“Triste época! É mais fácil desintegrar um átomo
do que um preconceito” (Albert
Einstein).
Transcrevo do comentário de Paulo Costa, ao meu post aqui publicado, titulado “Da actual
Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física à criação de uma Ordem dos
Professores de Educação Física (1)”, a referência ao espinhoso processo de reconhecimento da academia pelo qual também
passou a FMH (UTL)”.
Indo
ao cerne da questão, ou sejam o “mau olhado”, as descrenças e vicissitudes relacionadas com o Corpo - segundo o Professor de Medicina Ernst
Krestschmer, "o corpo é uma inteligência" - que pomposos “intelectuais”, falsos
detentores do Saber, verdadeiras cabeças tontas ensopadas de dogmas, sopram em trompetas, que espalham, “urbi et orbi”, que as escolas que formam, desde 1940, professores de Educação Física, são usinas de mentecaptos em que os músculos estão na razão inversa dos neurónios. Esta
dedução “atrevidota” encontra contestação em Ramalho Ortigão, escritor de uma obra literária de grande vulto que, pela sua compleição atlética temperada com exercícios gimnicos, dizia ter nascido para "Hércules de Feira"!
Extraio,
agora, do professor universitário de Filosofia da
Universidade de Coimbra e investigador das
Ciências da Educação, Sílvio Lima (1904-1993), um acervo de 97 artigos publicados no jornal
portuense “O Primeiro de Janeiro”, nos anos de 39 a 43, uns tantos títulos, como sejam: “Reflexões
Críticas Sobre o Desporto”, “Desporto e
Sociedade”, “Desporto Mocidade e Velhice”, “Desporto e Ciência”, “Desporto e
Medicina Desportiva, “O Desporto e a Beleza”. Em
crítica aos detractores do Desporto disse este Professor ser ele “uma questão grave (quer dizer etimologicamente pesada) que só
parece leve aos de cabeça leve como o sabugo e o algodão”.
E
porque "a história é uma mediação entre o passado e o presente”(Paul Ricoeur), passo
a abordar o percurso temporal da FMH
indo às suas raízes: INEF. Tempos
atrás, faleceu um Mestre (no sentido mais nobre da palavra), grande e saudoso Amigo.
Foi ele um homem que teve como “honoris causa” a defesa intransigente do INEF e
dos seus diplomados. Sobre o Desporto publicou no seu livro “O Desporto e as
Estruturas Sociais” (“Prelo Editora, 1.ª edição, 1967, a se seguiram outras
edições) o seguinte: “Só há uma forma de entender o fenómeno desportivo: na
perspectiva das estruturas sociais. O que há de característico e fundamental no
desporto é, justamente, o que define e caracteriza a sociedade em que se
realiza”.
Admirador incondicional de José Esteves, na sua complexidade, para mim a maior figura nacional da Educação Física e Desporto, em “A BOLA” (12.Dez.91),
enderecei-lhe uma “Carta Aberta””, que transcrevo, dando relevo a um preâmbulo,
da autoria de um dos seus jornalistas, que reza: “Esta é uma carta aberta a
José Esteves, dirigida por um seu amigo, Rui Baptista, de Coimbra, professor de
Educação Física, que no segundo Congresso de Educação, apresentou uma moção (aprovada)
para que fosse concedida a José Esteves o doutoramento “honoris causa”. Eis a
carta:
“Querido
Amigo:
“Numa
época em que tudo e todos são postos em causa, mas que, em contrapartida, se
homenageia, a torto e a direito, muito imbecil e se galardoa a eito tanto
incompetente, rogo-lhe que ponha à minha disposição a sua grandeza de espírito
e a magnanimidade do coração.
Só
assim, em sua modéstia, será José Esteves capaz de perdoar-me estas descoloridas linhas que serviram de pórtico a
uma comunicação por mim apresentada no 2.º
Congresso Nacional de Educação Física (Tróia, 29.Nov.91), intitulada “Os
desafios profissionais do futuro”.
Pigmeu
de uma longa e penosa jornada, de que José Esteves se fez gigante, rendo o meu
preito ao insigne Mestre e dilecto Amigo, de quem recebi o clarão inspirado da
intransigente defesa da classe, mas que o meu desajeitado sopro transformou em
pálida e mortiça chama.
Em
clausura de eremita, entre livros e recordações, e cartas e visitas de
afeiçoados em sua casa de Cascais, castelo de sonhos que uma indómita vontade,
e força d’alma, tornaram realidade, vive, agora, em cristã resignação, a
lembrança de letargias que a tacanhez da Sociedade portuguesa, e a pequenez dos
homens, desejavam perpetuadas para todo o sempre, em triste e irremediável
destino.
