Hoje é dia de cantar os "Parabéns a você" a Manoel de Oliveira, o cineasta português que é o mais antigo ainda em actividade, pelo seu centésimo aniversário. Para o fazer deixo um cartoon de Henrique Monteiro e um excerto da entrevista que ele deu a Sérgio C. Andrade e que foi publicado na revista "Pública" de domingo passado, onde fala sobre natureza e civilização:
"P- De que planeta é que gostaria de vir ou a qual se imaginaria a pertencer?
MO- Não penso nisso. A gente vem, por virtude da natureza. A natureza é sábia na construção do universo e nós somos também filhos da natureza. Ninguém nasce por vontade própria. Enfim, aquilo que a natureza nos dá, se não estivermos satisfeitos, é a possibilidade de liquidarmos a nossa vida. Fora isso, obriga-nos a viver. Para isso, dotou-nos da fome, para nos obrigar a comer, e dotou-nos do desejo da mulher, para dar continuidade à espécie. Só para estes dois fins. Os pássaros correm o ar à procura de alimento, de manhã até à noite...
P- Parece uma coisa tão simples e, afinal, é a base da civilização.
MO- Não é a base da civilização. Não tem nada a ver com isso. Pelo contrário: o homem destrói o processo natural, com a poluição, com a bomba e tudo o que é atómico, que é um lixo que destrói tudo. Isso é que é a civilização. O resto é a natureza, que tem as suas leis e delas deriva a ciência. Mas a civilização é que estraga isso... Os índios, sim, eles é que defendem a natureza, porque sabem que dependem dela. A civilização predominante é agora a europeia, em todo o mundo: na China, no Japão, na América... É a nossa civilização ocidental, que vem desde a Grécia e de Roma, que é mediterrânica e greco-latina, embora, depois da derrota da Invencível Armada, tivesse passado da Península Ibérica para a Inglaterra, e, depois da Segunda Guerra Mundial, passou de Londres para Washington, onde agora continua..."
2 comentários:
Não concordo com a parte dos índios (agora chamados de americanos nativos...). Se é verdade que são vistos como vivendo em comunhão com a Natureza, não é menos verdade que também fizeram os seus estragos antes. Se bem me lembro, existem registos da presença de cavalos (ou aparentados dos mesmos) na América desde há milhares de anos. Só que os que existem hoje são descendentes dos que os europeus para lá levaram, já que os nativos os tinham exterminado, tal como a muitas outras espécies. Os índios não são muito diferentes dos restantes humanos, no fundo.
No telejornal, o apresentador afirma: "Manoel de Oliveira ficou emocionado com o prémio que recebeu do presidente da República..."- Para quem está habituado a conviver com a ironia, é hilariante.
Só agora descobri a obra de Manoel de Oliveira e estou realmente fascinada e entusiasmada. É preciso ler, ler muito, para adquirir uma espécie de atenção vital, vital e humilde. E sejamos lúcidos, o génio não é complacente com os nossos egos mais ou menos engordados: os génios não estão nada preocupados em nos dizer o que queremos ouvir... Graças a Deus!!!
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