Por Isaltina Martins e Maria Helena Damião
Não podemos deixar de reproduzir uma parte alargada do texto de opinião com o sugestivo título que se pode ler acima, assinado por António Carlos Cortez e saído no Diário de Notícias do passado dia 8 (ver aqui). Como o autor destaca, os resultados da última passagem do Programa Internacional de Avaliação dos Alunos (PISA) revelam a decadência da educação escolar pública. E, acrescentamos, no que ela tem de mais básico: a demonstração de competências para resolução de situações do quotidiano em três áreas disciplinares.
"Com os resultados da oitava ronda do PISA, só se espanta quem seja ingénuo ou cobarde. Ou quem, irresponsavelmente, insiste em declarar que a educação em Portugal (...) está no bom caminho seja para o que for a que queiramos chamar "o futuro" (...). Portugal tem o 29.º resultado (em trinta países!) em Matemática; tem o último lugar na literacia científica e ocupa o 24.º lugar no que respeita à leitura.
A culpa não será só da pandemia. Mas a pandemia agravou as dificuldades do quotidiano escolar e universitário. O tele-ensino foi apenas, como sempre neste país, "para inglês ver" e a equipa ministerial fazer o elogio da classe que jamais protege, mas sempre engana.
Sejamos honestos: não só a profissão docente está absolutamente comprometida, como a própria escola pública (...) e a Universidade no seu futuro.
As condições de recrutamento não aliciam ninguém (...). Os que entrarem depressa irão rumar a outras paragens. Os que persistirem serão carne-para-canhão dum sistema que paga mal, brutaliza, estupidifica e é cúmplice da ignorância larvar.
Com efeito, os resultados do PISA revelam o que a maioria sabe: que o que se vive no dia-a-dia das escolas impede qualquer hipótese de crianças e adolescentes aprenderem seja o que for de relevante.
O quotidiano escolar é simples de descrever: os professores, esmagados por centenas de alunos, tendo a braços mil-e-um afazeres de natureza burocrática, deslocados da sua área de residência, congelados neste ou naquele escalão, tendo ordenados de miséria - os professores não possuem qualquer estatuto real ou simbólico para enfrentar o que enfrentam (...)
Que realidade é essa que os professores enfrentam? Esta: Uma geração inteira de adolescentes que, com 13, 14, 15, 16, 17 anos são mal-educados, ignorantes e sem curiosidade. Adolescentes cujos pais pressionam, com apoio das direcções, para que os seus filhos obtenham resultados de não menos que 16 a todas as disciplinas. O perfil dos jovens que frequentam hoje a escola portuguesa roça a delinquência. Mas são delinquentes com óptimas notas! É vê-los com as cabeças mergulhadas, durante as aulas, nos ecrãs dos tenebrosos telemóveis. É vê-los falar no português de caserna que espelha a ausência de utopia, a incuriosidade, a formatação de reformas educativas que visaram empobrecer a capacidade crítica.
No digital - aí é que está a autoridade: os influencers, os tik-tokers, os magos da estupidez a fingir de progresso. Esses são os verdadeiros educadores do país.
Na maioria das escolas as direcções são coniventes. O rigor é atropelado pela facilidade; reprovar um aluno significa correr o perigo de ter os pais à espera. No melhor dos casos significa escrever um relatório inútil a justificar por que razão a reprovação faz sentido - facto que as direcções se apressam a desfazer. Professores competentes - que os há, ainda - são convidados a serem "flexíveis" (...).
Criámos, portanto, os monstros: futuros juízes, políticos, advogados, médicos, professores, engenheiros, arquitectos, que nada leram, não sabem escrever e não sabem pensar (...) as sucessivas reformas - com a diluição de disciplinas como História, Filosofia e Literatura (as que exigem a escrita reflexiva!) - são a raiz da nossa degradação social.
Os resultados do PISA espelham bem cinco causas da nossa decadência acelerada:
1.º) As reformas curriculares facilitistas;
2.º) a má preparação científica da classe docente;
3.º) a pobreza salarial dos professores, não permitindo o acesso à cultura, sempre cara neste país pobre;
4.º) a incapacidade de pensar a educação supra-partidariamente e
5.º) a "vã cobiça", as modas, tudo quanto, sob a capa do discurso do sucesso, abre as portas à corrupção, à anarquia, à indigência.
(...)"
1 comentário:
É o descalabro total!
Já chegamos ao ponto de serem as próprias autoridades governamentais a promoverem o ensino/ aprendizagem da filosofia ubuntu, entre professores e alunos, como panaceia paratodos os males que destroem a educação em Portugal. Enquanto a sanha da perseguição do sucesso educativo a todo o custo prossegue, com o inenarrável ensino por domínios que ata os professores de pés e mãos, impedindo-os de ensinar para que todos os alunos possam passar, com notas maiores ou iguais que 16 valores, a imprensa informa que um grupo de alunos tenta violar um colega com um cabo de vassoura, em contexto de recinto escolar. O "castigo" foi quatro dias de suspensão, com regresso ao local de partida!
Resumindo: a fuga para a frente, ensaiada pelo ministério da educação, agrava, de dia para dia, a decadência do sistema de ensino. Se a anarquia, disfarçada de ensino por domínios com muitas grelhas e falsos exames, o facilitismo, a indisciplina e a violência estão a destruir a escola, não será altura de mudar a agulha para entramos numa linha de disciplina, estudo e exigência, ou não valerá a pena por ser muito caro?!
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