Os países afectos à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), muitos deles situados na Europa, que, neste século, aceitaram, primeiro, acolher o Programa Internacional de Avaliação do Estudantes (PISA) e, de seguida, reorganizar o seu currículo escolar em função de princípios que, depois de burilados, deram origem ao documento, publicado em 2018, The future of education and skills. Education 2030. The future we want, não terão grande consciência da mudança que já se operou (destaco que não se irá operar, já se operou) nos seus sistemas de ensino.
Esta afirmação - que não tendo bases empíricas a sustentá-la, fica perto da opinião -, é feita sobretudo a partir no conhecimento que tenho da realidade portuguesa, mas leva, também, em conta o que estudo da realidade de outros países e o que me dizem colegas desses países.
Deixando de lado os agentes políticos (nacionais e locais), que têm, obviamente, a obrigação de implementar a reforma curricular ditada pela OCDE, vejo,
- num pólo, investigadores/especialistas de universidades, directores e sub-directores escolares e, também, professores inebriados com ela, num indescritível estado de graça;
- num pólo oposto, profissionais incluídos nas mesmas categorias, num estado de perplexidade variável, mas onde está marcada a desorientação, o descrédito, quando não a desistência e a amargura.
Defendo ser preciso proporcionar, de forma completa, objectiva e honesta, informação a quem está no sistema e (ainda) se preocupa com ele, a quem (ainda) se considera responsável pela aprendizagem formal das crianças e jovens. É preciso proporcionar informação porque, não obstante estar muita dela disponível online, a sua indescritível quantidade aliada à sua particular natureza requer apuramento, leitura e sistematização, e, neste processo, separação do que é da ordem da ideologia e do que é da ordem do conhecimento.
Trata-se de um trabalho que demora muito, mas mesmo muito tempo; tempo que nem directores nem professores têm (lamentavelmente, o tempo que têm é para executar, não para estudar e pensar). Contudo, é um trabalho crucial, que deve ser feito, nas escolas e/ou nas universidades, de modo que a informação crua (isto é, sem interpretações) chegue em "doses digeríveis" a directores e professores de modo que estes possam usá-la para tomar decisões compagináveis com as suas funções no quadro escolar.
Esta nota é a propósito da recente publicação das "re-orientações" da OCDE para a educação global, decorrentes da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU), a que o leitor pode ter acesso nos dois vídeos que se seguem. São documentos que deveriam obrigar a um debate profundo e, obviamente, esclarecido, em cada escola, no sistema, no país.
Trata-se de um trabalho que demora muito, mas mesmo muito tempo; tempo que nem directores nem professores têm (lamentavelmente, o tempo que têm é para executar, não para estudar e pensar). Contudo, é um trabalho crucial, que deve ser feito, nas escolas e/ou nas universidades, de modo que a informação crua (isto é, sem interpretações) chegue em "doses digeríveis" a directores e professores de modo que estes possam usá-la para tomar decisões compagináveis com as suas funções no quadro escolar.
Esta nota é a propósito da recente publicação das "re-orientações" da OCDE para a educação global, decorrentes da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU), a que o leitor pode ter acesso nos dois vídeos que se seguem. São documentos que deveriam obrigar a um debate profundo e, obviamente, esclarecido, em cada escola, no sistema, no país.
Future of Education and Skills 2030: The new “normal” in education
Future of Education and Skills 2030: OECD Learning Compass 2030
4 comentários:
O sistema de ensino básico e secundário perdeu a alma. Uma escola viva constrói-se com matéria e espírito.
Na escola inclusiva com currículos flexíveis, o ensino das numerosas e, por vezes, "inconvenientes", disciplinas “clássicas”, como a matemática ou a história, deve ser aligeirado ao máximo, pois assim toda comunidade ganha, desde os alunos que já pouco têm para estudar, até aos professores que praticamente se limitam a passar quem pouco sabe e quem não sabe.
Depois, o cidadão, munido do seu diploma, pode sentar-se atrás da caixa do hipermercado, ou ir lá para fora, maldizendo o tempo que perdeu na escola secundária, pelo menos.
Com este enquadramento, no ensino já não é possível uma evolução na continuidade.
Temos de fazer uma Revolução!
Tudo treta. A ignorância, por si só, não é indagadora da procura do conhecimento.
Para além disso, os vídeos transmitem uma impossibilidade e uma mentira. Erros grosseiros que não podem ser tolerados, quer por aqueles que não são técnicos (leigos), quer por aqueles que sendo técnicos são incompetentes (assim é designada a ignorância técnica).
É nada perceber sobre o limite das possibilidades, o consentimento cognitivo, primeiro, e, só depois, muito depois, a dissonância cognitiva. É nada perceber sobre os princípios pedagógicos que devem reger a intervenção pedagógica.
Enfim, uma irresponsabilidade perante as gerações vindouras. A agenda está em marcha. Segundo Savater, tristes são os tempos em que a reafirmação do óbvio se torna absolutamente necessário. É este o tempo.
Pode ser pedir muito, mas não se pode pedir menos: que as políticas públicas tenham por base evidência científica.
As discussões sobre as pedagogias e as didácticas e as escolas e os professores que andam muito ancoradas às ideias feitas (que nos impedem/estorvam de ter ideias não feitas) de que o saber, sendo um valor de incomparável importância, é, por si só, a melhor compensação de todo aquele que lhe dedicar o melhor de si, são exercícios de retórica, e não pura.
O apelo à ingenuidade típica de quem é encorajado/forçado a sair de uma ruralidade/urbanidade analfabeta, ou que seja por acção e graças de um fascínio pelas letras e pelas ideias ou pelos números, esbarra, quase sempre, contra a realidade das verdadeiras sapiências, fortalezas venais, useiras e vezeiras na fungibilidade dos valores, garbosas figurações de budas sorridentes com lunetas de ouro, a dar ordens a este e ao outro mundo.
Ao torturado aprendiz já não basta o feito muito importante de saber. Hoje, o saber está em completo desuso. É exigido que saiba fazer, exame de extrema importância, a que será submetido. Mas que de nada vale... Porque ainda falta o fazer. E vai faltar sempre.
Por que é que não trabalhas, Benjamim?
Trabalho não acaba, Benjamim não trabalha mais.
A perspectiva do aprendiz é esta: vais ter que te matar a aprender o que vem nos livros (pode ser que alguém te explique e tu percebas), durante vinte ou mais anos para obteres um certificado/diploma para justificares a tua existência; depois, vais mostrar que sabes (ou não) fazer o que aprendeste e obterás (ou não) mais um certificado/diploma; depois, e só depois, com muita sorte, poderás ter ainda que fazer, fazer, fazer...
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