Em tempos mais recentes, a situação do país tem sido, pode dizer-se, de impasse. Impasses há sempre e de muita natureza, mas em certos momentos instalam-se certos tipos de impasses onde "parece jogar-se tudo - afectos, inteligência, ideais, ideologias..." A passagem que se segue, do livro dos filósofos Fernando Gil, Paulo Tunhas e Danièle Cohn, é muito esclarecedora.
"Sabemo-nos certos de que vale a pena defender o modo de viver ocidental (...). E estamos quase certos de que esse modo de viver está ameaçado. Respiraremos de alívio se nos for mostrado o contrário (...).
Desgraçadamente o debate parece hoje impossível, e esse é um dos nossos fios condutores. Estamos numa situação parecida com o que Jean-François Lyotard qualificou pela palavra diferendo, cujo sentido ecoa em impasse. Um diferendo mais é uma contenda, nem um diálogo de surdos por não haver uma medida comum às posições que se afrontam. No diferendo há medida comum, fala-se das mesmas coisas. Mas um nó cego faz com que cada uma das posições seja inaudível, inteiramente inaudível, para a outra. Por isso o diferendo contém uma quota-parte de mistério - é estranho que ele possa existir entre embarcados no mesmo barco. Mas é assim. Pelo nosso lado, confessamos não compreender, simplesmente não compreender, a insensibilidade por tantos assumida relativamente aos perigos que nos rodeiam. Como não entendemos o gosto em procurar confirmações de crenças ideológicas que, a verificarem-se, não seriam menos terríveis para o adepto da ideologia do que para o seu adversário )o barco é mesmo o mesmo, in our name, pese a quem pretender o contrário).
Porém (...) a estranheza diminui ao darmo-nos conta de que muitas vezes a controvérsia recobre uma má-fé que, ela, resulta de decisões mais ou menos inconscientes. Não que a liberdade do sujeito seja menos enigmática (ela é uma interrogação perene na filosofia), sobretudo quando a má-fé se transforma em epidemia. O nome desta última é niilismo, e foi diagnosticada há muito tempo. Mas o bloqueamento das posições não é necessariamente definitivo - por isso preferimos dizer impasse (...)
No conflito actual parece jogar-se tudo - afectos, inteligência, ideais, ideologias (...)."
sábado, 6 de abril de 2013
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3 comentários:
Não me digas que não, que é cedo ou tarde, não me fales por enigmas, embora eu não me canse.
Que a seguir ao impasse não venha o trespasse.
Da dignidade, pelo menos.
re passe.
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