O problema da liberdade, e da educação moral que lhe é correlativo, ou, inversamente, a educação moral que aponta à autonomia do juízo e, portanto, à liberdade, tende a rodar no vazio.
E descontrolada por ausência de pontos de fixação, quer no que diz respeito a princípios, quer quanto a fins, ou seja, nos pontos onde devia haver segurança e estabilidade reina a indeterminação e o vazio.
Daqui a necessidade de assumir (de novo) a educação como dever.
É a única via, se querermos homens livres, isto é, moralmente responsáveis.
Mas, onde ir buscar a convicção, que falta, se há uma fragilização dos princípios e um desaparecimento das grandes finalidades?
Estamos numa situação de impasse por via da diluição dos princípios consumada numa pós modernidade cuja subjectivização levou ao «politeísmo axiológico», de que fala Cortina (1995) e que fez perder a crença nas finalidades salvadoras, quer
teológicas, quer político-sociais.
Como encontrar as forças suficientemente mobilizadas para a recuperação?
Voltando a nós próprios. Não há outra solução.
Se a liberdade se cumpre em cada acto concreto, porque é uma possibilidade
em cada acto e só nele, solicita uma ideia, decorre de uma
inteligência. E isto tem que
ser percebido por nós, (re)aprendido e exercitado e equilibrado por nós, para a podermos proporcionar às novas gerações.
João Boavida
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9 comentários:
Professor João Boavida;
Mas o senhor considera possível a existência de “homens livres, isto é, moralmente responsáveis” sem que o problema económico esteja resolvido em primeiro lugar?
Porque não fala abertamente no seu texto no problema económico?!
Transcrevo o Professor Bento de Jesus Caraça:
[…] “A aquisição da cultura significa uma elevação constante, servida por um florescimento do que há de melhor no homem e por um desenvolvimento sempre crescente de todas as suas qualidades potenciais, consideradas do quádruplo ponto de vista físico, intelectual, moral e artístico; significa, numa palavra, a conquista da liberdade.
E para atingir esse cume elevado, acessível a todo o homem, como homem, e não apenas a uma classe ou grupo, não há sacrifício que não mereça fazer-se, não há canseira que deva evitar-se. A pureza que se respira no alto compensa bem da fadiga da ladeira.
Condição indispensável para que o homem possa trilhar a senda da cultura – que ele seja economicamente independente. Consequência - o problema económico é, de todos os problemas sociais, aquele que tem de ser resolvido em primeiro lugar. Tudo aquilo que for empreendido sem a resolução prévia, radical e séria, desse problema, não passará, ou duma tentativa ingénua, com vaga tinta filantrópica, destinada a perder-se na impotência, ou de uma mão-cheia de pó, atirada aos olhos dos incautos.”.
Cordialmente,
Meu Caro Ildefonso Dias
Obrigado pelo seu comentário. O texto "Voltando a nós próprios" é uma pequena parte de um artigo bastante maior que a profª Helena Damião achou por bem repescar. Tem que ver com a situação atual de uma dupla fragilidade: ao nível dos princípios éticos, que falham um pouco por todo o lado, e ao nível dos grandes objetivos da vida, que norteiam e dão razão de ser às pessoas e orientam as suas atitudes, e que atualmente se tornaram débeis e difusos. É um dos grandes problemas morais do nosso tempo. E por isso é preciso encontrar em nós mesmos a revitalização destes dois vetores, tendo em conta a descrença generalizada que há hoje, quer a nível teológico quer politico-social.
Tendo em conta isto, tem razão no que diz, mas só em parte. É claro que é fundamental ter autonomia social e económica para poder ter autonomia moral; todas as formas de dependência e de falta de autonomia são fatais para uma vida moral pessoal e livre. Como dizia uma antiga familiar que eu tive, a falta de dinheiro torna as pessoas tolhidas e atrofiadas, isto é, tira-nos autonomia. Toda a gente sabe isto. Mas, por outro lado, ter dinheiro e ser autónomo social e economicamente está longe de, só por si, dar autonomia moral e exigência de comportamento coerente, coisas que a ética pessoal exige. Bento de Jesus Caraça tem razão quando diz que é necessário resolver os problemas económicos e sociais básicos, e que sem autonomia económica as outras formas de autonomia ficam reduzidas ou desaparecem simplesmente. Mas, se estamos à espera de resolver primeiro os problemas económicos para, depois, resolver os morais, deixaremos dois terços do mundo, pelo menos, sem comportamentos éticos. O que seria terrível, tanto em termos pessoais como sociais. Por outro lado, e felizmente, não é isso que acontece, as pessoas, mesmo pobres e carenciadas, têm exigências éticas e princípios de ação, mesmo quando não pensam nisso, e por vezes com mais coerência e exigência do que entre os abastados, como todos sabemos também. Embora muito importante, a variável económica é uma entre muitas outras, o que quer dizer que há muito mais coisas a considerar.Todavia o grande fator a considerar, quer com dinheiro quer sem ele, é a educação, sobre isto é que ninguém pode duvidar.
