O professor Miguel Cardoso, da escola EB 2,3/S José Silvestre Ribeiro, enviou-nos este texto para discussão pública:
Como se avalia a qualidade de uma aula? Um professor circula pela sala, distribui apontamentos e ajuda a resolver exercícios, noventa minutos depois, na sala de professores, diz “hoje sim, foi uma boa aula”. Na sala ao lado, outro passa o mesmo tempo sentado à secretária, expõe matéria e debate com os alunos, sai com o ego inchado, “foi a melhor aula do ano”. Outros podem utilizar um quadro interactivo, um trabalho de grupo ou ainda uma saída para o exterior e fazer qualquer coisa de mais prático para motivar os alunos. Naquela aula, naquele momento, com aqueles intervenientes, as coisas funcionam. O que é uma boa aula?
Não falamos de máquinas ou de um qualquer artigo produzido em série numa unidade fabril, embora os sucessivos ministérios da educação (assim, com letra minúscula) sonhem com uma formatação e normalização deste tipo. Não há um ideal platónico de “aula perfeita” a que todas as outras devam acercar-se. Aqui e agora a estratégia funcionou, até agora tem funcionado, vamos ver amanhã. Quando não funcionar, o professor sabe que tem de alterar. Não me venham agora com as estratégias diversificadas. Sempre as houve. Não se confunda é diversidade com imbecilidade.
A quantidade de variáveis é imensa, a matéria leccionada, a qualidade e ambição dos alunos, até mesmo a hora do dia em que a aula tem lugar. Se o método expositivo funciona, se envolve os alunos e os motiva, por que razão devo mudar? Se outro entende que, naquele contexto específico, a melhor estratégia é o recurso às novas tecnologias da informação, que assim seja.
O que é uma boa aula? Eu sei quando chego lá, os professores sabem.
É por isso que uma avaliação de professores não pode estar centrada nas novas “tretas” evangelizadas pelas “ciências” da educação, com as suas resmas de grelhas, quadros, implementações, objectivos, observações, estratégias diferenciadas e inclusivas e outras aberrações que mais não fazem do que infantilizar o professor e retirar substância ao ensino, a ponto de o transformar num balão cheio de ar que, mais dia menos dia, nos rebentará na cara.
Convenhamos, há bons professores para os quais o ensino parece algo de inato e que, sem gostar do termo, arriscaria, é quase uma vocação; outros que, com mais ou menos dificuldades, chegam lá, aprendem com os erros e melhoram a cada dia; e também outros que bem podiam tentar a sorte noutro ofício. Nenhum livro ou grelha ensina a ser bom professor.
Avaliar um professor de forma objectiva (quanto possível) não pode assentar no aspecto formal da prática pedagógica, mas apenas na qualidade científica da mesma. Tudo o resto é cair no domínio do aleatório e do inútil. A minha avaliação não pode também estar dependente do abandono escolar, do sucesso dos alunos, do acompanhamento sócio-psicológico realizado ou não junto das famílias, do grau de diversão ou aborrecimento do aluno durante as aulas, de portefólios, relatórios ou de uma qualquer ficha de auto-avaliação. Se sou professor de Filosofia ou Matemática, é isso que tenho de fazer, ensinar Filosofia e Matemática. É isso que tenho de saber e é nisso que tenho de ser bom.
Um modelo de avaliação que se queira justo, coerente e respeitado tem de incidir na formação científica permanente do professor. Tomem-se algumas ideias que podem servir para pôr em prática um modelo destes, talvez alguém lhes pegue e cuide de pensar nos detalhes que aqui não cabem:
Argumentar-se-á que o conhecimento científico não basta para fazer um bom professor ou uma boa aula! Pois não, mas também já vimos como é difícil definir um bom professor ou uma boa aula. A quantos professores que odiámos, viemos mais tarde a reconhecer o mérito e a lamentar não ter aproveitado mais?
Inerentes à condição de bom professor devem estar muitas e discutíveis qualidades mas, por mais voltas que se dêem, uma estará sempre presente, a de “saber daquilo que é suposto ensinar”. Avaliem-se pois os conhecimentos dos professores e estimule-se o inconformismo com aquilo que já se sabe. Não será o modelo ideal. Não há um modelo ideal. Tem a vantagem de ser mais simples, transparente e rigoroso. Não é o que todos queremos?
