Meu texto no mais recente As Artes entre as Letras:
O próximo ano promete-nos trazer-nos novidades no espaço. O principal, lá para o fim do ano se tudo correr como planeado, será o regresso humano à Lua, pela primeira vez desde a Apollo 17, em 1972. Não exactamente ao solo lunar, mas a órbita lunar, tal como a Apollo 8 em 1968. A missão chama-se Artemis 2, integrando-se no programa Artemis (a deusa irmã de Apolo) que a NASA, a agência espacial norte-americana, está a realizar em colaboração com a ESA, a Agência Espacial Europeia, e as agências espacial do Canadá, do Japão e de Israel. Já está escolhida a tripulação de quatro astronautas que seguirá a bordo na nave Oríon, impulsionada pelo foguetão SLS: três astronautas da NASA, um dos quais mulher e outro negro, e um do canadiano. Pela primeira vez viajarão até à Lua seres humanos do padrão de todas as tripulações Apollo: homens brancos norte-americanos. Se tudo funcionar bem, então a Artemis 3 pousará na Lua em 2025, repetindo, agora com novas tecnologias, a proeza da Apollo 9 em 1969.
Para além da colaboração internacional e da participação de privados (o módulo lunar será fornecida pela SpaceX), uma grande diferença relativamente ao programa Apollo será o custo reduzido (a NASA chegou a gastar 4% do orçamento federal nos anos de 1960, quando hoje só gasta 0,5%, embora tenha vindo a crescer: vai, em 2023, em 25 mil milhões de dólares) e o facto de agora não se tratar de uma corrida na «guerra fria» mas sim a demonstração da possibilidade de viver prolongadamente fora da Terra, numa base lunar permanente, servida por uma estação espacial em volta da Lua, de modo a treinar o que for preciso para um dia se ir a Marte (a Lua e Marte estão para a Terra como, no tempo dos Descobrimentos, a Madeira e a Índia estavam para Portugal).
Vivemos, portanto, tempos de regresso ao espaço. Desta vez há grandes empresas empenhadas na indústria espacial, como, além da SpaceX, de Elon Musk (que opera o foguetão Falcon 9, que permite o trânsito para a Estação Espacial Internacional, e que prepara um novo grande foguetão reutilizável, o Starship), há a Blue Origin, de Jeff Bezzos, que em 2024 vai testar o seu foguetão New Glenn, cujo nome homenageia o astronauta e político norte-americano John Glenn, e o Rocket Lab, do neozelandês Peter Beck, que vai testar o foguetão Newton, também reutilizável. A ESA vai, no próximo ano, lançar o Ariane 6, que, ainda antes de ser lançado e quando já deixou de funcionar o Ariane 5, não parece ser competitivo relativamente ao Falcon 9, um verdadeiro «cavalo de batalha» da astronáutica.
A NASA vai lançar em 2024 a sonda Europa Clipper, que se destina a analisar Europa, a lua de Júpiter, em busca de vestígios de vida (chegará lá só em 2020). E as suas outras missões científicas prosseguirão, como a do Telescópio Espacial James Webb, que está a fornecer resultados surpreendentes sobre as primeiras estrelas e galáxias.
Na geopolítica espacial, o segundo país é hoje não a Rússia, cujo orçamento espacial é uma sombra do que já foi e que é alvo de sanções internacionais (a guerra da Ucrânia fez a Rússia anunciar o abandono da sua participação na Estação Espacial Internacional, em órbita terrestre desde 2000, cujo fim está previsto para 2030). Em Maio de 2024 os chineses, que têm a sua própria estação espacial em orbita da Terra, vão voltar à Lua com uma nave não tripulada. A Chang’e 6 (o nome vem do da deusa grega da Lua) poisará no lado oculto da Lua com um robô para recolher amostras lunares a enviar para a Terra. Seguir-se-á, em 2026, a Chang’e 7, no Pólo Sul lunar.
O terceiro pais na exploração espacial não é um país, mas um bloco de 22 países: a ESA, que inclui para além de muitos países da União Europeia, entre os quais Portugal, também o Reino (Portugal só contribui com 0,5% do orçamento da ESA, menos do que o Luxemburgo ou a Roménia), que tem orçamentados em 2023 sete mil milhões de euros (claramente muito pouco comparado com o orçamento da NASA). A ESA vai mandar quatro novos satélites do sistema do seu sistema de navegação Galileo, concorrente do GPS, usando meios da SpaceX, de modo a tornar o sistema ainda mais operacional. Em princípio, será melhor que o GPS, que é gerido pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos. Embora o seu uso civil esteja generalizado. Mas o momento alto da ESA em 2024 será o lançamento do Ariane 6 da Guianas Francesas. Haverá também um relançamento do Vega-C, um foguetão adequado ao lançamento de numerosos minissatélites.
Depois da União Europeia + Reino Unido o país com mais investimento no espaço é o Japão. Para além da colaboração com a NASA na Artemis, o Japão vai em 2024 lançar uma missão às duas luas de Marte, Fobos e Deimos, a MMX (Martian Moons Exploration). A sonda pousará em Fobos em 2025 de modo a recolher amostras de solo a enviar para a Terra.
Por último, a Índia, que em Agosto de 2023 chamou atenção do mundo quando, com a Chandrayaan-5 (o nome, que vem do sânscrito, significa veículo da Lua), se juntou ao clube muito restrito dos países –Rússia, Estados Unidos e China – que tinha enviado com sucesso engenhos para solo lunar. Foi o primeiro fazê-lo para uma zona perto do Pólo Sul, uma região de interesse para as missões Artemis. Ainda não será nos anos mais próximos que a Chandrayaan-6 partirá para recolher amostras de rochas lunares, mas em 2024 a Índia lançar a sonda Shukrayaan para Vénus, o planeta mais próximo da Terra, que ultimamente não tem sido muito «visitado» (a última visita foi japonesa em 2010). Pretenderá estudar, entre outras coisas, a atmosfera venusiana, de modo a resolver a questão da fosfina, uma molécula que se julga aí existir e à qual alguns atribuem uma origem bacteriana.
Será, portanto, um grande ano para o espaço. Um grande ano para todos!
1 comentário:
A julgar pelo desenvolvimento talvez a China seja a primeira nação a levar uma pessoa à Lua.... mas ainda assim serão precisos uns 40 a 50 anos.
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