segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

A Palavra "Vergonha" Expurgada da Assembleia da República por Ferro Rodrigues

A palavra “vergonha” passou a estar no índex das palavras proibidas por Ferro Rodrigues, presidente da Assembleia da República, e, como tal, a ser banida em São Bento.

Atrevo-me a pensar qual a palavra substituta de vergonha que conseguisse passar nas malhas lexicais apertadas e censórias de Ferro Rodrigues para não cortar a palavra a André Ventura por utilizar esta palavra num parlamento deveras sensível. “Ad contrario” de outros parlamentos como o da mui nobre Inglaterra, de muita e larga tradição, em que, por vezes os deputados se pegam à batatada expressão popular que troco, para evitar melindres, pela nobre arte do boxe de socar.

Aliás o desfecho desta contenda de palavras entre Ferro Rodrigues a André Ventura terminou com aquele a tirar a palavra a este e dando, de imediato, a palavra a Katar Moreira num atitude de cavalheirismo em desuso em nossa época.

Ferro Rodrigues, um gentil-homem, assumiu o papel de “um dos cavaleiros da Távola Redonda” que pugnavam pelo tratamento de doçura para com mulheres e crianças, não estando, como tal, André Ventura, pelo seu sexo e idade, contemplado por este doce tratamento.

Para situar o leitor neste contexto, faço um resumo do que se passou entre as duas personagens, transcrito do jornal "I”, titulado “Ferro Rodrigues puxa as orelhas a Ventura por abusar da palavra vergonha” e com o subtítulo “Presidente da AR repreendeu Ventura por utilizar a palavra vergonha com ´demasiada facilidade’”. Em consequência, “este deputado pediu uma audiência a Marcelo” (13/12/2019).

Segue-se o supra citado resumo:

“Ferro Rodrigues não quer que André Ventura utilize tantas vezes a palavra “vergonha” nas suas intervenções parlamentares, considerando ser “uma vergonha o que se está a passar no Parlamento”. 

(A titulo meramente informativo, quantas vezes é considerada abuso, por Ferro Rodrigues, a utilização desta palavra?) (…) 

“O presidente da Assembleia da República reagiu à intervenção do deputado do “Chega” repreendendo-o “por utilizar as palavras vergonha e vergonhoso com demasiada facilidade”. Ainda segundo ele, a postura de André Ventura “ofende todo o parlamento”. “Os deputados socialistas aplaudiram o presidente da Assembleia da República. André Ventura levantou-se e pediu, de imediato, a palavra para defesa da Honra”. 

Notícia de primeira página, seria, isso sim!, André Ventura ser aplaudido pelos deputados socialistas, em atitude corajosa de não subserviência ao “big boss”! “Last but not least”, como reagirá Ferro Rodrigues se confrontado, num tempo em que a polémica era um verdadeiro cruzar de ferros a faiscar, a uma crítica feroz do nosso imortal Eça à Assembleia da República?

Punha-lhe uma mordaça na boca? Rasgava-lhe a folha de papel e tirava-lhe a caneta em que ele escreveu a sua descrição da Assembleia da República? Dava-lhe um murro nas ventas (perdão, no rosto)? Passo a transcrever essa crítica:

“A Assembleia da República é um local que:
Se for gradeado será um Jardim Zoológico,
Se for murado será um presídio,
Se lhe for posta uma lona será um circo,
Se lhe for colocada uma lanterna vermelha será um bordel,
E se se lhe puxar o autoclismo não sobra ninguém…”

Bem sei que utilizar a palavra “chega” (quantas vezes?) é bem mais ofensivo! Mudam-se os tempos, tornam-se as ofensas mais ofensivas? Ou serão, em nosso tempo, os tímpanos dos poderosos mais sensíveis tornando questões de verbo em questões de discussão parlamentar? 

Este é o cerne de uma questão subsidiária perante os graves problemas que esperam o país em regresso a época de crise económica!

3 comentários:

Ildefonso Dias disse...

Professor Rui Baptista:
Ferro Rodrigues não teve vergonha em alterar o regimento para pôr os pequenos partidos a falar... E assim deu-lhes um direito que eles não tinham. Mas quando se trata de injustiças para com os trabalhadores, com a usurpação dos seus direitos já não há Ferro Rodrigues e respectiva comandilha.
Com os beneficiários da ADSE, os velhos e doentes fazem uso e abuso da força da letra da lei.
Vergonha é a forma como roubam e continuam, - os direitos às pessoas, e a rapidez com que impõem e alteram certas situações que julgam ser favoráveis. Insisto em dizer que o Chega não tinha direito a falar, tal como os cidadãos nao têm direito aos cuidados adequados de saúde, os idosos a um lar com condições, os alunos a um ensino gratuito e por aí fora.

Cumprimentos

Rui Baptista disse...

Caro Engenheiro Ildefonso Dias: Muito aprecio os seus comentários (sem ser sob anonimato), aliás processologia por mim seguida que têm o mérito de hombridade tão arredada de homúnculos. Além disso, utilizando palavra que quando por eles ditas são pérolas de português vernáculo! Ditas por outros são vergonhas. Mas como estamos em época natalícia , altura de paz entre os homens, limito-me a uma história infantil com sapos que nunca se poderão tornar em príncipes ou simples gentis-homens. Boas-Festas, caro engenheiro.

Rui Baptista disse...
Este comentário foi removido pelo autor.

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