Pedi ao professor Mário Forjaz Secca, professor de Biofísica na Universidade Nova de Lisboa que se manifestasse sobre o Acordo Ortográfico. O Mário teve no passado uma parte activa na resistência do Grémio Literário ao Acordo Ortográfico, e conhece bem as motivações que o animam.
Há cerca de 20 anos, fiz parte do Movimento Contra o Acordo Ortográfico, organizado através do Grémio Literário. Nesse grupo estavam o Vasco Graça Moura, o Manuel Villaverde Cabral, a Prof. Leonor Buescu, a Prof. Maria Helena Ureña Prieto e o actual Secretário de Estado Adjunto e da Administração Interna José Magalhães, entre outros. Depois de muita "guerra" pensávamos que as coisas tinham ficado de molho.
Muitos anos depois, um grupo de (des)iluminados volta à carga, obviamente por razões que não os interesses de quem fala o português. Interesses esses que na altura eram bem económicos e pouco disfarçados, ligados a grupos editoriais brasileiros, segundo se falava, e apoiados em grande parte por muitos amantes da informática, para os quais ter de escrever com acentos é uma "chatice" e só complica a utilização do computador. É o assustador lema de muitos tecnólogos: somos nós que nos devemos adaptar às máquinas e não as máquinas que se devem adaptar a nós.
Há algumas considerações que gostaria de adicionar aos já muitos argumentos que tenho ouvido:
1. Quem faz a língua são os escritores e não os políticos. São os Fernandos Pessoa, os Mários de Sá Carneiro, os Mias Couto (apesar de ele ter escrito alguma coisa a favor do Acordo) que determinam como a língua se escreve e não os políticos (alguns deles com cursos de Engenharia pouco claros). Legislar a língua não faz sentido, porque não vejo maneira de forçar a sua implementação. Passaremos a ir para a cadeia se escrevermos contra o Acordo Ortográfico? Seremos multados se publicarmos livros com ortografia contra o Acordo Ortográfico? Qual o interesse em legislar uma coisa que não se pode penalizar? Claro que se podem obrigar as escolas a utilizar a nova grafia, pois esses são os centros da ditadura de estado, encobertos com a capa da liberdade de educação (não nos esqueçamos que no sistema escolar obrigatório só chega ao fim quem disser exactamente aquilo que o estado quer que se diga, não há lugar para pensamento criativo ou autónomo).
2. Não se entende qual o interesse em uniformizar a grafia quando a semântica é muito diversa. Há palavras como "camisola", "sítio", "rapariga", "bicha", entre outras, que têm significados diferentes no Brasil e em Portugal. Isto sem mencionar palavras usadas em Angola, Guiné, Cabo Verde e Moçambique (onde nasci e vivi). Qual é o interesse em uniformizar a forma se os conteúdos são distintos? Os brasileiros querem vender livros em Angola e Moçambique escrevendo da mesma maneira mas usando palavras com significado diferente? Não faz o mínimo sentido. Além disso há termos que são mesmo completamente diferentes, como "terno" e "fato". Será que faz sentido obrigar toda a gente a escrever "terno" da mesma maneira e depois quando se manda um livro brasileiro para Moçambique ninguém sabe o que é "terno" porque lá todos utilizam "fato"? Há definitivamente um problema de lógica neste ponto.
3. A linguagem científica é de tal modo distinta que ninguém de nenhum lado a quer uniformizar. Eu sou Físico Médico, o que significa que trabalho com Física e com Medicina. Ora em Física nós utilizamos palavras como "electrão" e "protão" e no Brasil utilizam "eletrón" e "protón". São apenas dois exemplos porque existem dezenas de outros. Na Medicina então a diferença é maior ainda e nunca os nossos médicos irão utilizar a terminologia brasileira nem os médicos brasileiros irão utilizar a nossa terminologia. Foi dito que essas diferenças serão toleradas. Qual o interesse então, mais uma vez, em querer uniformizar a escrita da língua para os países africanos quando nem decidimos qual a terminologia que irão utilizar, se a portuguesa se a brasileira? A mim parece-me que isto é tudo uma manobra para algumas editoras brasileiras poderem passar a vender oficialmente os seus livros em África com o pretexto que estão escritos de uma maneira uniforme (apesar das diferenças abissais em centenas de palavras cruciais). Talvez o Mia Couto então se aperceba do disparate que defende. Irão os médicos moçambicanos mudar toda a sua terminologia anatómica da versão portuguesa para uma brasileira? E os físicos e engenheiros angolanos passar a utilizar os termos técnicos brasileiros depois de terem estudado em Portugal com termos técnicos portugueses?
