Diretor do Departamento de Educação e Competências da OCDE, 2016.
Recorte da notícia do jornal Expresso, que pode encontrada aqui |
Os currículos - para o ensino básico, secundário e superior - foram transformados em função desse fim, o mesmo acontecendo com a avaliação.
Se nos colocássemos na óptica dessa organização, diríamos "perfeito"! E... enganávamo-nos!
É que as empresas, com as quais a dita organização tem um diálogo privilegiado, passaram a declarar que, afinal, não lhes interessam os diplomas obtidos na escola ou na universidade pública: eles não querem dizer nada, não são garantia de coisa nenhuma... Os diplomas oficiais, que atestam a aquisição de competências ajustadas às necessidade do mercado de trabalho, perdem validade nesse mercado.
A desconcertante declaração, com alguns anos a circular pelo mundo, ganha força em Portugal:
“O diploma de licenciatura é cada vez menos importante, as empresas conseguem medir competências, não precisam do carimbo da Universidade (...) para certificar a qualidade",
disse alguém (ver aqui), em entrevista ao jornal Expresso do dia 12 deste mês, replicando alguém (ver, por exemplo, aqui).
(Na educação, a replicação do discurso - por parte de diversos agentes situados em diversas instâncias - tende a consolidá-lo, mesmo que ele não seja compatível com os desígnios da educação).
Entregue-se, pois, a educação ao cuidado de quem sabe do funcionamento do mercado, de quem é empreendedor e sabe como se produzem empreendedores. Na notícia, a jornalista, presume a partir das palavras do entrevistado que:
"A educação, tal como qualquer indústria, depende de incentivos".
E, voltando a palavras do entrevistado:
"É fundamental permitir que as escolas sejam geridas de forma eficaz e com os incentivos certos para termos a educação que queremos".
A "educação que queremos", expressão acarinhadíssima pela OCDE, suscita, naturalmente a pergunta: "quem quer"? E outras se seguem: "para que quer"?; "Como quer?"...
Mas quem está interessado, mesmo que tenha responsabilidades no sistema educativo público, em pensar nestas perguntas e, evidentemente, nas preocupantes respostas a que seria conduzido?
4 comentários:
Convém sermos rigorosos. A passagem de diplomas de licenciatura já não é uma prerrogativa das universidades. A desvalorização dos graus académicos também tem a ver com a promoção da vaidade: atualmente, os enfermeiros e os educadores de infância, entre outros, também são doutores.
A desvalorização dos diplomas contribui para a criação de um ambiente social injusto e desigual. Ao não reconhecer adequadamente o esforço e a dedicação investidos na obtenção de um diploma, a sociedade corre o risco de marginalizar aqueles que alcançaram maior elevação pessoal através da educação. Essa marginalização pode perpetuar ciclos de pobreza e limitar as oportunidades de ascensão social, minando a coesão social.
Além disso, a desvalorização dos diplomas pode resultar em subemprego e subutilização de talentos. Muitos licenciados encontram dificuldades em obter empregos compatíveis com a sua formação, o que não apenas frustra as expectativas individuais, mas também representa um desperdício de recursos educacionais. Isso compromete o potencial de inovação e crescimento económico, uma vez que indivíduos qualificados podem ser subaproveitados em setores que não correspondem ao seu nível de preparação.
É preciso pôr as coisas nos seus devidos lugares!
Portugal é um país que não tem capacidade económica e financeira para pagar, mesmo pagando mal, a mais de cem mil professores e educadores de infância. Diga-se o que se disser, a troika tinha razão quando concluiu que tínhamos professores e educadores de infância a mais e dinheiro a menos. Será que a solução passa por proibir os professores e os educadores infância de ensinarem, de maneira que toda a população se possa licenciar facilmente e, consequentemente, aumente, em proporcionalidade direta, o número de professores e de ignorantes?!
Enquanto estava na Europa, Lev Landau admirou as transformações revolucionárias na Rússia Soviética, argumentou que lá não há exploração e que cada pessoa trabalha para o benefício do seu país, enquanto na URSS é dada grande atenção ao desenvolvimento da educação e da ciência. Ele desprezava os preconceitos e privilégios burgueses e acreditava que a revolução acabaria com eles.
Interessante, há que refletir e compreender sem preconceitos.
Eugénio Lisboa tem andado a denegrir a URSS com o Lysenko, e outras situações que não prova, mas a finalidade é só uma, a defesa dos preconceitos e privilégios burgueses.
Muito obrigada, Helena. Gosto muito de ler os seus textos. Feliz Natal
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