sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Espiritismo

Dado que alguns dos nossos leitores são espiritistas, atrevo-me a pedir uma ajuda de tradução. Os termos ingleses que não sei como se dizem em português são os seguintes:
  • Sitter: uma pessoa que quer contactar com um morto e que para isso contacta com um médium.
  • Proxy sitter: uma pessoa que faz os preparativos e se encontra com um médium em nome do sitter.
  • Control: o espírito associado ao médium, que lhe permite contactar com o mundo dos mortos.
  • Communicator: o espírito do morto com o qual o sitter quer comunicar.
  • Sitting: uma sessão espírita.
  • Seance: isto presumo que se diz "sessão espírita", mas não tenho a certeza.

Agradeço a ajuda! Esta terminologia ocorre num livro de filosofia da religião de Rowe que estou a rever.

9 comentários:

Andrew Black disse...

Caro Desidério Murcho,

Existem várias confusões linguísticas que atrapalham grandemente a comunicação, quando se trata de Espiritismo.

Em meados do século XIX, a comunicação com o Além (ou suposta comunicação, se quisermos), que existia desde os primórdios da Humanidade, tomou uma feição popular. Deixou de ser exclusivo de uns poucos iniciados, para passar a ser acessível a toda a gente. Considerandos sociológicos vários poderiam ser feitos a esse respeito, mas adiante.

Nos países anglófonos o New-Spiritualism fez escola. Nos países latinos foi o Espiritismo.
O New Spiritualism, ou Novo Espiritualismo, apoia-se bastante em Emmanuel Swedenborg e Andrew Jackson Davis. Não admitem a reencarnação.

O Novo Espiritualismo e o Espiritismo são filosofias diferentes, mas muitas vezes os textos referentes ao New Spiritualism americano e inglês, são traduzidos como Espiritismo.

No Espiritismo não há equivalência para os termos que indica.

A comunicação com o mundo espiritual, no âmbito espírita, nunca se faz a pedido, do tipo "quero falar com o meu pai", muito menos para servir finalidades de curiosidade ou futilidades.

As reuniões mediúnicas, ou reuniões de intercâmbio com o mundo espiritual, ocorrem em dias e horas marcados, em ambiente de recolhimento mas com simplicidade. Não se chama os Espíritos. Os Espíritos que entendam e que tenham permissão para tal, podem manifestar-se por intermédio dos médiuns presentes, pela fala, pela escrita, pela vidência, pela audiência, etc..

Finalidades da comunicação com o mundo espiritual, no Espiritismo:

1-Desobsessão; esclarecimento dos Espíritos em estado de perturbação, que eventualmente estejam a interferir negativamente com pessoas "vivas".

2-Instrução moral; os Espíritos mais evoluídos transmitem mensagens que depois de estudadas e consideradas com conteúdo, são divulgadas.

3-Pesquisa científica; os médiuns espíritas estão sempre à disposição dos cientistas que pretendam investigar a imortalidade da alma e tudo o que se prende com esta problemática.

Andrew Black disse...

Esperando que não me acusem de estar a fazer proselitismo, e que não se ofendam com a exposição destas ideias, vou tentar fazer um paralelo entre a realidade a que os termos que apresenta se referem e o que se passa no Espiritismo:

Vamos supor que em casa de uma pessoa ocorrem, por exemplo, fenómenos de combustão espontânea: objectos "pegam fogo sozinhos".

A partir daí a pessoa tem vários caminhos. Por exemplo:
- Ignora.
- Vai ao médium-comerciante, daqueles que põem anúncios no jornal, ou a "uma senhora". Quase sempre estas pessoas pedem dinheiro para fazer uns rituais, ou para fabricar uns amuletos e ensinar umas rezas, que, obviamente, não têm qualquer resultado.
- Vai a um padre, que eventualmente benzerá a casa e prestará apoio espiritual e moral.
- Recorre a um psicólogo da área da parapsicologia católica, que atribuirá o fenómeno a energias emanadas por pessoas que estão na adolescência e o abordará a seu modo.
- Recorre a um centro espírita.

Embora a vocação primordial dos centros espíritas não seja a de "SOS espiritual", o que se faz neste caso é tomar nota dos dados da pessoa, e, numa reunião de intercâmbio com o mundo espiritual, apresenta-se o caso.

Só os membros do grupo devem tomar parte nestas reuniões. A pessoa que pede ajuda será sempre poupada a assistir a uma reunião que pode traumatizá-la, por não saber ao certo do que se trata.