4. Um Acordo que faz Portugal aproximar-se de uma das escritas do Brasil e permite que, por razões das variações locais da língua falada no Brasil, se continuem a aceitar escritas diferentes dentro do Brasil é algo que não faz sentido algum.
A comparação com o inglês é sempre interessante. Eu vivi na Inglaterra quase doze anos e reparei que os ingleses nunca se preocuparam se os americanos escreviam de forma diferente ou não. Para os ingleses o problema é dos americanos, não deles. Nunca foi por isso que a língua inglesa deixou de ter importância no mundo. As palavras escritas de forma diferente são incontáveis, como as terminações "...our " em Inglaterra e "...or" nos EUA (como, por exemplo, "colour" e "color"), as terminações em "...re" e em "...er" (como em "centre" e "center"). Os ingleses fazem a língua através da sua escrita forte, apesar de serem muito menos do que os americanos; fazem a sua cultura valer (nós "vendemos" a nossa cultura). Em Inglaterra e nos Estados Unidos a diferença de terminologia também existe e forte, como "luggage" e "baggage". E tenho muitas dúvidas com respeito ao castelhano. Já estive no Uruguai, Argentina, Bolívia, Chile, Perú, Venezuela e os termos utilizados são por vezes tão distintos que não sei se a grafia será mesmo sempre a mesma. Contudo não é de certeza essa variação que diminui o valor e a difusão da língua castelhana.
Se queremos defender a nossa língua, o português, em toda a sua pluralidade de versões, portuguesa, brasileira, angolana, moçambicana, guineense ou caboverdiana, o que temos de fazer é incentivar a literatura de língua portuguesa, apoiar novos escritores, independemente do país de onde vierem, e não legislar a sua ortografia.
Mário Forjaz Secca
sexta-feira, 18 de abril de 2008
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22 comentários:
Apesar de ser um "amante da informática" (e felizmente profissional da mesma), os acentos não me fazem diferença nenhuma, aliás quando me é impossível usar acentos, faço uso dos apóstrofes quando tal não dificulta a leitura.
Devo dizer que concordo plenamente com a visão que o Professor apresenta, especialmente no que diz respeito ao argumento da semântica e aos interesses económicos Brasileiros.
Enquanto uns apontam a diversidade como uma fraqueza, pessoalmente vejo como uma força.
Os Caros Bloggers e restantes participantes deste Blog vão-me desculpar a franqueza, mas neste momento penso que esta estória do Acordo ortográfico já ultrapassa todas as marcas de discussão, tendo em consideração o que ele vale.
Penso que já se percebeu que o acordo é uma treta, motivada por muitos e diversos interesses, que não os que se impunham quanto ao respectivo título.
Penso que também já está claro que a capacidade que este acordo tem em termos de produção de mudanças na escrita é realmente nula.
Sabendo que um "Acordo Bilateral" (ainda por cima ortográfico) vincula as partes, mas só é lei se for devidamente vertido para a legislação nacional com carácter de Lei, Decreto-Lei ou Portaria. Sabendo que não se vai pôr um inspector ortográfico pr cima do ombro de todas as pessoas que todo os dias ecrevem milhões de palavras (bem e mal escritas). Ou seja, o impacto na nossa vida vai ser nulo.
Porquê tanta preocupação e tanto tempo gasto com um assunto verdadeiramente de Merda?
