Em continuação do meu post
anterior, intitulado “Um comentário em que se confundem as coisas ‘para a
posteridade e mais além’” (31/03/2013), transcrevo,
na íntegra, a carta de João Boaventura, dirigida ao director do “Diário de
Coimbra” e publicada neste jornal, em 2 de Março de 2006, com o título “A
petição da Ordem dos Professores pela negativa”, do seguinte teor:
“Senhor Director: Tenho acompanhado
com algum fervor o combate ingrato do meu amigo, Dr. Rui Baptista, a propósito
das criação de uma Ordem dos Professores, contra essa muralha virtual erguida
frente ao Parlamento, com uma paciência que não lhe permite esgotar a
argumentação, antes a renova. O defensor desta causa, que parece quase perdida
nos passos perdidos da Assembleia, mas que lhe dá energias sustentadas, não tem
que admirar-se das argumentações tecidas pelos deputados de cada partido [em
meu nome pessoal e “a latere”, evoco a excepção de concordância com a criação
da Ordem dos Professores por parte do deputado do CDS/PP, Abel Baptista], e
contrárias ao objectivo a alcançar porque, já o dizia o filósofo americano
Ralph Emerson, em 1870, “uma seita ou um
partido político é apenas um eufemismo elegante para poupar um homem do vexame
de pensar”. E sabia do que falava, no século XIX, mas não sabia que o seu
conceito se manteria no século XXI. Exactamente como o nosso Dr. Sousa Martins
sabia do que falava, no século XIX, ao classificar os deputados em três categorias:
“Os de língua dourada, os de língua danada e os de língua calada” . O que o Dr.
Sousa Martins não sabia era que a classificação continuaria actual no século
XXI.
Isto para significar que para os
lados de S. Bento, pelo quadro apresentado, o Dr. Rui Baptista não pode esperar
nem grande atendimento, nem grande discernimento. De resto já sentiu na pele o
fraco e insípido contraditório que sai do Parlamento, só porque ao Estado é de
bom tom afirmar a sua autoridade, mesmo que violente o direito legítimo de uma
petição, como a Ordem dos Professores, com as argumentações sem sustento, ou
porque há Ordens a mais, ou porque há que repensar as Ordens, ou porque
qualquer desculpa serve. E nisto se funda a autoridade ilegítima de um Estado
quando lhe falta a capacidade de discernir
.
Em tais circunstâncias eu
sugeriria ao meu amigo Dr. Rui Baptista, que desenvolva, como S. Tomás de
Aquino na teologia negativa (De Deus não sabemos o que ele é, mas sabemos o que
ele não é), e apresente ao Estado (que também não sabemos o que é, mas sim o
que ele não é), uma petição nos mesmos termos com este título: “Da Ordem não
sabemos o que é, mas sabemos que ela não é a Desordem”. Como a negativa
continua actual porque até definimos saúde pela negativa – é o estado de não doença
– pode ser que o Parlamento acabe por aceitar um documento onde demonstre que a
Ordem é o estado de não Desordem.
Eu já aprendi com o Estado. O meu
filho pediu-me uma máscara para brincar ao Carnaval. Como lha neguei
perguntou-me a razão da negativa dado que havia muitas crianças com a máscara,
respondi que já havia demasiada máscaras, que iria repensar o problema das
máscaras, que enfim tinha quefazer uso da minha autoridade de pai, e viver com
a minha imbecil argumentação de pai”.
João Boaventura (Lisboa).
5 comentários:
"Memorian"? Isso deve ser latim com novo acordo ortográfico.
Professor Rui Baptista;
Eu penso que talvez exista a idéia generalizada, que uma Associação Profissional têm quase que só uma única finalidade - a defesa dos interesses dos seus membros, como se esses interesses fossem exclusivos da classe e nada do interesse da comunidade. Mas não é assim.
No caso, tratando-se da Ordem dos Professores, o seu fim último, deveria, ser a defesa dos interesses de todos os estudades e em todos os nivéis de ensino. E isso interessa a TODOS.
Pode-se então perguntar:
Porque é que, e assim sendo, uma Ordem dos Professores não encontra grande entusiasmo em pessoas responsavéis?!
E também, muito justamente, pode ficar a dúvida, se certos males provenientes das reformas educativas, ter-se-iam evitado se existisse a Ordem dos Professores?
No minimo não se sabe, mas a verdade é que esse seria um papel importantissimo e primordial para uma Ordem dos Professores desempenhar - o acompanhar e ter uma posição crítica nas reformas educativas.
Cumprimentos Cordiais,
Caro anónimo: Obrigado. Vou emendar no original, "in memoriam" dos três anos de latim por mim aprendidos no ensino liceal.
Engenheiro Ildefonso Dias: Os seus comentários têm para mim, para além do seu indesmentível valor intrínseco a isenção de quem não se pronuncia sobre questões profissionais que lhe dizem "directamente" respeito. Mas que dizem respeito a todos os pais e, de uma forma geral, a toda a população portuguesa.
O silêncio de quem se devia pronunciar sobre o sistema educativo, e não o faz, ou o faz mal, justifica o número escasso de comentários pró e contra a criação da Ordem dos Professores. Ora, não fazer é deixar que os outros tracem por nós um rumo em quee os professores deviam ter uma palavra a dizer (e principalmente a serem ouvidos) em questões que não façam deles robertos de um palco de feira. E que vão para além do âmbito meramente laboral.
Fiel à máxima de Oscar Wilde, “a insatisfação é o primeiro passo para o progresso de um homem e de uma nação”, continuo combatente duma causa em que tenho o único mérito de demonstrar a minha insatisfação pelo desprezo (ou simples mutismo) a nível dos diversos governantes que têm ocupado a pasta ministerial da Educação (há que “chamar os bois pelos nomes”, perdoe-se-me o plebeísmo!). E essa causa é a criação da Ordem dos Professores de que é defensor o actual secretário de Estado da Educação, João Granjo, com o “handicap” do cargo governamental que desempenha e o facto de ter exercido anteriormente o cargo de presidente da Associação Nacional dos Professores (herdeira da Associação Nacional dos Professores do Ensino Básico).
Seja como for, em minha opinião, a criação da Ordem dos Professores não deve obedecer a simples galões, antes à acção concertada, consistente e com provas dadas do Sindicato Nacional dos Professores Licenciados , através da discussão na Assembleia da República postergada por argumentos do Partido Socialista com dois pesos e duas medidas: A Ordem dos Professores, não; a criação posterior das ordens profissionais dos Psicólogos, dos Técnicos Oficiais de Contas, dos Nutricionistas e dos Engenheiros Técnicos, sim. Vá lá a gente compreender gente que se rege pela lei do funil!
E porque assim é, na minha teimosia, estou a elaborar um novo post intitulado: “A Ordem dos Professores e o Logótipo da Associação Sindical Pró- Ordem dos Professores”. Gostaria que fosse ele uma tribuna aberta para discutir esta temática em que o silêncio não é de ouro, mas de simples pechisbeque de falta de argumentação. Que me desculpe o leitor um certo azedume das minhas palavras que encontra caboucos no imortal Eça: “Tudo se afunda, e, mais do que nenhum outro, este tempo é fecundo em misérias”.
Errata: Para além do "lapsus calami" que cometi no título deste meu post, pousou uma arreliadora gralha (uma vírgula), na minha frase do comentário anterior, entre as palavras original e "in".
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