quarta-feira, 10 de abril de 2013

Educação para adultos

A pedido do leitor José Batista, deixo a ligação para a crónica de hoje do programa "Pano para Mangas", da autoria João Gobern e intitulada "Educação para adultos".

Efectivamente, Gobern traça aqui um retrato global e mas preciso de grande parte dos problemas que, desde há muito, se fazem sentir no campo da educação formal.

Vale a pena ouvir.


11 comentários:

Unknown disse...

Vale a pena ouvir???

...

José Batista disse...

Eu acho que vale muito a pena ouvir, caro Vasco Gama. Muitíssimo.

Deixo outro obrigado à Professora Helena Damião.

E a João Gobern, claro.

Ildefonso Dias disse...

Professora Helena Damião, deixa-me uma enorme tristeza que a Senhora se identifique com este discurso de [João Gobern]!!!

É um discurso "encomendado" não se sabe bem porquê.
É um discurso, que revela ignorância, e até é contraditório.
E é contraditório na medida em que afirma que "não se pode voltar à relação entre a economia e os fracassos" mas a única coisa que diz com sentido, com acerto, é precisamente quando, mais à frente, acaba por relacionar a economia com o abandono!!!

Que a Senhora Professora Helena Damião se possa identificar com este discurso, é como disse, para mim um motivo de tristeza, porque é uma análise que têm por trás uma ideologia já muito gasta, muito ultrapassada no tempo.

Cordialmente,


Ildefonso Dias disse...

A Senhora Professora Helena Damião certamente já se deu conta de que nas escolas, e isso vê-se muito cedo, logo no Jardim de Infância:

… Que as crianças das famílias economicamente carenciadas estão em clara desvantagem.
… Que é precisamente nessas famílias que reside a maior taxa de insucesso e de abandono escolar.

Professora Helena Damião, infelizmente como alguém disse “Vivemos no meio de uma realidade que é mais forte do que as construções metafisicas ou as guitarradas ao luar doutros”

É isto que se me oferece dizer à Senhora.

Helena Damião disse...

Estimado leitor Ildefonso Dias
O que refere, e que muitos estudos sérios documentarem, torna intrigantes os resultados que vieram recentemente a público sobre o sucesso dos alunos portugueses, quando cruzados com o nível sócio-económico de pertença. Penso dar atenção ao assunto em próximo texto.
Cordialmente,
MHD

Ildefonso Dias disse...

Professora Helena Damião;

A minha tristeza reside no facto de pensar que a Senhora Professora Helena Damião se possa identificar com este discurso.

Diz o senhor jornalista;
“... quer isto dizer, que só muito mais tarde, já eu não era estudante, infelizmente comecei a ouvir falar no insucesso e no abandono escolar...”

Professora Helena Damião, sabe-me dizer o que é que havia no tempo em que o senhor jornalista era estudante?! … e porque a Senhora Professora talvez não conheça o romance «Esteiros» - é dedicado aos filhos dos homens que nunca foram meninos - vou transcrever o diálogo (a mãe do João, Madalena, com o Sr. Castro, um ricaço, pai do Arturzinho colega do João até então).



O meu João andava na mesma classe que o menino Artur. Eu fazia ainda uns recados mas depois piorei... Assim, já ele não pode fazer o exame.
Que mal têm isso? - Dignou-se observar o Sr. Castro. - Evidentemente que vossemecê não queria fazer dele um doutor.
Madalena baixou os olhos. Que havia de responder?
O mestre dizia que ele era muito inteligente...
O Sr. Castro pôs-se a falar no excesso de doutores, na falta de braços nos campos e nas oficinas, e em coisas arrevesadas que ela não entendia.(...)
Pois mande o seu filho aprender numa oficina. E, se ele for inteligente como diz, tem o futuro garantido.
Sim, Sr. Castro. Era até por via disso que eu lhe vinha falar.
Diga lá, então.