Só consigo ver uma consequência realmente nefasta e pergunto-me se será essa a melhor razão para lhe continuar a bater. Essa razão tem a ver com o português que vai, daqui para a frente, ser utilizado nos manuais escolares?
Eu, cá pelos meus lados e pela minha equipa (que contém Brasileiros) vamos continuar a vestir Fatos para irmos a reuniões em que analisamos factos! Pois continuo a achar que não vale a pena perder tanto tempo com tais estultices.
A cor do ortográfico é verde amarela...
Prof. Mário Secca
Quanto ao acordo estamos de acordo.
Não querendo entrar em generalizações, parece-me no entanto que esta questão é mais uma faceta do tique conservador e intolerante que atinge toda a sociedade em Portugal: das ciências às letras, dos tecnocratas aos artistas, das universidades às empresas, da política ao futebol; Tudo se tem tentado formatar.
É exactamente neste ponto que deveríamos pôr os olhos nos nossos mais antigos aliados que o Mário Secca tão bem conhece: eles sempre souberam melhor encontrar o equilíbrio entre o velho e o novo; entre o estabelecido e o possível ou desejável.
Cumprimentos.
Seu ex-aluno e colega.
P. Sustelo
E se um professor não quiser ensinar de acordo com este "acordo"?
Sinceramente, não me "apetece" começar a escrever e a ensinar ortografia assim...
é muito curioso ver alguém que brinca tanto com as palavras defender uniformes totalitários...
Ah, a bela resistência à mudança dos portugueses. Parece até que o Mundo vai cair por se alterar a grafia de algumas palavras. Mas haverá alguém, tirando claro a nobreza de barriga cheia dos nossos diletantes cultos, que se interesse se fato se escreve "facto" ou "fato"? Será que já ninguém se lembra da polémica que foi a introdução de termos ingleses na nossa língua, ou a inclusão do "bué" no dicionário? Aparentemente o Universo não colapsou por esse motivo. Nem sequer o universo editorial... Portanto, meus senhores, vamos pôr as coisas em perspectiva.
E depois claro, a conspiração dissimulada em todos os lugares dos grandes interesses financeiros. Esta obsessão, meio "comunismo pop", esquece-se, claro, que são os interesses dos indivíduos cultos nacionais quem mais se está a opor a esta mudança.
Não sei se as pessoas não têm memória, se continuam a valorizar ideologias mais do que factos, ou se são mesmo mal intencionadas. Parece-me um absurdo dizer-se que isto são "políticas de engenheiros". É retrógrada esta ideia peregrina dos cumputadores como máquinas abolidoras de acentos, a quem a vontade humana se verga. É incrível que ainda se dê razão a tamanhos disparates. E parece-me também absurdo que se preste tanta importância a esta pseudo-guerra.
Vamos ser sinceros: ainda não houve uma única pessoa com quem tenha falado que, depois do impacto inicial, não tenha reconhecido que isto é uma discussão sem interesse.
Mas (e isto é dar mais importânica ao assunto do que ele tem), a nossa língua não morre por mudar. Bem pelo contrário. Enquanto o português-Portugal está moribundo, o português-Brasil está vivo e em constante actualização. O melhor dicionário da língua é brasileiro, e o que mais dói no estômago da intelectualidade portuguesa é que os maiores especialistas que pensam de forma útil a vida o são também.
Será que tantos textos seguidos sobre um assunto tão minúsculo ainda se justificam neste blog?
Ricardo
A ortografia do espanhol não é diferente porque nunca houve a loucura da "simplificação" de 1911.
Ainda agora se encontra gente que crê que a ortografia do português do Brasil é diferente porque "evoluiu", ideia que é usada para explorar a paixão pelo novo, escondendo-se que a «evolução» toda foi costurada em Lisboa. Os adeptos do não seriam as forças de bloqueio, adversáriso do progresso. É uma camapnha bastante antiga!
Penso que ninguém está interessado em mudar a grafia - eu nunca a mudarei, mas espero que o(s) governo(s) acate(m) o que se percebe ser a vontade da maioria dos portugueses. Pelo menos por uma vez.