Sob a supervisão da equipa espiritual (grupo de Espíritos que protegem e coordenam os trabalhos), o Espírito ou Espíritos responsáveis pela "brincadeira", poderão (se lhes for permitido por Deus, como em acontece em tudo na vida), comparecer e manifestar-se.

Os Espíritos que interferem negativamente com pessoas vivas, quer a nível físico, quer psicológico, são sempre pouco evoluídos, e por isso mais permeáveis à influência dos "vivos". Quando se manifestam, existem condições para os sensibilizar e esclarecer. Muitas vezes acham-se em estado deplorável, consumidos pelo medo ou pelo rancor, e a influência de um grupo de encarnados (vivos)cheio de boa-vontade, acaba por tocá-los.

Os médiuns presentes numa reunião mediúnica são de três tipos:
a) os dialogadores (falam com os Espíritos)
b)os de suporte (estão em concentração e oração, contribuindo para uma boa atmosfera fluídica)
c)os diferentes médiuns que vêem, ouvem, sentem os Espíritos, escrevem e falam sob a influência destes.

Paralelamente a este procedimento, a pessoa que recorreu ao centro espírita é convidada a melhorar-se interiormente. Estudar Espiritismo, ouvir palestras, melhorar a sua conduta, de modo a retirar uma lição proveitosa de acontecimentos que a fizeram sofrer, mas que tiveram a sua razão de ser.

Talvez me fique mal dizer isto, mas já vi centenas de pessoas a braços com graves obsessões, das mais variadas, recobrarem a paz por acção dos Bons Espíritos e da actividade abnegada dos espíritas, que modestíssimamente os secundam. Eu fui uma dessas pessoas.

Nota importante: há casos que aparecem nas associações espíritas, que são, claramente, problemas psiquiátricos, e são, obviamente, enviados para esses dignos profissionais. Também ocorre o inverso. Aliás, em Portugal existem já três associações de médicos espíritas. Uma é a do Porto (ameporto.org).

Ninguém é convidado a abdicar das suas crenças, ninguém é influenciado para se tornar espírita. Nunca, em circunstância alguma, se aceitam pagamentos ou prendas. O proselitismo é um contra-senso para o Espiritismo; cada pessoa, em cada vida, deve seguir o caminho adequado à sua evolução.

O Espiritismo não é isto que tentei explicar. Esta foi uma de entre muitas situações típicas que se tratam nas reuniões mediúnicas, que são o que mais excita a curiosidade popular em relação ao Espiritismo.

Não nos repugna a designação destas reuniões de "sessões espíritas". Nós não usamos essa terminologia, que é
aplicada até para designar as adolescentes sessões do "jogo do copo"(um "jogo" bem perigoso, diga-se).

Por muito inteligente que alguém seja, não é possível entender o Espiritismo sem ler, pelo menos as suas obras básicas: O Livro dos Espíritos; O Livro dos Médiuns; O Evangelho Segundo o Espiritismo; O Céu e o Inferno; A Génese.

Estas obras podem ser descarregadas p. ex. no site www.adeportugal.org, ou adquiridas em qualquer centro espírita, a 6 euros cada (edição F.E.P), valor que cobre os custos do papel, tinta e tipografia.

Há filósofos espíritas, como Léon Denis, que considero ser um crime de lesa cultura privar a Humanidade do seu conhecimento. Seria para mim uma honra oferecer-lhe "O Problema do Ser, do Destino e da Dor", "Depois da Morte" ou "Cristianismo e Espiritismo" :)

Com total respeito pela orientação materialista deste excelente blog, apresento os meus sinceros cumprimentos e votos de muita paz para todos,

André

Vitor Guerreiro disse...

André,

O que pretendemos é saber como os aderentes do espiritismo ou pelo menos quem está mais familiarizado com o assunto nos ajudasse a traduzir aqueles termos, que são comuns em inglês e vêm no dicionário Collins, por exemplo.

Não está em causa a natureza do espiritismo, a cogência da doutrina ou as crenças que o constituem o ua variantes.

A questão, muito simplesmente é esta: se os adeptos, crentes, simpatizantes ou apenas conhecedores portugueses destas áreas não nos derem designações comuns equivalentes, simplesmente inventamos o que nos pareça melhor.

A sua intervenção peca por não responder ao que se pede no post.

Andrew Black disse...

Caro Vítor,

O post dirige-se aos leitores espiritistas, certo? Como leitor espiritista deste blog, esclareci que no Espiritismo NÃO HÁ equivalência para os termos apresentados, porque são conceitos ausentes na filosofia espírita.

Assim sendo, creio que o mais avisado seria apelar-se a um simpatizante do Novo Espiritualismo Anglo-Saxónico, que domine o Português, ou que seja português. Haverá algum? Duvido!...

