Há poesia na ciência e há ciência na
poesia.
A propósito do dia
internacional da poesia que se celebra hoje, dia 21 de Março, partilho quatro poemas em que
a ciência está presente.
Do químico conimbricense João Paiva, professor
na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, o poema “Densidade”
publicado no seu livro “quase poesia quase química” (2012):
Quando me
centro em
mim,
cresce a
minha densidade.
Mais massa
no mesmo
volume
das minhas
possibilidades.
Cheio,
deixo de
flutuar.
Da poetisa e professora
de físico-química aposentada, Regina Gouveia, o poema “Silêncio Cósmico”:
Pudera eu regressar ao silêncio infinito,
ao Cosmos de onde vim.
no espaço interestelar, vazio, negro, frio,
havia de soltar um grito bem profundo
e assim exorcizar todas as dores do mundo.
Do escritor açoriano Vitorino Nemésio, do livro “Limite de
Idade” (1972), o poema “Deutério
moderador”:
Deutério
moderador
(Para
alguns água pesada)
De
teus dedos me dirija
A
reacção encadeada.
Que
eu só acelero por Amor
Por
morrer com Energia.
Não
chores mais, flor do isótopo,
Que
tudo isto é poesia
E
tempestade num copo
De
H2O+ bem comum:
Sem
número de massas nem Z antes,
Que
seu destino é nenhum.
E termino com o incontornável António Gedeão, pseudónimo de
Rómulo de Carvalho, com o seu poema “Máquina do Mundo”, do seu livro “Máquina
de Fogo” (1961):
O Universo é feito essencialmente de coisa nenhuma.
Intervalos, distâncias, buracos, porosidade etérea.
Espaço vazio, em suma.
O resto é matéria.
Daí, que este arrepio, este chamá-lo e tê-lo, erguê-lo e defrontá-lo,
esta fresta de nada aberta no vazio,
deve ser um intervalo.
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