Como se avalia a qualidade de uma aula? Um professor circula pela sala, distribui apontamentos e ajuda a resolver exercícios, noventa minutos depois, na sala de professores, diz “hoje sim, foi uma boa aula”. Na sala ao lado, outro passa o mesmo tempo sentado à secretária, expõe matéria e debate com os alunos, sai com o ego inchado, “foi a melhor aula do ano”. Outros podem utilizar um quadro interactivo, um trabalho de grupo ou ainda uma saída para o exterior e fazer qualquer coisa de mais prático para motivar os alunos. Naquela aula, naquele momento, com aqueles intervenientes, as coisas funcionam. O que é uma boa aula?
Não falamos de máquinas ou de um qualquer artigo produzido em série numa unidade fabril, embora os sucessivos ministérios da educação (assim, com letra minúscula) sonhem com uma formatação e normalização deste tipo. Não há um ideal platónico de “aula perfeita” a que todas as outras devam acercar-se. Aqui e agora a estratégia funcionou, até agora tem funcionado, vamos ver amanhã. Quando não funcionar, o professor sabe que tem de alterar. Não me venham agora com as estratégias diversificadas. Sempre as houve. Não se confunda é diversidade com imbecilidade.
A quantidade de variáveis é imensa, a matéria leccionada, a qualidade e ambição dos alunos, até mesmo a hora do dia em que a aula tem lugar. Se o método expositivo funciona, se envolve os alunos e os motiva, por que razão devo mudar? Se outro entende que, naquele contexto específico, a melhor estratégia é o recurso às novas tecnologias da informação, que assim seja.
O que é uma boa aula? Eu sei quando chego lá, os professores sabem.
É por isso que uma avaliação de professores não pode estar centrada nas novas “tretas” evangelizadas pelas “ciências” da educação, com as suas resmas de grelhas, quadros, implementações, objectivos, observações, estratégias diferenciadas e inclusivas e outras aberrações que mais não fazem do que infantilizar o professor e retirar substância ao ensino, a ponto de o transformar num balão cheio de ar que, mais dia menos dia, nos rebentará na cara.
Convenhamos, há bons professores para os quais o ensino parece algo de inato e que, sem gostar do termo, arriscaria, é quase uma vocação; outros que, com mais ou menos dificuldades, chegam lá, aprendem com os erros e melhoram a cada dia; e também outros que bem podiam tentar a sorte noutro ofício. Nenhum livro ou grelha ensina a ser bom professor.
Avaliar um professor de forma objectiva (quanto possível) não pode assentar no aspecto formal da prática pedagógica, mas apenas na qualidade científica da mesma. Tudo o resto é cair no domínio do aleatório e do inútil. A minha avaliação não pode também estar dependente do abandono escolar, do sucesso dos alunos, do acompanhamento sócio-psicológico realizado ou não junto das famílias, do grau de diversão ou aborrecimento do aluno durante as aulas, de portefólios, relatórios ou de uma qualquer ficha de auto-avaliação. Se sou professor de Filosofia ou Matemática, é isso que tenho de fazer, ensinar Filosofia e Matemática. É isso que tenho de saber e é nisso que tenho de ser bom.
Um modelo de avaliação que se queira justo, coerente e respeitado tem de incidir na formação científica permanente do professor. Tomem-se algumas ideias que podem servir para pôr em prática um modelo destes, talvez alguém lhes pegue e cuide de pensar nos detalhes que aqui não cabem:
- Para progredir na carreira, de 4 em 4 anos, por exemplo, o professor teria de frequentar uma acção de formação sujeita a avaliação rigorosa e discussão pública do trabalho desenvolvido. Chamem-lhe pós-graduação, mestrado, doutoramento ou apenas prova de actualização de conhecimentos, não interessa.
- A responsabilidade por ministrar essas acções caberia aos estabelecimentos de ensino superior públicos, através da apresentação de projectos às escolas e assinatura de protocolos de cooperação.
- Como seria inviável fazê-lo para cada estabelecimento de ensino, definir-se-ia uma área geográfica limite. Imagine-se que aos professores de Filosofia de Castelo Branco, Fundão, Covilhã e Idanha-a-Nova se apresentavam para análise projectos de formação elaborados por universidades como as da Beira Interior e Nova de Lisboa. Democraticamente, e de acordo com o número de potenciais formandos, seria(m) escolhido(s) o(s) projecto(s) que mais interessasse(m) aos professores, sempre dentro da área de leccionação.
- As aulas/seminários dividir-se-iam entre presenciais e não-presenciais (com predomínio destas) e seria sempre o formador a deslocar-se e não o contrário.
- No final da acção, o professor teria de apresentar uma tese e defendê-la perante um júri (à semelhança do que acontece num mestrado ou doutoramento).
