terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Divulgar a ciência - uma entrevista














Fui entrevistado para o último número do jornal 'A Cabra', um excelente jornal universitário de estudantes da Universidade de Coimbra. Os principais temas abordados referem-se à minha relação com a ciência e com a divulgação científica. Aqui fica a reportagem.

"No mês em que tomou posse a Comissão Científica para o programa da segunda fase do Museu da Ciência da UC, fomos conversar com o director

Quando começou o interesse pela ciência?
A partir de certa idade, creio que na minha adolescência, comecei a interessar-me muito por perceber porque é que as coisas eram como eram. Porque é que o Universo onde vivíamos tinha as características que tinha. As respostas que comecei a encontrar foram aparecendo na minha formação. Na altura deliciava-me com os meus professores e isso começou a interessar-me muito. Fiz outras leituras também, sobre o religioso, o esotérico, mas achei que as respostas que tinham consistência eram as respostas que a ciência procurava.

Pensa que o interesse pela ciência tem vindo a aumentar?
Em Portugal há determinados estratos da sociedade que têm mais interesse pela ciência. Há estratos que estão profundamente alheados da ciência e de outras coisas. Penso que é uma batalha que nós não conseguimos vencer e que tem a ver com o interesse pela cultura de um modo geral. A seguir ao 25 de Abril partimos de uma situação calamitosa, em que tínhamos uma percentagem elevadíssima de analfabetismo. O país era dos mais atrasados da Europa, e caminhou-se muito para ultrapassar essa situação. Mas acho que ainda falta ganhar as pessoas. Não tem só a ver com a ciência, mas também tem porque a ciência é, por natureza, uma actividade intelectual. Mesmo o acompanhamento e interesse que temos sobre a realidade pressupõe que as pessoas se interessam pelo que se passa à volta delas. É isso que acho que é o meu trabalho de todos os dias. Espaços como o museu da ciência foram estruturados precisamente com o objectivo de fazer com que o interesse da sociedade pela cultura e, em particular, pela cultura científica, cresça.

Licenciou-se em Biologia mas também se interessa bastante por Antropologia. Porquê?
Tem a ver um pouco com contingências do próprio percurso académico. Na altura em que me licenciei havia no departamento de Antropologia interesse por pessoas que quisessem trabalhar em aspectos biológicos do comportamento, que era exactamente o que queria. Concorri para o departamento nessa altura e acabei por ir desenvolvendo a minha actividade lá e por manter uma relação forte com as várias pessoas que fazem investigação na área da Antropologia.

Qual foi a investigação que mais o desafiou?
A resposta trivial é “a próxima”. É sempre a próxima que será o maior desafio, porque os outros teriam sido já vencidos e ultrapassados. Uma parte do desafio ou da valorização que damos ao desafio está nos resultados. Quando desenhamos uma experiência e conseguimos realizar um teste que depois produziu um resultado observável claramente diferenciado, é muito recompensador. Mas os desafios estão sempre continuadamente a surgir. Fazemos uma experiência, procuramos obter um conjunto de dados e, subitamente, os resultados são completamente ao arrepio do que estávamos à espera, isso obriga-nos a reflectir sobre o que correu mal. Fizemos mal algum procedimento? Ou descobrimos um fenómeno novo? E isso é um desafio imediato.

Tem alguma investigação que sempre tenha pensado em fazer e que nunca fez?
Sim. Há investigações que gostava de ter feito, mas não tive condições materiais para as poder realizar. Tenho trabalhado muito com aspectos relacionados com a selecção sexual; a escolha do par em função de sinais que normalmente evoluem por causa de características sexualmente seleccionadas. A espécie de aves com que temos trabalhado tem uma estrutura de canto que é uma produção compacta, com uma grande quantidade de sons por unidade de tempo. Gostava de poder manipular o processo de desenvolvimento desses animais para ver como é que as minhas manipulações iam alterar a estrutura do canto e, depois, tentar ver em termos de estruturas neurológicas o que está por trás disso.

O que significa para si dar aulas na universidade onde estudou?
Não é importante para mim dar aulas na universidade onde estudei. Mas é muito importante, enquanto cientista, dar aulas. Sempre tive imenso gosto em ensinar e tentar transmitir conhecimentos, procurando entusiasmar os alunos da mesma forma que aqueles conhecimentos me entusiasmaram a mim. Procuro dizer o quão fascinante aqueles conhecimentos podem ser, não para que eles sigam o que eu faço, mas porque acho que é muito interessante. Para mim, procurar conhecer implica desejar transmitir esses conhecimentos. E assumo isso como uma responsabilidade.

Qual foi o maior desafio que encontrou no museu da ciência?
Foi fazê-lo. Estou no projecto do museu desde o início, mesmo antes de ser projecto. Quando começaram a surgir ideias da necessidade de procurar agregar os vários museus para criar uma estrutura mais moderna, eu abri-me a estas ideias e comecei a fazer sugestões. Depois envolveram-me e não pude dizer que não. Isso foi de facto um grande desafio, porque não tinha a noção da complexidade do processo da construção do museu, com a enorme quantidade de especialidades que estão envolvidas e da necessidade de conseguir compatibilizá-las e de fazer com que funcionem.