Neste texto está implicitamente um argumento absurdo. Quem faz a lingua não são os escritores mas sim os falantes. A construção mental da linguagem é um processo assimilativo de um método exterior ao facto e que provém da oralidade e não da leitura.
O latim é muito lindo, mas vejam só o que lhe aconteceu!!! É preciso evoluir e não estarmos sempre á procura de argumentos que, "á priori" sabemos que são infundados.
777ALFAÓMEGA88
Finalmente vejo que a maioria dos intervenientes incluindo o autor do blog dão na certa!!!
Enquanto se perde tempo a discutir algo que não tem discussão sucede que uma data de "iluminados" de candeeiro a petroil ganham tempo para se poderem pavonear na comunicação social.
Até dava "nojo" as poses do "iluminado" Carlos Reis perante as câmaras da TV governamental.
E a outra classe a quem tudo isto interessa??
Essa bate as palmas de contente entre duas passagens pelo Gambrinus quando fogem do Convento. Se o Orago do mesmo soubesse para o que estava destinado teria pedido outra Salvação!
Enquanto se perde este tempo, os políticos não resolvem os assuntos que deviam, os editores apertam as mãos com os negócios que por aí vêem e certos têm ocasião de mais uma vez dizerem tudo pela primeira vez.
Vamos aproveitar o tempo a difundir a língua, com as suas variantes, pois são elas que lhe dão a força.
Que os escritores escrevam
Que os poetas rimem
Que os cantores cantem
Que os actores declamem
E assim a língua não morrerá mas, isso sim, renascerá todos os dias e cada vez mais viva, mais actual, mais colorida.
Nota: O Português usado foi o do Pré Hacordo Hortographyco.
Este meu comentário deve ser entendido como uma declaração de voto, já que, votei mau, por não existir a opção de péssimo, explico:
Escreve o Doutor Mário Forjaz Secca, “Quem faz a língua são os escritores e não os politicos”
Claro que não. Quem faz a língua, são os falantes. Mas, o problema é que não falamos da língua e sim da ortografia, e esta, resulta de um conjunto de regras político-administrativas convencionadas e não de séculos de interacção entre fala e escrita, não é uma coisa natural. O resultado, pese embora a quem com honestidade intelectual é contra o Acordo (que não me parece ser o caso) defendendo razões culturais e históricas da grafia (graphia) de cada palavra, tem sido o de não existir qualquer estratégia para se escrever correctamente que não passe pela memorização do léxico e também pela interiorização das regras devido à experiência que vamos adquirindo.
PS: Quando temos em atenção a combinatória de uma imagem acústica com um significante e, na definição, tivermos em conta a língua escrita, concluiremos que, o significante não intervém só na imagem acústica mas também na imagem gráfica, depois, o Acordo, só trata de pronúncias cultas não se debruçando sobre as não cultas, logo, não elimina nenhuma palavra ou qualquer letra que se leia numa pronúncia culta, razão porque, os casos em que a resistência à mudança assume contornos imperialistas, estão normalmente enfermos de inexactidão e lançam poeira com exemplos como “facto-fato” ou “pacto-pato” que não alteram, mas aceitam pacificamente (e muito bem) as modificações naturais da língua como a adopção dos termos acabados em ismo: salazarismo, guterrismo, ou expressões novas como ciberespaço e teletrabalho porque, a língua, é um organismo vivo que muda e se adapta aos tempos e costumes, não fosse isso e ainda escreveríamos monarchia como o fazia Fernando Pessoa depois da reforma de 1911.
PPS: Portugal, enquanto Pátria da lusófonia, só tem a ganhar com este acordo que, para além de simplificar a escrita ao retirar parte das consoantes sem valor fonético e que só existem por tradição ortográfica e similaridade do português com outras línguas românicas, simplifica também o processo de escrita e o de aprendizagem, já que, não altera a sintaxe, não cria ou elimina qualquer palavra, nem existe a intenção de acompanhar no extremo a naturalidade com que se fala, nem tão-pouco interfere com a coexistência ou regras linguísticas regionais, depois, é também essencial para a unificação institucional e plural da língua nos países da CPLP que, unificada, ganhará poder de afirmação nas instâncias internacionais, e é, uma medida fulcral para que a língua dos lusofalantes continue bem de saúde, não siga rumos diferentes e, um dia, não tenhamos de enfrentar o salazarista “orgulhosamente sós”.