- Conforme a classificação obtida (quantitativa), assim a progressão ou não na carreira e a bonificação em termos de remuneração.
- Os custos envolvidos não seriam significativos, pelo menos se comparados com a opulência em que boiavam os Centros de Formação espalhados por esse país fora e se tivermos em atenção que, em muitos estabelecimentos do ensino superior, escasseiam horas e sobram docentes. Seria uma forma de todos beneficiarem, para além de contribuir para estimular e consolidar as ligações entre os diversos níveis de ensino.
Argumentar-se-á que o conhecimento científico não basta para fazer um bom professor ou uma boa aula! Pois não, mas também já vimos como é difícil definir um bom professor ou uma boa aula. A quantos professores que odiámos, viemos mais tarde a reconhecer o mérito e a lamentar não ter aproveitado mais?
Inerentes à condição de bom professor devem estar muitas e discutíveis qualidades mas, por mais voltas que se dêem, uma estará sempre presente, a de “saber daquilo que é suposto ensinar”. Avaliem-se pois os conhecimentos dos professores e estimule-se o inconformismo com aquilo que já se sabe. Não será o modelo ideal. Não há um modelo ideal. Tem a vantagem de ser mais simples, transparente e rigoroso. Não é o que todos queremos?
11 comentários:
Não me parece esta uma má ideia, mas:
1) Coloca toda a ênfase na pretensa qualidade científica das universidades, mas isso é uma fantasia e é nessa fantasia que está a origem da falta de qualidade do ensino secundário, por exemplo.
2) Coloca uma vez mais a ênfase na carreira dos professores. Ora, para um aluno tanto faz se o professor é abaixo de cão profissionalmente ou não: desde que possa dar-lhe aulas, é isso que é mau, se ele for um mau professor.
Daí que a minha abordagem seja pela positiva, em vez de ser pela negativa. Nada tem a ver com progressão na carreira, porque isso é uma treta puramente laboral, que nada tem a ver com o interesse dos estudantes, nem do país. O que conta para o país e para os estudantes é a qualidade do professor, e não a sua progressão na carreira. E procurar assegurar a qualidade através da progressão não funciona: basta pôr os olhos nas universidades! Desde quando é que um professor universitário catedrático é necessariamente melhor do que um assistente? Muitos dos melhores professores que tive quando era estudante eram apenas assistentes; os catedráticos eram alguns dos piores.
Reforço a observação do Desidério. Dos professores que tive no IST, não era a categoria de catedrático que garantia o melhor professor. Embora alguns catedráticos fossem extraordinários (saudoso Prof. Moncada !), em muitos casos os Assistentes eram bem melhores. Não sei se sabiam mais ou menos do que o profe da cadeira. O que sei é que enquanto na aula teórica, com o profe, ficávamos a ver navios, na aula prática, com alguns dos Assistente, até a teoria vinha de lá sabida.
Mas não posso esquecer outro aspecto importante. Ainda hoje mantenho uma tertúlia com antigos colegas do Liceu. É opinião unânime que os melhores professores que tivemos foram aqueles que, coincidência ou não, mantinham a disciplina na sala de aula.
Por vezes implacáveis na expulsão de um aluno mais irrequieto e consequente marcação de uma falta disciplinar (nesse tempo três dessas faltas davam direito a um chumbo na cadeira…) esses professores mantinham na aula o imprescindível silêncio para serem ouvidos e entendidos. Saíamos dessas aulas com a matéria já alinhada e pouco trabalho era necessário em casa. Todos recordamos com saudade esses professores.
Hoje em dia a bagunça nas escolas é inqualificável. A autoridade dos professores foi pulverizada pelos facilitismos introduzidos no ensino por uma classe de funcionários delirantes, para dizer o mínimo, que dominam o Ministério.
Por isso, quando o mesmo Ministério fala em avaliação de professores, sem primeiro criar as condições que restaurem a disciplina nas escolas e a autoridade dos professores, há aqui alguma coisa que está errada.
Na escola esse trabalho que permitiria avanço na nossa formação científica e no encontrar do melhor modo de passarmos o conhecimento podia ser feito nos grupos disciplinares. Mas a entretenga é sempre muita e impede que isso se faça.
Lembro-me de, quando tivemos de fazer as substituições apalhaçadas, ter tido que "servir" aos alunos uma ficha de matemática com erros e falta de rigor. Ainda propus que profes de matemática e de português discutissem e trabalhassem a ficha mas foi uma heresia. Descobri depois que a autora da ficha até está ligada a uma escola superior e anda por aí a fazer formação de profes de matemática. A senhora irá preencher umas grelhas e ter excelente na sua avaliação.