Professora Helena Damião, isto era o que existia antes, quando o jornalista era estudante, e não ouvia falar de insucesso e abandono.
É verdade que o jornalista não têm nos dias de hoje a coragem e a franqueza do Sr. Castro; mas as intenções estão igualmente lá, só têm que dizer as coisas de uma forma mais subtil, mais artificiosas. E o que faz o jornalista saudosista!!! reclama o ensino do seu tempo, e que foi tão bem denunciado e condenado por J. Sebastião e Silva.

[…] “O que importa focar, sobretudo, é que estamos em presença de um sistema educacional que não ensina a observar, nem a experimentar, nem a refletir, nem a raciocinar, nem a escrever, nem a falar: ensina apenas a repetir mecanicamente, a imitar e, por conseguinte, a não ter personalidade. É um sistema. É um sistema que reprime o espírito de autonomia e todas as possíveis qualidades criadoras do aluno, nas idades decisivas em que essas qualidades deveriam ser estimuladas ao máximo: um sistema feito à medida da mediocridade obediente, que acerta o passo enquadrada em legiões de explicadores. É, portanto, um ensino em regime de desdobramento: professor-explicador (e o mais grave é que o professor já conta com o explicador). É, portanto, um ensino que favorece os passivos, os superficiais e os privilegiados economicamente, em prejuízo dos autónomos, dos inteligentes e dos economicamente débeis. Em conclusão: é um ensino capaz de atribuir 20 valores ao Conselheiro Acácio e orelhas de burro a Einstein!”

Cordialmente,

Ildefonso Dias disse...

Aditamento ao comentário: A verdade é que hoje o ensino evoluiu muito pouco desde os tempos de J. Sebastião e Silva.
Mas existe ainda, quem considere que evoluiu mais do que devia!!!, e por isso exige o retrocesso, basta só estar um pouco atento para perceber isso; reclamam o que pedagogicamente é errado, e que já foi abandonado à mais de um século nos países com um sistema de ensino muito avançado.

Ildefonso Dias disse...

Professora Helena Damião;

Há poucos dias confessava-me um pai de uma criança, com a idade de 10 anos, que na turma do seu filho, havia 2 ou 3 alunos (também crianças de 10 anos) que por vezes, chegavam a ser colocadas fora da sala de aula!, devido ao mau comportamento.

Mas, que dizer quando esse pai, adiante me diz que essas crianças, desobedientes, eram filhos de pais também eles Professores!!!

Bem vê Professora Helena Damião que o problema é muito mais complexo, diz respeito á forma como está organizada a sociedade, os seus valores... mas isso parece que não importa, para aqueles saudosistas do passado, que vêem na "autoridade" ultrapassada e anti-pedagógica a solução destes problemas (que não se confunda aqui a verdadeira autoridade, que essa é que está em perigo).

Repare, que foi esse o "mote" com que o jornalista iniciou o seu discurso... numa tentativa descarada de carregar para a sua causa [ensino que favorece os passivos - de que ele próprio é beneficiário] o descontentamento das pessoas, que vivem numa sociedade sem valores...

Hoje eu falo com professores do 1. ciclo e eles dizem-me que os conteúdos programáticos atuais são melhores que os de à vinte anos atrás, são mais virados para o desenvolvimento da imaginação das crianças, exigem reflexão das crianças, é-lhes possibilitada a intervenção com idéias etc...

Mas ainda hà muito que fazer, e não podemos voltar atrás, é preciso combater certas idéias, é preciso combater aqueles para quem a pedagogia não é nada... nem sequer uma ciência.
É disto que me vou apercebendo que faz falta, muito por culpa do DRN.

Cumprimentos cordiais,

Ildefonso Dias disse...

