Revi ontem, num mercado, como vendedora de hortaliças, uma pessoa a quem tinha perdido o rasto. Funcionária pública, era exemplar no atendimento. A passagem do tempo num serviço rotineiro, num espaço desengraçado não mudava a sua energia e empenho.
"Saí - disse-me - quando se começou a falar em picar o ponto. Aquilo não era para mim." E agora? "Fiquei com as terrazitas da família. Vai dando para viver e ninguém me controla". Era a mesma jovem que conheci vai para quinze anos.
Ontem ouvi a notícia de que no Serviço Nacional de Saúde vai ser obrigatório, já a partir de 1 de Janeiro do próximo ano, o controlo biométrico dos funcionários. Saiu um despacho governamental nesta semana que assim o determina. O pretexto é... a transparência. Que palavra mais estafada! E sem sentido!
O controlo estende-se a todos os trabalhadores. Mas pode acontecer que os melhores, os mais capazes, os mais devotados às suas tarefas, aqueles que querem preservar valores como a responsabilidade, a confiança e a dignidade façam o mesmo que a minha vendedora de hortaliças.
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2 comentários:
E por que não?, controlo para todos, na função pública?!
"O controlo estende-se a todos os trabalhadores. Mas pode acontecer que os melhores, os mais capazes, os mais devotados às suas tarefas, aqueles que querem preservar valores como a responsabilidade, a confiança e a dignidade façam o mesmo que a minha vendedora de hortaliças."
Ninguém deve ser controlado? Uns devem ser controlados, outros (os "talentosos", os "criativos" e os "eficientes"), não?!
"Os melhores, os mais capazes, os mais devotados às suas tarefas" não devem ser controlados? E quem são eles?, como descortiná-los, reconhecê-los, discriminá-los (positivamente) "ab initium"?
A norma (!), dos que procuram a função pública, é a mediania, a mediocridade!
Aplausos para a "nova" vendedora de hortaliça!
Lá porque (o ilustre Anónimo) viu umas cinco ou seis árvores decadentes, parte daí para - generalizando - classificar toda a ampla floresta, mesmo as árvores que nunca viu?
Guilherme de Almeida
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