Numa era em que as pseudociências e o criacionismo se enraízam na superficialidade tornada de fácil consumo pelas novas tecnologias da informação, e em que esta informação tem evolução acelerada, importa ter acesso a bons livros que nos possam dar guarida para pormos os pés (a consciência e o pensamento) em terrenos firmes, férteis sobre um dado assunto, sem perder a criatividade, fortalecendo assim o direito à liberdade de expressão, bem como ao livre pensamento. Mas com a responsabilidade que define a própria liberdade. E o assunto da própria evolução da vida merece a nossa maior atenção, principalmente porque há excesso de má informação a circular sobre esta matéria. Matéria esta que é de importância central para o bom funcionamento das nossas diversas actividades, do nosso relacionamento com a vida do e no planeta Terra.
Enquadra-se neste contexto o excelente livro «A Evidência da Evolução – Porque é que Darwin Tinha Razão», de Jerry A. Coyne, recentemente editado
pela Tinta-da-china e cujo original é de 2009, foi
traduzido por Paula Almeida e teve revisão científica de Martin P. Melo do CIBIO
(Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos). Jerry A. Coyne
é professor no Departamento de Ecologia e Evolução da Universidade de Chicago (EUA)
e um activo e excelente divulgador de ciência em geral, e da evolução em
particular, para o grande público (ver http://whyevolutionistrue.wordpress.com/).
(Ver aqui a apresentação que o Professor Carlos Fiolhais fez deste livro)
(Ver aqui a apresentação que o Professor Carlos Fiolhais fez deste livro)
A leitura desta obra interdisciplinar recomenda-se a todos, pois para além de
ser de agradável leitura, consegue tornar compreensíveis os conceitos
envolvidos na evolução das espécies, fornecendo inúmeros e esclarecedores exemplos
e factos actualizados sobre esta realidade.
Ao longo de nove capítulos (1 - o que é a evolução; 2 –
Escrito nas rochas; 3 – Resíduos: vestígios, embriões e organismos mal
concebidos; 4 – A geografia da vida; 5 – O motor da Evolução; 6 – De que forma
o sexo acelera a evolução; 7 – A origem das espécies; 8 – Então e nós?; 9 – A evolução
revisitada) de notas oportunas e de um glossário útil para refrescar a memória,
o leitor é confrontado com uma escrita alimentada por raciocínios lúcidos e
rigorosos sobre milhões de anos de evolução da vida neste planeta.
A actualidade e robustez dos argumentos expressa-se não só
nos mais recentes registos fósseis encontrados, mas também nos novos dados e
confirmações que a genética moderna tem fornecido. A moderna biologia celular e
molecular tem permitido confirmar a teoria da selecção natural de Darwin, e
também entender o motor da evolução. O autor explica-nos, com simplicidade e
rigor, os mecanismos genéticos subjacentes à evolução das coisas vivas. E
também a nossa própria evolução.
Precisamos de bons livros para compreendermos melhor a importância da
biodiversidade, como ela surgiu e evoluiu, e a nossa relação com a vida no único planeta de que temos
conhecimento em que ela evoluiu. Este é um desses bons livros.
Não posso deixar de replicar aqui a acutilante opinião do prestigiado biólogo
Richard Dawkins sobre este livro: «Quem não acredita na evolução ou é estupido,
ou é louco, ou não leu Jerry Coyne.»
António Piedade
Dados Bibliográficos
Título: A
Evidência da Evolução – Porque é que Darwin Tinha Razão
Autor: Jerry
A. Coyne
Editora: Tinta-da-china
Tema: Ciência
Tradução: Paula Almeida
Co-edição: CIBIO | Serralves
Adaptação: Martim P. Melo
1.ª edição: Outubro de 2012
N.º de páginas: 376
Tipo de capa: Capa mole
Formato: 14x21 cm
ISBN: 9789896711337
Tradução: Paula Almeida
Co-edição: CIBIO | Serralves
Adaptação: Martim P. Melo
1.ª edição: Outubro de 2012
N.º de páginas: 376
Tipo de capa: Capa mole
Formato: 14x21 cm
ISBN: 9789896711337
9 comentários:
É uma pena que comece logo com um erro no título: "Porque é que Darwin tinha razão?", em vez de "Por que é que Darwin tinha razão?"
Por que motivo ou por que razão é que Darwin tinha razão?
Este erro é muito comum, generalizou-se e talvez possa acabar por vir a escrever-se assim. Mas a regra, suponho que ainda há regra..., é aquela.
