terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Educação e democracia - 1

Imagem retirada daqui
Faz um século, neste ano de 2016, que o famoso livro Democracia e Educação, de John Dewey, foi publicado.

Ainda que o modo de educar para a democracia proposto pelo filósofo e pedagogo seja discutível, e ainda mais o sejam muitas das apropriações que têm sido feitas desse modo, a ideia de que a escola tem o dever de educar para a democracia é indiscutível.

Uma das finalidades da escola é ensinar valores universais e a democracia está entre eles. Mais, a democracia, sendo uma invenção da humanidade, como todas as invenções da humanidade, se não for ensinada perece. E, mesmo sendo ensinada, não há garantias de que prevaleça; outras formas de organização social atávicas, que se fazem valer da força de imposição, são uma constante ameaça às formas de organização social baseadas no conhecimento, na escolha e na tolerância.

Estamos no campo da filosofia de educação, não no campo do doutrinamento. Educar para a democracia não é obrigar os alunos a fazerem esta ou aquela escolha que só eles, quando for altura e ocasião, devem fazer.

Outro filósofo, Fernando Savater, explica no seu livro O valor de educar (1997, Presença) esta diferença fundamental entre educar e doutrinar.
"(...) alguma «neutralidade» escolar seja justificadamente desejável, face às opções eleitorais concretas, oferecidas pelos partidos políticos (...). Terá de ser uma neutralidade relativa, sem dúvida, porque não pode recusar a consideração crítica dos temas do momento (...) ainda que deva evitar converter a sala de aulas numa fastidiosa e logomaquia sucursal do Parlamento. É importante que na escola se ensine a discutir mas é imprescindível deixar bem claro que a escola não é um foro de debates nem um púlpito (...) essa mesma neutralidade crítica corresponde, por sua vez, a uma determinada forma política, perante a qual não é possível ser neutral no ensino democrático: refiro-me à própria democracia. Seria suicida que a escola renunciasse a formar cidadãos democratas, inconformistas mas em conformidade com o que o modelo democrático estabelece, inquietos pelo seu destino pessoal mas não desconhecendo as exigências harmonizadoras do público. Na desejável complexidade ideológica e étnica da sociedade moderna (…) fica a escola como o único âmbito geral que pode fomentar o apreço racional por aqueles valores que permitem a convivência conjunta aos que são satisfatoriamente diversos. E essa oportunidade de inculcar o respeito pelo nosso mínimo denominador comum não deve, de modo algum, ser desperdiçada."

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