Mais uma vez, concordo plenamente.
PiresF: mas a verdade é que quem estará "orgulhosamente só" serão os Brasileiros.
Isto não se trata de sermos Velhos do Restelo ou resistentes à mudança. Trata-se de não aceitar a mudança apenas e só porque é mudança (para mim seria mudança para pior). Trata-se de resistir isso sim a interesses económicos escamoteados e de não haver qualquer necessidade da nossa parte de mudarmos as regras ortográficas pelas quais nos regemos (e por nós entenda-se Portugueses, Moçambicanos, Angolanos, Guineenses, Cabo Verdianos, etc, como pode ver não estaremos assim tão "orgulhosamente sós").
Muito honestamente não vejo como poderá sustentar o argumento de que a Língua com estas alterações sairá fortalecida nas instâncias internacionais, quando a semântica e construção frásica é por si só o maior abismo entre o Português falado em Portugal e ex-colónias do século XX e no Brasil. O exemplo do Inglês servirá para contra-argumentar que não são diferenças de ortografia ou mesmo semântica que enfraquecem uma Língua.
Para além disso os exemplos que deu dos -ismos e novas palavras, são isso mesmo, "derivações" (acrescentos) às existentes por forma a criar novas expressões que transmitam um significado próprio e NOVAS palavras necessárias com a evolução tecnológica e social. Não são modificações estéreis a nível do conceito que transmite a palavra, nem tão pouco algum fetiche por homógrafas. Como é possível esta mudança sem consultar Universidades portuguesas assim como outras nobres instituições e acima de tudo sem consultar os Portugueses?
P.S.: Eu sou ***peremptório*** em acentuar o 'p' em ***Egipto***. :)
Caro Professor:
Foi com grande orgulho "moçambicano" que li o seu texto que muito apreciei. Não nasci nesse saudoso país, mas em Lourenço Marques vivi os melhores 18 anos da minha vida e lá me nasceram os 6 filhos.
Apreciei "maningue" o seu texto: directo, sem rodriguinhos desnecessários, enfim, de muita seriedade. Aliás, grandes cultores da Língua foram (e uns tantos ainda são) de formação científica com destaque para os médicos.
Kanimambo, será esta a grafia correcta? Os erros ortográficos, pouco ou nenhum valor passaram a ter num país herdeiro de Camões, Padre António Vieira,Miguel Torga e tantos outros, que devem estar a dar voltas na tumba por verem que nas escolas deste país deixou de interessar a ortografia das palavras desde que se perceba o que os alunos do ciclo preparatório á universidade escreveram. Ou, até, que se advinhe, como qualquer cartomante, aquilo que não escreveram mas deveriam te escrito...ou gostariam de ter escrito, até!
Julgo que esta discussão sobre o acordo ortográfico em muito se assemelha à discussão sobre o sexo dos anjos com bem mais importantes problemas a carecerem de solução urgente, v.g., recessão económica, desemprego e tantas outros do âmbito da Educação, da Saúde, da Justiça. Desta forma, se esconde a floresta com um acordo ortográfico e questões quejandas!
Fiquei fascinado com o texto escrito pelo meu professor e coordenador do meu curso!
Adorei a sua defesa pela língua portuguesa. Permita-me que copie para o meu blogue! Espero não estar a violar nada, caso existe algum problema em divulgar o texto no meu blogue por favor entre em contacto comigo. (É claro que irei meter a referência)
Os melhores cumprimentos.
Caros Confrades,
Como se comprova, pelos diversos artigos colocados e bastante comentados, em muitos recantos da vasta blogosfera, o tema da Ortografia da Língua Portuguesa interessa e excita muitos nossos compatriotas. Uns a favor do Acordo, claramente mais afectos ao partido do governo socrático, outros, parece que em maior número, contra o dito Acordo.
