sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

ELEIÇÕES E EMOÇÕES

Imagem reproduzida daqui
Tive o gosto de conhecer Félix García Moriyón, professor honorário do Departamento de Didácticas Específicas da Universidade Autónoma de Madrid. Entre várias iniciativas e funções é membro fundador da Sociedade Espanhola de Professores de Filosofia e Coordenador do Grupo de Investigação e Formação em Resolução de Problemas Morais.

Na sua vasta obra inscrita na filosofia,  ética, e educação e, claro, na relação entre elas (tem livros publicados em Portugal),  toca a questão das emoções, na sua ligação com a racionalidade. E, de modo particular, do seu papel nas decisões, incluindo as políticas.

Em tempos, como os que correm, em que a democracia é frontalmente questionada, em que os processos eleitorais são trespassados por fenómenos surpreendentes, vale a pena ler um artigo de opinião do autor acima mencionado e de que deixo abaixo um extracto. Vale a pena lê-lo até pelas referências bibliográficas que nos oferece.

"As emoções e o que atualmente se chama de inteligência emocional constituem uma área fundamental da vida humana. Por um lado, são elementos centrais na motivação de comportamentos, neste caso, no campo da política. Sem emoções, mesmo sem emoções fortes e bem enraizadas, dificilmente é concebível uma intervenção política digna desse nome.

Por outro lado, as emoções (e os sentimentos) manifestam-se frequentemente como paixões, algo que sofremos involuntariamente e perturba a nossa razão e a nossa ação. Neste duplo sentido merecem especial atenção e isso explica o recente aparecimento de vários livros de filosofia que reflectem sobre o tema: Victoria Camps (2011) O governo das emoções; Martha Nussbaum (2013) Emoções Políticas. Por que o amor é importante para a justiça; Manuel Arias Maldonado (2016) Democracia sentimental. Política e emoções no século XXI. Sem esquecer dois autores que há algumas décadas reconsideraram a questão das emoções e da política: Habermas, Jurgen (1989) Identidades nacionais e pós-nacionais e Viroli (1997) Por amor à pátria. Um ensaio sobre patriotismo e nacionalismo."

Maria Helena Damião

2 comentários:

Carlos Ricardo Soares disse...

A área das emoções e dos sentimentos é aquela que me parece (não tenho credenciais científicas para propor as minhas considerações como corretas, talvez o António Damásio o faça com extraordinária minúcia e clareza) condicionar e determinar os comportamentos mais imediatos e instintivos, por serem, muito frequentemente, involuntários e por se manifestarem, por vezes, com imprevisibilidade, intensidade e duração que não permitem uma racionalização oportuna e atempada, mas também por serem, muito frequentemente, manifestações físicas associadas a exteriorizações como gritos, esgares, contorções, lágrimas, risos, danças, gestos, exaltação ou acabrunhamento e até paralisação, não apenas involuntárias, mas contra a vontade, em muitos casos, muito dolorosas e insuportáveis até á perda dos sentidos, sem que a consciência/racionalidade (este binómio parece-me inseparável) possa interferir, contribuindo até, frequentemente, para agravar o processo, enquanto este subsiste (ponho a hipótese de que nos outros animais esta incapacidade, deficiência de controlo, não é tão acentuada como nos humanos, ou mesmo inexiste).
Para mim, bastaria esta constatação para me deixar emocionalmente excitado com a ideia surpreendente e incrivelmente bizarra de não ser óbvio, intuitivo, evidente, embora da experiência repetida de todos nós, que o campo da consciência/racionalidade nos humanos, sendo aquele que mais e melhor nos situa, nos localiza e nos permite pensar, decidir, escolher, atuar e responder, esteja tão demarcado e autonomizado fisicamente, ao ponto de as emoções e os sentimentos nos aparecerem não raro como fenómenos que nos são estranhos, ou, pelo menos, tão estranhos que nós até estranhamos.

Rui Ferreira disse...

“Carentes [os cidadãos] de identidade numa sociedade líquida, em que abundam os indivíduos isolados, cujo carácter foi corroído por um modelo de organização social que exalta o desejo passageiro e inconsistente, que favorece o consumo ilimitado sem garantir a satisfação adequada das necessidades,…”

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Face ao que diz ser a «normalização da indecência», a jornalista Mafalda Anjos publicou um livro com o título: Carta a um jovem decente .  N...