Texto publicado na imprensa regional, elaborado a partir de um artigo do professor Carlos Fiolhais.
Comemorados os 40 anos
do 25 de Abril, importa fazer um breve balanço da evolução da ciência em
Portugal durante estas quatro décadas de democracia.
A história mostra que a
ciência sempre evoluiu mais intensamente em sociedades livres e democráticas e
isso mesmo aconteceu também entre nós. Vejamos alguns factos.
Com a implementação da
democracia a 25 de Abril 1974 e com a entrada de Portugal na CEE (actual União
Europeia) a 1 de Janeiro de 1986, viram-se reunidas condições para um
desenvolvimento extraordinário, e sem precedentes, da ciência entre nós. A isso
não é alheia a transferência para Portugal de consideráveis fundos europeus que
foram usados para apoiar um crescente número de investigadores e edificar
infraestruturas para a produção científica.
Neste contexto, é
incontornável a criação em 1995 do Ministério da Ciência e Tecnologia e em 1996
da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT). Com um ministério para a
ciência e com uma entidade, a FCT, para atribuir e coordenar o apoio para a
investigação científica, o país assistiu a um aumento exponencial no número de
cientistas a investigar em instituições portuguesas. Pode dizer-se que há mais
cientistas portugueses nestes últimos 40 anos do que em toda a história de
Portugal.
Verificou-se também uma
grande internacionalização. Exemplo disso foi a adesão de Portugal a vários
organismos científicos internacionais como o CERN - Centro Europeu de Pesquisa
Nuclear, a ESA - Agência Espacial Europeia e o ESO - Observatório Europeu do
Sul.
Foram criados vários
Laboratórios Associados de excelência. O primeiro foi o Centro de Neurociências
e Biologia Celular da Universidade de Coimbra (CNCUC) a que se seguiram outros.
Mostremos alguns
indicadores da evolução de se fala. O investimento em investigação e
desenvolvimento cresceu de 0,3% no início dos anos de 1980, para 1,5% em 2012
(dados da PORDATA, base de dados de Portugal contemporâneo da responsabilidade da Fundação
Francisco Manuel dos Santos).
Em 1981 doutoraram-se
110 pessoas, sendo que em 2012 esse número aumentou cerca de vinte vezes para
2209. O número de publicações científicas em revistas indexadas, que foi de 3,9
por cem mil habitantes no ano de 1982 passou para 156,7 por cem mil habitantes
em 2012, cerca de 40 vezes mais!
A cultura científica
também se democratizou e desenvolveu entre nós. A editora Gradiva, com a colecção Ciência Aberta criada
no princípio dos anos 80, tem feito um trabalho de divulgação científica
através do livro, tendo publicado mais de 200 títulos.
Com a democracia, os
órgãos de comunicação social começaram a dedicar espaço à Ciência como nunca o
tinham feito antes. Recentemente, através do programa Ciência na Imprensa Regional, tem também aumentado significativamente a difusão de cultura científica através destes periódicos.
A Ciência Viva – Agência
Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica, criada em Julho de 1996, tem
promovido a cultura científica junto dos cidadãos através da criação e apoio a
vários centros ciência viva espalhados por todo o território nacional.
Em resumo, a ciência
evoluiu em Portugal como poucas outras áreas da nossa sociedade. Apesar disso,
ainda não atingimos valores da média europeia pelo que é muito importante não
se diminuírem os apoios à actividade científica nas suas diversas componentes. Não devemos dar-nos ao luxo de perder o que
conseguimos nestes 40 anos. É que o conhecimento, neste caso o científico, é a nossa maior riqueza.
António Piedade
1 comentário:
Já anunciado, concretizou-se agora...
http://www.publico.pt/portugal/jornal/brasil-obriga-estudantes-a-riscar-portugal-26484325#/0
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