Falei com uma professora (com 30 anos de serviço) que me confessou que agora tinha que estudar a matéria que ia ensinar no dia a seguir... e fazia-o porque tinha a necessidade de bem ensinar... que a organização, o conteudo e a exposição da matéria exigia que dela uma reflecxão prévia... que até a sua filha, - vendo-a estudar, na preparacão das aulas - a questionara se ela já não sabia o que ensinar, e como ensinar...

Isto é a realidade, tão diferente do ensino que se fazia no passado.
Professora Helena Damião, não considera este facto algo de extraordinário, um sinal muito positivo?

Ildefonso Dias disse...

Professora Helena Damião;


Em 2012 estive à conversa com uma jovem Educadora de Infância. A Educadora não tinha turma de crianças, estava na escola só a fazer uma horas, auxiliava nas refeições, nos lanches, e preparava pequenas actividades para os períodos extra, penso que era a associação de pais quem a contratara.


Vou-lhe resumir a conversa, para se perceber melhor a nossa realidade. Perguntei-lhe sobre as expectativas que tinha em relação à sua carreira, disse-me logo que estava muito desanimada quanto ao futuro, sem grandes perspectivas de um dia exercer verdadeiramente a sua profissão!


Perguntei-lhe ainda como tinha sido a sua formação, como gostaria de ensinar as crianças e quais as melhores formas de o fazer.


A Educadora, confiante, começou por falar da melhor forma de ensinar, o que se pode e deve fazer, que é muito, mesmo ao nível do pré-escolar, que pouco se faz, que muitas vezes o que se faz é pouco mais do que ler uma história com o livro aberto para as crianças verem as gravuras, que existem actividades importantíssimas para o desenvolvimento das crianças nessas idades, e que não se fazem etc.


Como eu em tempos tinha lido um pouco sobre o sobre o modelo High/Scope, desenvolvido nos EUA, no livro "Educar a Criança, editado pela Fundação Calouste Gulbenkian, perguntei-lhe qual era a opinião que tinha acerca do método.


Disse-me que conhecia perfeitamente o livro, que ele era quase que “obrigatório” na sua formação, toda a gente o conhecia; que até era uma entusiasta das vantagens do modelo High/scope etc, … acabou depois por me explicar a enorme exigência que é, e ao mesmo tempo o estimulo, para um Educador a implementação de um modelo com essas características; tal exige, ao fim do dia de trabalho com as crianças algumas horas extra para a avaliação diária dos progressos individuais da criança, e essa é uma base de trabalho para o dia seguinte, tudo tem de ficar registado, etc... resumindo, são modelos comprovados e inovadores, mas que infelizmente pouco se aplicam em Portugal.


Professora Helena Damião, são estas também algumas das dificuldades de trabalho que existe em Portugal;

Formam-se Professores especializados e não se lhe dá oportunidade de trabalhar.

Por outro lado, não se obriga alguns que estão acomodados e envaidecidos, - que em alguns casos gabam-se até de ganhar mais em explicações particulares que a dar aulas - a OBEDECER e a TRABALHAR para os seus alunos que é esse o primeiro e único dever que têm. (...a lógica do Tu dás explicações aos meus alunos, e aos teus alunos dou Eu explicações, – o tal sistema de desdobramento, o Professor conta já com o Explicador).

Depois há os profetas da desgraça, qual velhos do Restelo, verdadeiramente incomodados sempre que se fala em métodos de ensino inovadores e novas práticas pedagógicas, o que querem é o passado, porque o presente e o futuro, verdadeiramente, nada lhes diz.


Cordialmente,

Helena Damião disse...

Estimado Leitor Ildefonso Dias
Conheço muito bem o livro "Esteiros" de Soeiro Pereira Gomes, dedicado, sim. "aos filhos dos homens que nunca foram meninos". Não sei se por obrigação curricular se por iniciativa do professor de Português, foi uma das muitas obras que conheci quando andava no ciclo preparatório, agora 5.º e 6.º anos de escolaridade. E, uma vez lido, nunca mais se esquece.
Cordialmente,
MHD

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