Atenção, a ficha era mesmo muito má - como me encostaram a mim à parede, consultei matemáticos que confirmaram
o desastre.
Se houvesse condições para este estudo nas escolas incomodar-me-ia menos a ignorância da senhora. Ir-se-ia aprendendo. Esta montagem de titulares e avaliação acabou de todo com essa possibilidade. Assim é preocupante.
Repare-se que o nosso maior problema não é a formação deficiente dos professores. É antes a recusa em admitir tal coisa. É isso que impede a formação contínua de qualidade, tanto individual quanto cooperativa. Como todos têm vergonha de dizer "Não li, não conheço, não compreendo, nunca estudei isso", toda a gente inventa tretas para fingir que sabe o que não sabe e que domina o que mal compreende. Este é o problema de base. Com professores titulares ou sem eles, fica tudo na mesma.
"Avaliar um professor de forma objectiva (quanto possível) não pode assentar no aspecto formal da prática pedagógica, mas apenas na qualidade científica da mesma." Esta negação da subjectividade num ofício que vive de um corpo a corpo (e mente a mente) diário com uma enorme variedade de alunos parece-me inaceitável. Não pretendo desvalorizar a importância da preparação científica dos professores ou o papel fundamental dos conteúdos de ensino, pelo contrário. Porém, uma aula é muito mais do que isso: é um ensinar e um aprender mediado por centenas de micro decisões (que não decorrem só do saber científico) que nos fazem sentir (ou não), como diz o autor deste post, “hoje sim, foi uma boa aula”. Não podemos (ainda bem) fugir ao factor humano. Como não podemos negar o contributo de várias ciências (não estou a falar do eduquês) ou das novas tecnologias.
A maior “complicação” do momento actual advém, a meu ver, deste desejo inexequível de objectividade; da pretensão de avaliar o professor desgarrado do seu contexto e de todos os factores que condicionam a sua acção; de misturar a gestão da carreira com estes assuntos.
E, last but not the least, de não se saber neste momento em Portugal o que se pretende da Escola.
Não conheço mais nenhuma profissão (nem mesmo professor do ensino superior) que obrigue os trabalhadores a fazer um mestrado todos os 4 anos, até ao fim da carreira! Um professor terminaria a carreira com 10 pós-graduações. Já agora, porque não começamos pelo ensino superior?
Ou será que percebi mal a sua proposta?
Eu compreendo a importância da actualização de conhecimentos, mas esta proposta parece-me do domínio do delírio. Além disso, isto não avalia a prestação dos professores nas aulas e nas restantes tarefas, avalia apenas a participação em seminários.
Um belo "seminarista" com muitas fotocópias e pauerpóintes podia conseguir uma bela nota, ao mesmo tempo que profissionalmente era uma bela nódoa.
A Ana Paula coloca problemas importantes. Detenho-me sobretudo na questão final - neste momento em Portugal o que se pretende da escola?
A crise que se vive está já a sentir-se e vai sentir-se de forma mais aguda nas escolas. Muitas famílias vão debater-se com graves problemas económicos e em casa onde não há pão...O desemprego vai ser flagelo para muitos.
Os alunos vão sentir múltiplas pressões e estarão longe de expetativas otimistas para as suas vidas. Como vai a escola gerir tudo isto? Que apoios, que aprendizagens, que oferta? Espaço de bem estar ou de mal estar agravado?
Sabe-se que já muitos colégios privados se debatem com o não pagamento de mensalidades.
As autarquias estão à míngua para prestar às escolas o apoio que lhes compete.
E dificilmente as coisas melhorarão. Pelo contrário. Nenhum robot compra o carro que fabrica e para isto não há remédio.
A educação foi um dos primeiros setores onde se pretendeu reduzir gastos com "pessoal". Infelizmente fez-se a poupança de forma dissimulada e desastrada.
Um dia ao ajudar a minha filha na elaboração de um trabalho pude constatar, após ler alguns textos sobre a natureza da pedagogia, que modernamente se tende tranformar o ser pedagógico numa ciencia quase determinista.
Mas sempre aprendi e verifiquei ao longo da vida que ensinar é de facto uma ciência mas acima de tudo, é também, uma arte.
Ensinar é um acto quase orgânico integrado numa realidade onde concorrem demasiado factores imponderáveis e que não são susceptíveis a uma avaliação ortogonal e apenas científica.