Muitos dos argumentos usados, de um e do outro lado, são frouxos, alguns mesmo erróneos e denotam pouco estudo destas matérias, para demasiada vontade argumentativa.
Referir as divergências gráficas do inglês britânico com o inglês americano, pouco ou nada significa para a discussão presente. Elas são mínimas, na grafia, sem nenhuma repercussão na pronúncia : colour/color, center/centre, neighbour/neighbor, etc. Já as vocabulares e as sintácticas são mais significativas, mas o respeito que os americanos sempre manifestaram para com a cultura britânica fez com que dela sempre se tivessem aproximado, lendo os seus autores, clássicos e coevos, conhecendo os seus artistas, ouvindo a sua música, etc.
Em suma, entre os EUA e o Reino Unido sempre existiu um certo equilíbrio no chamado intercâmbio cultural, coisa que nunca se verificou entre o Brasil e Portugal, por muitos motivos, com culpas divididas, mas em que tem pesado imenso um certo complexo de ex-colonizado, por parte do Brasil, em que uma certa elite intelectual, de orientação mais esquerdizante, sempre gostou de explicar os seus inêxitos sócio-económicos, na base da desqualificada colonização portuguesa, versus a de tipo anglo-saxónica, apesar de os vários exemplos de fracassos colonizadores, por esse mundo fora, desta última versão, a par de outros relativamente mais bem sucedidos, pelo menos no respeitante a um certo desenvolvimento económico, embora já não no plano civilizacional.
E esta é, a meu ver, evidentemente, uma das razões das acentuadas divergências linguísticas entre Brasil e Portugal : o fraco respeito que o ex-colonizado reserva ao seu ex-colonizador, ainda, por muitos dos seus habitantes visto como responsável das suas actuais faltas de sucesso sócio-económico.
Sei que o assunto é polémico, mas julgo que tem seu fundamento. Muito gostaria de sobre ele ouvir os nossos prezados contertulianos, ainda melhor, se fossem brasileiros.
Fico aguardando opiniões.
O António Viriato pôs o dedo na ferida.
O problema é que os brasileiros não têm consideração pelo ex-colonizador. O desprezo por Portugal é mal disfarçado e as declarações de irmandade não passam de pura hipocrisia. O labrego do Lula ainda há pouco tempo deu uma prova disso. E não só ele. Por isso não perdem uma oportunidade para tentar achincalhar o nosso país.
A alteração ortográfica que levaram à prática, sem qualquer respeito por direitos de autor, é uma pantominice sem mérito, com que desfiguraram o português e não passa de uma manifestação de “filhinhos” patetas que queriam chatear o “paizinho”.
O que é inaceitável é que em Portugal exista uma corja de cobardes que, impressionados pelo número de brasileiros, ou vendidos a interesses obscuros, esteja na disposição de aceitar e tentar impor-nos um acordo ortográfico que não é mais do que uma cedência gratuita a um país que insiste em nos desconsiderar.
Concordo plenamente com os dois comentários supracitados.
Talvez o objectivo de quem quer implementar esta lei seja mudar a visão que os outros países têm de Portugal. Talvez pensem que, agora, olham para Portugal, e o que vêm?! Um pequeno país, nada mais. Talvez um dos objectivos desta lei seja que outros países passem a ver Portugal como Brasil, Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, etc..., um união maior e mais poderosa, só por usarem palavras iguais.
Pessoalmente, acho o acordo um absurdo. Temos culturas diferentes, vivemos em sítios diferentes, para quê tentar mudar uma das coisas que mais importa na nossa cultura?!
Nós somos a nossa cultura. O português, insaciável pelo desejo de grandeza, prefere deixar de ser quem é?
"Quem faz a língua são os escritores e não os políticos."
