Chegam-me à caixa de correio anúncios cada vez mais descarados de pessoas e empresas especializadas na fabricação de trabalhos e teses de mestrado e doutoramento, bem como de artigos científicos com garantia de publicação nas “tais revistas”. Tudo com preços devidamente discriminados por grau académico, tema, número de páginas, etc. A coisa é feita às claras e ninguém sai enganado: quem vende, sabe o que vende; quem compra, sabe o que compra. As academias não podem, portanto, ignorar o “negócio paralelo”.
Desta e doutras situações pouco edificantes, nada novas, mas, pelos vistos, em franca expansão nos tempos que correm, já Carlos Fiolhais e Elvira Calapez, deram conta no De Rerum Natura. Não deixe, no entanto, o leitor de se deliciar com o artigo que Carla Aguiar publicou nesta semana, com base numa investigação muito completa que fez da realidade portuguesa.
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5 comentários:
Informação: nos Estados Unidos acaba de ser lançado o livro "MY WORD!
Plagiarism and College Culture",
de Susan D. Blum, Antropóloga na University of Notre Dame, edição de Cornell University Press.
http://www.cornellpress.cornell.edu/cup_detail.taf?ti_id=5308
Américo Tavares
Acerca desta temática, transcrevo a citação feita no meu post, intitulado "Alunos,computadores e copianço" (“De rerum natura”, 8.Fev.2008), da autoria de um nosso compatriota, Ricardo Reis, professor duma universidade americana, extraída de um artigo publicado no “Diário Económico” (3/Abril/2007), com o sugestivo título “Copianço”, em que é descrito, bem a propósito, o que se passa na sua universidade:
“Em Princeton, o professor é obrigado a deixar os alunos sozinhos na sala durante o exame. Vigiá-los seria uma falta de confiança, até porque todos assinam no topo da folha de resposta uma jura de que se vão comportar de uma forma honrada. Mas se alguém é apanhado a copiar (ou porque foi denunciado por um colega ou porque as respostas o tornam óbvio) então a punição é muito severa: pelo menos suspensão por um ano e talvez expulsão”.
Pelo exposto se verifica que o copianço, quer se processe em exames rotineiros ou provas de doutoramento, é uma questão ética de honrados costumes que devem ser inculcados a partir dos primeiros anos dos bancos da escola. O que, no desânimo de Almada Negreiros, se afigura difícil: “O povo completo será aquele que tiver reunido no seu máximo todas as qualidades e todos os defeitos. Coragem, Portugueses, só vos faltam as qualidades”.
Agradeço ao nosso leitor A. Tavares ter disponibilizado a referência do livro de S.Blum, que eu não conhecia e que estou com grande curiosidade de ler. Agradeço também ao nosso leitor e colaborador Rui Baptista a deixa: de modo mais ou menos aberto, reconhece-se que o plágio, não se manifesta como ocorrência pontual, pelo contrário, tornou-se parte de cultura institucional. A volta a dar, se continuarmos a achar que aquilo que se cria tem sempre autor e valor, está na educação, desde os níveis mais básicos até aos superiores, bem como no (bom) exemplo que professores e investigadores devem dar. E, claro, tomarem-se as medidas certas quanto o plágio se detecta.
Conheço um rapaz que até ao 12º ano se considerava incapaz de copiar. Dizia ele que era uma espécie de objeção de consciência. Chegado ao ensino superior, o que viu à volta deu-lhe a volta à cabeça e durante uns dois anos tentou viver à conta de copianço. A coisa não lhe correu bem, a objeção existia e lá decidiu estudar. Mas os relatos do que se passava eram escandalosos. Há muita forma de fax.
Um tema original. Quem, importa-se.
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