Minha selecção de "mentes brilhantes" apresentada no Público de hoje:
Em Portugal, onde a ciência tinha existido desfasada dos
países mais avançados, assistimos nas últimas três décadas a uma aceleração do
desenvolvimento científico. O número de cientistas e a sua actividade explodiram,
colocando-nos, pelo menos nalgumas áreas, a par do melhor que se faz no mundo. O
futuro passou aqui a chegar mais cedo.
É graças aos portugueses que fazem investigação científica
e tecnológica que hoje o futuro nos chega adiantado. Escolhi onze portugueses “fora
do tempo”. A selecção é pessoal, pois estou certo que outro poderia escolher
outros. No nosso país e infelizmente cada vez mais fora dele, numerosos cientistas
portugueses, nas mais diversas áreas, estão a preparar o mundo onde amanhã
todos nós vamos viver. A escolha, atenta a grandes temas da agenda da ciência,
procurou respeitar não só critérios de diversidade disciplinar mas também e
sobretudo de qualidade (não uso a palavra “excelência” pois ela foi
desacreditada). E ainda reflectir o contacto da ciência com outras esferas da
actividade humana como a economia, a gastronomia e o design. A ciência, que é a
descoberta do mundo (do qual, evidentemente, somos parte), tem tudo a ver com
as nossas vidas: é graças a ela que podemos viver mais e melhor.
Na Matemática, escolhi Margarida Melo, da Universidade de
Coimbra. Em 2014, pela primeira vez, a medalha Fields, o Nobel da matemática,
foi dada a uma mulher, é digno de registo que Portugal, que já tem dado matemáticas
ao mundo (por exemplo, Irene Fonseca, radicada nos Estados Unidos), tem matemáticas
de grande talento. A Margarida tem dado provas numa área abstracta - a Geometria
Algébrica – que permitiu avanços não só na matemática (um bom exemplo é o seu
uso na demonstração do último teorema de Fermat) como na física e na robótica.
Na Física, lembrei-me de Nuno Peres, da Universidade do
Minho, o cientista português cujo trabalho mais impacto teve na última década
(o seu centro de investigação foi chumbado na recente avaliação da Fundação
para a Ciência e Tecnologia, o que mostra a estultícia de todo o processo). O
Nuno estuda nanotubos, um material do futuro, tendo escrito artigos com os Nobel
da Física de 2010 Andre Geim e Konstantin Novoselov. O potencial de aplicação
desses fios de carbono é vastíssimo, da energia fotovoltaica aos ecrãs de
computador.
A ciência moderna é interdisciplinar. Na fronteira entre a
Astronomia e a Biologia, a Astrobiologia é uma das áreas com maior interesse.
Grandes questões da ciência são: “Há vida fora da Terra?” e “Como surgiu a
vida?” Zita Martins, do Imperial College de Londres, trabalha neste domínio.
Além de procurar vida em meteoritos vindos do espaço, a Zita comunica ciência
no espaço mediático. Os jornais, rádios e televisões britânicas conhecem-na.
João Ramalho Santos, um biólogo da Universidade
de Coimbra, trabalha em biologia da reprodução, estudando o funcionamento de espermatozóides, ovócitos e células estaminais
embrionárias. Estas células são uma das grandes promessas para aplicação
médicas futuras. Não satisfeito com a sua actividade científica, o João escreve
ficção e é apaixonado pela banda desenhada.
No campo da Biologia Marítima, que contacta com a
biodiversidade e com a candente questão do aquecimento global, escolhi José
Xavier, das Universidades de Coimbra e de Cambridge, que é o português que
viveu mais tempo na Antárctida. A sua extraordinária experiência está contada
no recente livro Experiência Antárctida
(Gradiva). O José gosta de ir a escolas, comunicando com entusiasmo a sua
ciência.
Na biomedicina, onde abundam os valores, escolhi uma jovem
esperança, Sónia Melo, da Universidade do Porto. Formada no GABBA, programa de
pós-graduação daquela Universidade (que tanto deve a Maria de Sousa), a Sónia
procura novas formas de diagnóstico e
monitorização do cancro – incluindo aspectos como a criação de
metástases e a resistência às terapias – que podem conduzir à aplicação de
tratamentos mais dirigidos a cada paciente, a “medicina personalizada”.
No cruzamento da biomedicina e da ciência de materiais,
destaco no ataque a tumores cancerígenos o trabalho de Manuel Coelho,
engenheiro da Universidade do Porto, que coloca moléculas com actividade
anticancerígena dentro de nanopartículas de ouro que são dirigidas a tumores do
pâncreas e da próstata.
Nas ciências sociais e humanas (que cresceram sobremaneira
nos últimos trinta anos), nomeio Sofia Aboim, da Universidade de Lisboa, que
tem estudado temas como as gerações e as transições familiares, focando
questões de género e a sexualidade, bem como os processos de discriminação
social e as migrações. Uma bolsa europeia recente vai-lhe permitir estudar a
transsexualidade.
Na actividade económica, onde entre nós o papel da ciência
ainda deixa a desejar, destaco João Pires da Cruz, físico de formação, mas
também empresário. Dirige uma empresa de consultadoria em Lisboa que, remando
contra a maré, contrata doutorados. O João resolve problemas complexos de
outras empresas enquanto realiza investigação em física de sistemas complexos,
com óbvias aplicações à economia. Pratica esgrima, modalidade em que foi
campeão.
O percurso de Joana Moura é surpreendente. Formada em
Arquitectura, resolveu mudar de vida: aprendeu química e dedicou-se à
gastronomia molecular. Criou com quatro cientistas uma empresa e trabalha
actualmente, em Lisboa, no Restaurante Belcanto do chef José Avilez, o top de estrelas Michelin em Portugal. Nos actuais
ensaios da Joana, que combinam ciência com arte, poderá estar, pelo menos em
parte, a alimentação do futuro.
Também curiosa é a trajectória de Miguel Rios, especialista
em Design e Tecnologia (que já ensinou na Universidade de Aveiro). Dedicou-se a
produzir vestuário inteligente pela
integração de dispositivos tecnológicos que garantem novas funcionalidades.
Refira-se o I-Garment, uniforme para
bombeiros apoiado pela Agência Espacial Europeia.
O escritor Milan Kundera escreveu: “Existe uma parte de
todos nós que vive fora do tempo.” Nesta selecção nacional essa parte é a maior
parte. Kundera escreveu também: “O valor de um ser humano reside na sua
capacidade de ir além de si próprio, de sair de dentro de si, de existir não só
dentro de si como para os outros”. É precisamente essa a capacidade dos onze cientistas
e artistas que o PÚBLICO entrevistou. Escutemo-los para não sermos totalmente
surpreendidos pelo futuro.
2 comentários:
Este post mostram bem as faltas deste fulano. Não só é de uma pretensão insuportável ( quem é ele para supor que pode julgar ou aferir da qualidade dos investigadores portugueses? quem e ele para supor que sabe de todas as áreas quando nem a sua é reconhecido?), como dá-se ao despudor de escolher alguns cujo cv científico é miserável, tal como o seu amigo João Pires, como esquece alguns que, até por acaso, publicam com os melhores e sobre o tempo. Esperemos que nunca chegue ao seu cargo ministral ou isto vai ser um desastre moral.
Que leitura agradável. Coisas novas, diferentes formas de pensar e fazer. É bom olhar em volta e mesmo no meio de tanta contrariedade, encontrar quem acredita e faz.
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