Tentando ser o mais objectivo possível, e reafirmando que estes conceitos não se encontram no Espiritismo, proponho então:

Sitter: sem tradução.

Proxy sitter: sem tradução.

Control: o Espírito-Guia do médium, conhecido nas religiões como "Anjo da Guarda". Todas as pessoas, médiuns ou não, possuem um Espírito-Guia.

Communicator: Espírito comunicante.

Sitting: uma sessão mediúnica.

Seance: sessão.

Humilde Canalizador disse...

Apreciei a exposição do André. De Espiritismo só conhecia as meias páginas que alguns livros de História das religiões e filosofias costumam dedicar-lhe. Quanto ao New Spiritualism, tinha apenas uma vaga ideia.

Vitor Guerreiro disse...

proponho então um termo mais científico para ambos os conceitos:

sitter: boi sentado

proxy sitter: o mandatário do boi

seance: ceia das piças

Será que os limpa-latrinas do Reino Unido também usam termos intraduzíveis para português?

Quiçá....

Andrew Black disse...

Palavras para quê?...

Denise disse...

Deixei o meu contributo no Crítica na Rede, mas copio-o para aqui, na medida em que pode ajudar a esclarecer alguns leitores daqui que não passem por ali :-)

Li com atenção o pedido de ajuda formulado aqui e no DRN, assim como a troca de comentários subsequente que me leva a tecer as seguintes observações:

1.O pedido de ajuda do Desidério Murcho peca por confundir o teor do texto de Rowe que tem em mãos com o conceito de Espiritismo. A importância deste pormenor foi muito bem explicada pelo André. Uma vez que não adoptamos as práticas que esses vocábulos sugerem, não possuímos equivalentes possíveis. O pedido deveria ser endereçado aos espiritualistas, ou a quem domina o léxico desse universo, e não aos “espiritistas” (vulgo espíritas).

2.Assim, dever-se-á abolir a palavra “Espiritismo”, utilizada no título do post do DRN. A tradução pressupõe rigor, não só linguístico mas também sócio-cultural. A falta de pesquisa pode transformar o "tradutore" num "traditore". Calculo que compreendam o alcance destas minhas palavras. Suponhamos que esse texto de Rowe é traduzido para português e que nessa tradução aparece a palavra Espiritismo. O leitor lusófono, confiando na versão que tem em mãos, passará a ter uma ideia muio errada (e tudo o que é errado é pernicioso) daquilo que efectivamente o Espiritismo é.

3.Por isso, Vítor. Não posso concordar como afirma que “a questão importante é saber se essa é a tradução mais correcta e o uso mais consistente da linguagem, e não as conotações e valorações que as pessoas vulgarmente fazem”, como se fosse possível dissociar linguagem e conotação/valoração, quando a abstracção da linguagem se concretiza na língua, um sistema de signos em constante equilíbrio na esfera da interpretabilidade subjacente à competência linguística e sócio-cultural de cada indivíduo. Sobre a importância dos factores sócio-culturais na prática tradutológica, aconselho a leitura de Problèmes Théoriques de la Traduction (de Georges Mounin).

4.Porque não sou apologista da tese da intradutibilidade, avanço com as seguintes considerações:
•Sitter: Nausência de termo equivalente, proponho uma nota de rodapé: pessoa procura um médium com o propósito de contactar um espírito desencarnado.
•Proxy sitter: intermediário
•Control: «Espírito assistente», como proposto pelo Vítor parece-me muito bem. Não sei se «Espírito-Guia» (ou Guardião, ou Protector) proposto pelo André será o mais indicado. Isto porque o livre-arbítrio do médium permite-lhe ignorar os conselhos do seu “anjo da guarda” e, à sua revelia, estabelecer contactos com o mundo imaterial com propósitos menos nobres. Nestes casos, serão outros os espíritos que o estarão a assistir. No entanto, se o meu raciocínio estiver errado, peço desculpa e o o esclarecimento do André.
•Communicator: «Espírito comunicante», como proposto pelo André; e não «invocado», como sugerido pelo Vítor, porque, mesmo que assuma a identidade pretendida, pode ser um espírito burlão…
•Sitting: “sessão mediúnica”, como proposto pelo André
•Seance: “sessão”, como proposto pelo André

Denise disse...

Quero acrescentar que o infeliz comentário do Vítor comprova a tese de que aos trinta anos os homens, na sua maioria,são ainda adolescentes... Depois ficam espantados por que motivo nós preferimos a maturidade do up forty ;-P

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