E quanto ao museu digital?
Ainda está numa fase embrionária. Para já é o maior museu digital de instrumentos científicos em Portugal, porque a universidade tem uma colecção muito grande e não é comparável com outra instituição. Mas acho que o museu digital vai dar um salto quando associarmos a esta disponibilização das colecções uma outra forma de as visitar, através da construção de uma espécie de passeio virtual e, em particular, de histórias sobre cada objecto.

Participa com outros professores num blogue que também fala de ciência…
Muitos dos ‘posts’ que se fazem no blogue são sobre o lado social da ciência, as implicações que tem na sociedade. Procuramos esclarecer e também fazer um bocadinho de filosofia da ciência. Ajudar as pessoas a perceber que a ciência é uma forma de colocar perguntas sobre a realidade. A ciência casa muito mal com ditadura e com regimes onde não pode haver liberdade de pensamento e liberdade de expressão. Por isso, achámos que havia todas as condições para que um grupo de pessoas com formações diversas pudesse manter ali um espaço de diálogo e informação.

4 comentários:

Carlos Faria disse...

Geocrusoe
A declaração "A seguir ao 25 de Abril partimos de uma situação calamitosa, em que tínhamos uma percentagem elevadíssima de analfabetismo. O país era dos mais atrasados da Europa, e caminhou-se muito para ultrapassar essa situação. Mas acho que ainda falta ganhar as pessoas." Poderia ser transposta para hoje, substituindo apenas a palavra analfabetismo por "iliteracia" ou "iletrados" e terminar a última frase do parágrafo transcrito com "mas temo que estamos a perder a batalha." Pelo menos é como vejo a situação actual.
Carlos Faria

Anónimo disse...

Paulo Gama Mota diz:

"Fiz outras leituras também, sobre o religioso, o esotérico, mas achei que as respostas que tinham consistência eram as respostas que a ciência procurava."

Sim, mas não podemos esquecer que a ciência diz-nos como é que o Universo e a Vida são, mas não tem uma explicação empiricamente sustentada e plausível para a sua origem naturalista.

Na verdade, a ciência corrobora inteiramente o relato bíblico.

A astronomia, com os seus modelos inflacionários, aproxima-se cada vez mais da ideia de que o Universo surgiu instantaneamente, como a Bíblia ensina.

A astronomia, ao falar da sintonia do Universo para a vida e das centenas de coincidências antrópicas, corrobora a criação inteligente, instantânea e sobrenatural do Universo.

A astronomia, ao mostrar a falência do modelo do Big Bang e da hipótese nebular, corrobora a criação intencional e inteligente dos corpos celestes.

A astronomia, ao propor modelos de relatividade cosmológica, corrobora inteiramente a origem recente do Universo, tendo como ponto de referência o tempo da Terra.

A biologia e a genética, ao mostrarem que a vida depende de informação codificada e que as mutações e a selecção natural tendem a reduzir e a degradar os genomas, corroboram a doutrina bíblica da criação.

A biologia, ao mostrar que afinal muito do suposto "junk" DNA é, afinal, funcional e portador de informação epigenética, corrobora inteiramente o ensino bíblico de uma criação inteligente.

A geologia, ao superar o uniformitarismo de Charles Lyell e ao substituí-lo, com intensidade crescente, por modelos catastrofistas, aproxima-se a passos largos do ensino bíblico sobre o dilúvio global.

Não existe, assim, nenhuma contradição entre as observações científicas em si mesmas e o ensino bíblico. Os criacionistas não descartam nenhuma observação científica.

Apenas descartam as interpretações naturalistas e evolucionistas das mesmas, afirmando que elas não só não decorrem dos factos, como são desmentidas por eles.

A presença de informação codificada no genoma é um exemplo claro.

Em todos os sistemas conhecidos, a presença de informação codificada é evidência de inteligência, não sendo conhecidas quaisquer excepções.

No DNA encontramos informação codificada em quantidade, qualidade, densidade e complexidade que transcendem toda a capacidade tecnológica humana, não existindo qualquer explicação satisfatória para a sua origem naturalista.

Logo, é inteiramente razoável e racional concluir que a informação codificada no genoma só pode ter tido origem inteligente.

Pedro Luna disse...

Caro Jónatas anónimo:

"Na verdade, a ciência corrobora inteiramente o relato bíblico."

Só se for no teu Universo, naquele em que eu vivo a Ciência e a Religião têm campos separados e a leitura literal da Bíblia é reservada a uma certa categoria de moços que não me atrevo a adjectivar.

PS - porque não assinas os tem comentários...?!?

Anónimo disse...

OFF TOPIC

A proposito de divulgação cientifica alguem aqui sabe o que aconteceu ao metablog "divulgar ciencia"?

joao

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