Isto é uma afirmação ALTAMENTE PERIGOSA numa época em que a MEDIOCRIDADE é fenómeno corriqueiro na edição em Portugal. Escritores Faz-de-Conta como p. ex. o Francisco José Viegas ( que além do mais se dá ao luxo que públicar POESIA, sem que ninguém o ponha na linha e dmonstrar-lhe que aquilo é de um patetismo saloia) têm vindo com baboseiras insanas para a praça pública e ninguém os enfrenta. Deixando que a sua estupidez faça história também no nosso dia-a-dia.
Parabéns pelo texto, a maioria dos brasileiros tbm não concorda com essa reforma ridícula. O português e o brasileiro são duas línguas totalmente diferentes e seria interessante contar com o apoio dos portugueses ao movimento pela separação dos idioma do Brasil.
Vejam o que vários dos nossos maiores lingüistas dizem:
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"A lei da evolução, de Darwin, estabelece que duas populações de uma espécie, se isoladas geograficamente, separam-se em duas espécies. A regra vale para a Lingüística. "Está em gestação uma nova língua: o brasileiro", afirma Ataliba de Castilho.
Há quem seja ainda mais assertivo. "Não tenho dúvida de que falamos brasileiro, e não português", diz Kanavillil Rajagopalan, especialista em Política Lingüística da Unicamp. "Digo mais: as diferenças entre o português e o brasileiro são maiores do que as existentes entre o hindi, um idioma indiano, e o hurdu, falado no Paquistão, duas línguas aceitas como distintas." Kanavillil nasceu na Índia e domina os dois idiomas."
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"No meu modo de ver as coisas, já é possível considerar o português do Brasil como uma língua românica de status igual ao do francês, do italiano, do espanhol etc.[…] Nenhuma língua, enquanto tiver gente falando ela, pode resistir às mudanças que ocorrem em suas estruturas com o tempo. Assim, passados 500 anos, tanto a língua de cá quanto a língua de lá se modificaram, cada uma delas numa direção, exibindo diferenças nessas mudanças, fazendo opções diferentes, escolhas diferentes. E a tendência, como indica o desenho, é à diferenciação sempre maior com o decorrer do tempo."
Marcos Bagno
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"O português e o 'vernáculo'(a língua falada pelos brasileiros) são, é claro, línguas muito parecidas. Mas não são em absoluto idênticas. Ninguém nunca tentou fazer uma avaliação abrangente de suas diferenças; mas eu suspeito que são tão diferentes quanto o português e o espanhol, ou quanto o dinamarquês e o norueguês. Isto é, poderiam ser consideradas línguas distintas, se ambas fossem línguas de civilização e oficialmente reconhecidas."
Mário Perini
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"É uma violência inútil ajeitar-se uma idéia a um molde inadequado que a comprime, que a machuca, que a deforma, somente porque esse molde assentava bem a essa idéia há 100 anos passados.É martírio para a mocidade que aprende e humilhação para o mestre inteligente que ensina, esse bilingüismo dentro de um só idioma – essa unidade exterior, de superfície, de duas línguas que se repelem, a língua que falamos e a língua que escrevemos. [...]Nós, no Brasil, presos à gramática "portuguesa", somos vítimas de uma desintegração dolorosa de nós mesmos. [...]A língua brasileira, já ninguém discute isso, diverge da portuguesa;" Mário Marroquim
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Sabe aquela história de que falamos português? Pois bem, segundo o lingüista Nicolau Leite, professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo aquilo não passa de nhenhenhém. Como nossa língua pode ser portuguesa se ela é formada por 30 000 vocábulos indígenas e mais de 3 000 palavras trazidas pelos escravos africanos do tronco banto? Nicolau Leite acha que nosso idioma é mesmo o brasileiro e que é absurdo tentar unificar as línguas com normatizações. O português, no fundo, foi só a casa de fundação da nossa língua, que recebeu e continua recebendo influências de todos os lados, afirma.
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"Assim como o Português saiu do Latim, pela corrupção popular desta língua, o Brasileiro esta saindo do Português. O processo formador é o mesmo: corrupção da língua mãe." Monteiro Lobato
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