dos respectivos rankings. E os colégios privados, com contratos de associação, pagos com os nossos impostos, tendo em vista o lucro, inflacionassem, igualmente, as classificações dos respectivos discentes. Ninguém se mete num negócio com o fim altruísta de amor ao próximo.
Embora os exames
nacionais tivessem pouco peso na classificação final do aluno (30%), com
receio que esse peso pudesse aumentar, logo surgiram os clamores de protesto. Que berraria não haveria para aí se os exames
chumbassem os alunos que não satisfizessem mínimos justificativos para a sua
passagem para um patamar superior de conhecimentos? Isto em obediência ao
princípio de Saint-Exupéry: "Se cada
tijolo não estiver no seu lugar não haverá construção".
Escuso-me por ora (mas fá-lo-ei se para tanto for solicitado) em
apresentar provas da ignorância com que chegam determinados alunos à
universidade. Com isto, não defendo (vade
retro, Satanás!) que se volte ao meu tempo de estudante liceal em que uma
classificação de 4 valores ou menor, ainda que mesmo logo no 1.º período de aulas, fazia com que o aluno perdesse o ano todo, sendo
enviado para casa para repousar do esforço de tal proeza!
E, muito menos, defendo as desumanas sevícias das palmatoadas com a “menina dos
5 olhos” ou do vexame de ser posto à janela da escola primária que dava para a rua com orelhas de
burro!
Bem eu sei que a
defesa da qualidade do ensino não me concede o apoio e, muito menos, me concede
a graça do aplauso (nem eu os procuro!) dos defensores das "Novas Oportunidades”,
das “Provas de acesso ao ensino superior para maiores de 23 anos”” e de outras
medidas quejandas para beneficiar os
cábulas dos diversos grupos etários e, essencialmente, para não traumatizar as pobres e indefesas
criancinhas.
Não! Não há que ter
medo em encarar o ensino como uma coisa séria e não como campo de experiências educativas, muitas vezes, em nome de simples estatísticas
que possam retirar o país do atoleiro de percentagens que nos envergonham no
espaço europeu.
A ex-secretária de
Estado da Educação Ana Benavente, vestal
do altar da missa contra os exames nacionais, no seu artigo “Exames para que te quero (“Público", 20/01/2016), não
encontra melhor argumento para diabolizar os respectivos defensores do que
endereçar um ataque a J. M. Tavares, acusado,
por ela, de dizer, “um chorrilho
de asneiras” (sic). De “pena ao vento”, como diria Eça, Ana Benavente
(com a intenção de tirar o sono a J. M. Tavares?), escreveu: “Deixei de ver o programa [deduzo tratar-se do “Governo Sombra” da TVI] e de o ler [pelo que também deduzo, no
“Público”] e espero não ser a única”.
Para os que, porventura, possam ter a memória curta, relevo um facto que (esse sim!), devia merecer o seu público repúdio. Ou seja, a retirada da exclusividade às universidades pela formação de professores para o ensino do 2.º ciclo do ensino básico das disciplinas de Matemática ou de Ciências da Natureza. Em generosa dádiva, atribuindo, igualmente, essa docência às escolas superiores de educação para o ensino da Matemática e das Ciências da Natureza. Ou seja, a melhoria do ensino passou a estar na razão inversa da exigência formativa dos respectivos professores!
Para os que, porventura, possam ter a memória curta, relevo um facto que (esse sim!), devia merecer o seu público repúdio. Ou seja, a retirada da exclusividade às universidades pela formação de professores para o ensino do 2.º ciclo do ensino básico das disciplinas de Matemática ou de Ciências da Natureza. Em generosa dádiva, atribuindo, igualmente, essa docência às escolas superiores de educação para o ensino da Matemática e das Ciências da Natureza. Ou seja, a melhoria do ensino passou a estar na razão inversa da exigência formativa dos respectivos professores!
Vá lá a gente
entender certas reformas, que se congeminam no cérebro brilhante de quem devia
ser responsabilizado por esta decisão sem ter em conta o legado de Erasmo de
Roterdão: “A principal esperança de uma
Nação reside na educação apropriada da sua juventude”.
Ao defender certos
princípios do passado sei que corro o risco de ser tido como ultra conservador
(ou mesmo bota-de-elástico) por parte de certos progressistas. Mas, neste ponto
de vista, estou bem acompanhado pelo historiador Fernand Braudel: “Tenho medo das pessoas que acham que
podem, da noite para o dia, agarrar a
sociedade, torcer-lhe o pescoço e fazerem uma nova”.
E por mais que um
mundo de bem-aventurança e hedonismo se anuncie para os educandos, através das miríficas mudanças do actual sistema de avaliação, anunciado, urbi et orbi, pelo novo ministro da Educação, defendo que a
formação da nossa juventude não deve
pactuar com um caminho de facilitismo que não prepare os alunos para a cada vez
mais competitiva vida adulta. O próprio
Mao-Tsé-Tung o sentenciou, com esta frase lapidar: “Um mundo demasiado plano não desenvolve os músculos das pernas”.
Em nossos dias, Mario
Perniola (filósofo e professor de Estética da Universidade Tor Verga de Roma) não se exime em escrever, sobre “as
imbecilidades no ensino de toda a ordem e graus”, o seguinte e demolidor texto:
“Os
fautores da tradição, que apelam para os valores, para o classicismo, para o
cânone, são postos de fora por esses funâmbulos, esses equilibristas, esses
acrobatas que também querem ser
eternizados no bronze e no mármore. E quem diz que o não conseguem? Há sempre
uma caterva de ingénuos prontos a escrever a história da última idiotice, a
solenizar as idiotices, a encontrar significados recônditos nas nulidades, a
conceder entrada às imbecilidades no ensino de toda as ordem e graus, pensando,
pensando que fazem obra democrática e progressista, que vão ao encontro dos
jovens e do povo, que realizam a reunião da escola com a vida”.
O ensino em Portugal
tem sido terreno úbere de reformas e
contra reformas que se sucedem em catadupa sem avaliar os seus efeitos num combate sem tréguas contra
os defensores da tradição. Prova-o o facto de cada vez que muda um governo, o governo que
lhe sucede não conseguir fugir ao fascínio de fazer obra nova.
Será porque, como
reconheceu Roland Barthes, haver a erótica do novo e o antigo ser sempre
suspeito? Ou será, recorrendo a Bernard Shaw, por os políticos imaginarem o que
desejam, quererem o que imaginam e, por fim, acreditarem no que querem? Ou será, ainda, na razão de Friedrich Nietzche, que muitos são os
obstinados que se empenham no caminho que escolhem, poucos o que se empenham no
objectivo? Ou será a conjugação de todos estes factores que tem influenciado a decisão
dos sucessivos ocupantes da pasta da
Educação?
Escreveu Mark Twain: “A profecia é algo muito difícil,
especialmente em relação ao futuro”. Aguardo, sem previsões antecipadas, mas
um tanto ou quanto desesperançado, o futuro que nos reserva a actual equipa do
ministério da 5 de Outubro, sob a tutela de Tiago Brandão Rodrigues.
P.S.: Ana Benavente e Valter Lemos
foram secretários de Estado da Educação do Partido Socialista nos
governos, respectivamente, de António Guterres e José Sócrates.
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