Professor João Boavida;
Só agora verifiquei que respondeu ao meu comentário, o que lhe muito lhe agradeço.
Mas tenho de lhe dizer que discordo do senhor precisamente naquela parte em que não concorda com o que eu digo, ou só concorda em parte.
E isto porque o senhor Professor surge aqui numa posição de cedência ou aceitação do "Deus-Produção" de que nos fala BJC julgando assim ser possível resolver os problemas morais e éticos!!!
Ora Professor João Boavida, esses problemas não são passiveis de resolução paredes-meias com o "Deus-Produção". Infelizmente mas não são, porque ele não deixa.
E o senhor Professor João Boavida não sabe isso.
"Mas os deuses, porque são deuses, tudo é permitido, mesmo o actuar fora das condições minimas da razão, agravando assim, por sua conta, um dos piores defeitos dos homens. Ora se há deus caprichoso no seu anti-racionalismo é o Deus-Produção."[Bento Caraça - Um Dobre a Finados]
Cordialmente,
Aditamento: A frase "E o senhor Professor João Boavida não sabe isso" é uma pergunta que quero deixar, falta-lhe o respectivo ponto de Interrogação.
Claro que sabe, é como eu penso.
Repare Professor João Boavida, no post de Helena Damião:
http://dererummundi.blogspot.pt/2013/04/nao-e-o-primeiro-caso-nao-sera-o-ultimo.html#comment-form
A Professora Helena Damião inicia o seu post desta forma "Na contemporaneidade, no mundo ocidental, escolarizado, ordenado e asséptico, exploram-se, até onde a imaginação pode alcançar, corpos e sentimentos para gáudio, diversão, júbilo público..."
Existe um comentário onde é dito "Eis um tema que merece ser aprofundado: as estratégias de fabricação de audiências para os 'reality shows'. Cuja psicologia da degradação merece ser estudada e criticada."
Bem vê Professor João Boavida como diz BJC " Mas o Deus-Produção exige sempre mais; é a sua lei interna, a condição necessária de vida, o crescer, o estender-se."
Cordialmente,
Professor João Boavida;
Tenho a necessidade de lhe pedir desculpa.
Não porque exista falta de franqueza e sinceridade nas minhas palavras, mas porque tenho a sensação de que elas podiam ter manifestado a minha discordância de forma diferente, mais cordata e amena.
Professor João Boavida, recorda-me aquele testemunho do Professor Sebastião e Silva (que eu gostaria muito que o Senhor lê-se) intitulado “Pela primeira vez a matemática surgia aos meus olhos como um edifício completamente racional” sobre o Professor Bento de Jesus Caraça.
É um texto magnifico, que é, ou deveria, sem duvida alguma, fazer parte do Património Cultural e Cientifico, nele estão bem patente a grandeza e riqueza das personalidades invulgares destes dois homens e cientistas.
Deve haver poucos países que se possam orgulhar de dizer que tiveram “filhos” desta dimensão intelectual e moral.
Mesmo em países onde existiram e existem os grandes nomes da ciência (cientistas).
Penso que o DRN deveria publicar esse magnifico depoimento sobre a forma de post.
Esse depoimento deveria ser um orgulho nosso, de todos os portugueses.
Obrigado Professor João Boavida, e creia-me um admirador seu que valoriza muito o seu trabalho no DRN.
Meu Caro Ildefonso Dias
Não precisa de pedir desculpa pelo que disse. O que me parece é que estamos frequentemente em diferentes comprimentos de onda, o que o leva a pensar que eu penso isto e aquilo quando poderei estar eventualmente mais perto de si do que julga. Não significa propriamente que tenhamos ideologias que nos afastam mas sim que há pontos de vista que, sobre os mesmos problemas, os parecem modificar quando não são mais que outras perspetivas das muitas que se podem e devem tomar. O mal das ideologias está precisamente no perigo de nos obrigar a ver os problemas por uma perspetiva estreita quando, a maior parte das vezes, eles precisam da conjugação de muitos pontos de vista para serem interpretados e compreendidos como deve ser. As ideologias, se, por um lado, ajudam a interpretar e nos dão uma sensação de segurança e de clarividência, são, por outro, tendencialmente rígidas e gostam de dogmatizar sobre a realidade.
Muito Obrigado Senhor Professor João Boavida.
Sinto com alívio que não está magoado comigo, é a sua estrutura de homem bem formado que não consente esse sentimento. Aquela que eu temia ter magoado.
P.S.: Vou enviar para o DRN aquele texto de que lhe falei, e que mais não é que uma confirmação daquilo que o senhor escreve “Diz-me o que lês (ou leste) dir-te-ei quem és”, é uma das maiores verdades que se pode dizer sobre educação e formação em geral." e que naturalmente eu sou beneficiário.
Um Abraco Amigo,
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