Um professor de história ensinou-me mais na aula de apresentação que o anterior durante todo o ano.
A síntese que fez sobre a antiguidade clássica sobre um mapa da europa que rapidamente, desenhou no quadro e como, concisamente, nos situou no momento histórico em que íamos começar o ano, deixou-me entusiasmado e estarrecido.
Existem métodos pedagógicos. Podem existir tácicas na abordagem dos temas, pode haver grelhas para a observação e sequentes feed backs para rectificação das acções de ensino. Tudo isso que pretendemos inserir na pedagogia entendida como uma ciência quase exacta..... mas além disso ponderará a arte nesse momento único de empatia entre o professor e o aluno que não é mensurável nem, por isso, avaliavél por mais ninguém.
O ensino/aprendizagem é coisa sagrada demais para ser avaliada.
A avaliação é apenas o moderno chicote dos capatazes face aos escravos. O professor e o aluno estão num momento superior onde não pode haver chcotes no ar. Tudo tem de ser sereno para o espirito entrar.
cumps
Concordo com o texto em que avaliar _como dar a aula_, a estratégia de ensino, não é o melhor. Discordo completamente por de fora os resultados alcançados. Afinal para que é que se ensina? E outra coisa que o texto implica é que um professor que saiba/domine os conhecimentos da sua área de ensino os melhor consegue transmitir. Qualquer pessoa que tenha passado tempo suficiente numa escola, da Primária à Universidade sabe que isso não é verdade.
Um dos problema dos modelos de avaliação é matarem o fim último das actividades avaliadas. Ainda gostava de ver um estudo ou O Estudo (que concerteza houve, afinal estamos no país dos Estudos) onde se relacionam os critérios do modelo com a melhoria da qualidade de ensino. E estou também curioso de conhecer quais os critérios que medem esta "qualidade de ensino".
É de facto necessário que os professores possam evoluir, tenham espaço para isso, se documentem. Neste momento muitos saem da Universidade e fecham os conhecimento à chave, estagnam. Por relaxe ou porque, no dilúvio de papeis e papeletas que o ME exige não há tempo para mais.
Resumindo (ou expandindo) é preciso saber onde por a tónica:
1. estamos a avaliar a metodologia? Ie, se o professor fizer A+B+C assume-se, qual receita culinária, que os alunos deveriam aprender e se não o fazem a culpa não é do professor mas alguma razão externa a este?
2. estamos a avaliar os resultados da aprendizagem? Ie, o que importa é ter alunos que dominam os conhecimentos exigidos e a sua aplicação e cabe ao professor arranjar estratégias chegar a bom porto?
3. estamos a avaliar os conhecimentos sobre a área leccionada, assumindo que um professor que domine esta é "naturalmente" capaz de ensinar e obter bons resultados?
Não penso que tenha colocado a ênfase na carreira dos professores. Apenas considero que, sendo necessária uma avaliação, esta terá de incidir na sua preparação científica. Aproveitando a deixa de Desidério Murcho, para que não se possa dizer que "não li, não conheço, não compreendo, não estudei isso". Como afirmo no texto, sei que não será por aí que um mau professor deixará de o ser, mas terá, sem dúvida, uma outra preparação. Quer-me parecer que será sempre preferível um professor que domine a matéria, independentemente de conseguir ou não que ela chegue aos alunos (por inépcia pessoal ou por contributo de inúmeros outros factores que dele não dependem).
Sei também que nem todas as universidades, cursos ou departamentos primam pela qualidade, ainda assim, é nelas que se vai fazendo alguma investigação. Caberia às escolas escolher o projecto de formação que oferecesse mais garantias e qualidade. Não penso que as acções que proponho tivessem de passar pelo grau de exigência de um mestrado, chamem-lhe o que quiserem, foi só um nome. E que sejam 10 ao longo de uma carreira! Não vejo problema nisso, problema seria fazer 20 ou 30 formações como as que existiam, repetidas de ano para ano com outro nome, sobre tudo e mais alguma coisa e sem qualquer avaliação digna desse nome.
Um profesor que, para progredir na carreira, vá assimilando conhecimento e treinando o raciocínio e a argumentação na sua área de ensino, não estará a contribuir para um ensino de qualidade?
Como escrevi, sei que não basta isso para fazer um bom professor. A minha dificuldade está na forma de valiar tudo o resto.
Miguel Cardoso
Opinião de Vitorino Magalhães Godinho sobre o acto de ensinar, ver em:
Deixem-nos ensinar
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