Eu próprio, sobretudo enquanto corrijo ou depois de corrigir uma turma de testes, dou comigo a cometer este e outros erros de que me sinto envergonhado. E, às vezes, muitas vezes, já nem sei como escrever.
Mas lá que devíamos fazer sempre um grande esforço para escrever bem, isso devíamos. Especialmente nos tempos que correm. Porque a influência nos jovens, sobretudo nos alunos, é muito grande, para o bem e para o mal.
Jerry A. Coyne é um notável cientifista (na linha de Dawkins) e um feroz cruzado contra as novas heresias (nessa formidável campanha para desmascarar as pseudociências).
Este livro, aparentemente, promete desmascarar o criacionismo, que é uma teoria que surgiu, no início do século XX, nos estados unidos (correntes religiosas americanas não católicas, que fazem uma leitura literal do Antigo Testamento). Fora do espaço americano o criacionismo é uma teoria com muito pouca expressão, e parece-me um pouco ridícula a importância que os cientifistas portugueses gostam de dar a este desenxabido assunto, mas isso é lá com eles (quando muito será assunto nos EU).
Sobre o Autor e as suas ideias aproveito para deixar um link, de um artigo "Jerry Coyne on Scientism and Freewill" de um blog americano cujo autor (Benjamin Cain) analisa o pensamento de J. A. Coyne, à luz de uma perspectiva ateia menos reducionista (e um pouco mais razoável, digo eu):
http://rantswithintheundeadgod.blogspot.ca/2012/08/jerry-coyne-on-scientism-and-freewill.html
Vasco Gama, tem razão quando diz que em Portugal o criacionismo tem pouca expressão. No entanto, o número de pessoas que começam a seguir essas ideias começa a crescer. Partilho algo que me aconteceu recentemente: Após uma palestra numa escola de Lisboa, em que abordei de relance este tema,uns alunos fizeram-me chegar duas revistas, através da docente. Essas revistas eram das Testemunhas de Jeová, dedicadas a dizer que a Evolução era uma mentira dos cientistas, entre outras coisas.
Estes livros são importantes por, pelo menos, mais duas razões:
dar a conhecer novas informações sobre a evolução, para quem quer saber mais; corrigir alguns mal-entendidos sobre o tema (e.g. processo darwinista em vez de lamarckista; ou evolução ramificada em vez de linear; entre outros).
Caríssimo. O erro é da editora que publicou o título assim. Mas concordo que eu deveria ter incluído esse aspecto na minha crítica.
Cumprimentos.
Nada, caro António Piedade
Só quis referir o pormenor que se tornou habitual.
Eu próprio dou comigo a praticá-lo...
Aliás, enganei-me a referir o sub-título que não apresenta interrogação.
Bem haja pelos seus textos. Espero-os sempre.
Abraço.
Eu não digo que o livro não contenha boa (e importnate) informação, Jerry Coyne é um biólogo competente. O problema de Jerry Coyne (e outros autores como Dawkins) frequentemente extravasam a informação científica e passam a validar mitologia de origem ideológica, nomeadamente no que diz respeito a outras questões, tais como a existência de Deus, propagando falácias, como a que a cência contradiz a existência de Deus (entre outras). Qualquer pessoa com um mínimo de educação percebe que isto é uma falácia (e pode esboçar um sorriso irónico), o problema é maior (e aqui configura-se alguma desonestidade intelectual), quando alguém (sem juízo critico) aceita esse tipo de afirmações (com base na autoridade científica desses autores). Ou seja, hoje em dia esta corrente de pensamento ao divulgar este tipo de falácias ela mesmo que se pugna pela defesa da razão passa a promover o obscurantismo, e aproveitar-se do ingenuidade e credibilidade e boa fé das pessoas.
Eu não digo que as pessoas não devam ler este (ou outros livros) que devem conter boa e válida informação. Mas devem ter em atenção a ideologia de quem os escreve e o tipo de falácias que lá podem ver contidas.
Entre coisas; algures pertence!
E, outras?! Conquista-se.
De mínima importância o maior valor.
Diria da fé, sustentar-se-ía.
Criacionismo não é ciência. Perder tempo e recursos numa comparação impossível... o mesmo seria comparar o dogma absoluto de Deus com o Sol.
A evolução de Darwin não é perfeita e está, ainda, incompleta. Melhor seria tentarmos perceber as linhas fractais que assombram a nossa compreensão dos mecanismos da natureza.
Fé? Sim na razão!
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