E
que formosíssima utopia, a sua: “Não troco a promoção desportiva de uma
centena de crianças das nossas escolas
primária por uma medalha de ouro olímpica". A
um simples mortal, os deuses do Olimpo, jamais, podiam perdoar tanto e tamanho desafio aos seus heróis. E
não é ‘a vingança o prazer dos deuses?’” "Ex
corde. ”Rui
Baptista
Viu
o INEF a luz do dia em 1940, época de exacerbado nacionalismo que lhe deu o
apodo de Nacional em vez de Superior, porque convinha manter os seus alunos longe
de tentações universitárias revolucionárias.
Existiam
à época, extenso número de faculdades e 4 cursos superiores extramuros
universitários: INEF, Arquitectura, Escola Naval e Escola do Exército. A alínea
f) do Decreto 36507 de Setembro de 1947,
insere, com excepção de Arquitectura inclusa noutra alínea, as escolas
supracitadas, assim como, a título de meros exemplos, Medicina e Farmácia. O
INEF foi integrado em seio universitário em 75, seguindo-se a integração de Arquitectura em 79. Aliás, pouquíssimo tempo antes de 25 de Abril, chegou a ser anunciada, num Boletim do INEF, a sua integração na Universidade Nova de Lisboa.
Pelo desconhecimento de textos legais,
unicamente apoiados em “achismos”, fui confrontado por mentes asininas sobre a
inferioridade do INEF, com suportes na sua crisma de nacional em vez de superior
( cursos espanhóis universitários de Educação Física há que são denominados nacionais). Este “status quo” levou-me, em resposta a uma
polémica num jornal da capital moçambicana de que fui um dos polemistas, a solicitar um esclarecimento oficial à direcção
do INEF, de que José Esteves era sub-director, sobre esta controvérsia. A resposta surgiu, via Ministério da Educação, que pelo
seu ofício.º 3979, de 27 de Setembro de 1962, informava ser o INEF uma escola superior. Em consequência, foi dado conhecimento deste ofício para ser publicado no jornal que
tinha dado guarida à notícia, através de
uma comunicação enviada pelo Centro de Informação e Turismo de Moçambique, para
rectificar, como ora se diz, uma “fake new” de um seu colaborador.
Aqui
chegado parece-me importante fazer uma resenha sobre os cursos de Educação Física
em Portugal, antes da criação do INEF (1940). Existiu um curso superior de
Educação Física ministrado na Sociedade de Geografia de Lisboa que
encerrou portas assim que foi criado o INEF. Por
os diplomados pelo INEF não chegarem para o preenchimento das vagas para a
respectiva docência, foram criados, na década de 60, cursos médios de Educação
Física, em Lisboa, no Porto e Coimbra (que não chegou sequer a funcionar),
cujos diplomados, titulados instrutores de Educação Física, exerciam funções
sobre a orientação de professores de Educação Física. Estas escolas médias foram também criadas em Luanda e Lourenço Marque
na década de 70.
Depois
de 25 de Abril, foram os ex-instrutores havidos como professores “diplomados” em
Educação Física, como se os professores formados pelo INEF fossem uma espécie
de párias que exerciam funções docentes sem qualquer diploma ou habilitação de
crédito. Bem
nos alertou Almeida Santos, tido como um dos príncipes da legislação portuguesa,
que a maior parte da legislação produzida depois de 25 de Abril em Portugal, chumbava
no antigo exame da 4.ª classe.
Se
mérito diviso neste meu texto, escrito ao correr da pena, é porque
a sua intenção foi combater opiniões malévolas que geraram confusão sobre o
INEF. Como
escreveu G. Scott, “os factos são sagrados e os comentários livres”, ainda que
perigosos quando se estribam no simples “ouvi dizer” qual boato, que se espalha
com a velocidade de um relâmpago que tudo calcina à sua volta com a finalidade de destruir
a reputação de instituições dignas da maior consideração, como o INEF. Haja, no
mínimo, respeito!
Aquele respeito que o então Ministro da Educação, Roberto Carneiro, numa Sessão Comemorativa, realizada na FMH, afirmou solenemente: "O Instituto Nacional de Educação Física subiu a pulso o caminho que o haveria de conduzir à Universidade!"
Aquele respeito que o então Ministro da Educação, Roberto Carneiro, numa Sessão Comemorativa, realizada na FMH, afirmou solenemente: "O Instituto Nacional de Educação Física subiu a pulso o caminho que o haveria de conduzir à Universidade!"
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