O título de cima é o de uma obra coordenada pelo historiador Augusto Moutinho Borges e pela arquitecta Sandra Gameiro Baptista,publicada pela GNR em 2016. Com um excelente aspecto gráfico e ricamente ilustrada a obra, publicada pelos 50 anos do Centro Clínico da GNR, descreve o Convento de S. João de Deus, onde aquele centro se situa (às Janelas Verdes, em Lisboa). O prefácio é do tenente-general Manuel da Silva Couto, Comandante-Geral da GNR e a apresentação do coronel José Leite Machado, director do Centro Clínico.
No capítulo I é tratada a História, apresentando São João de Deus, a fundação do Convento-Hospital e o seu quotidiano, assim como a Ordem Hospitaleira de S. João de Deus e os Hospitais Militares em Portugal, No II capítulo II é apresentada a arquitectura do Convento e a arte (igreja, pintura mural e azulejaria). Uma cronologia e um posfácio pelo coronel Reinaldo Valente de Andrade, que chefia a Divisão de História e Cultura da GNR completa a obra.
S. João de Deus, o patrono dos hospitais, doentes e enfermeiros em todo o mundo e santo da Igreja desde 1690 é - nem todos o sabem - um santo português, pois nasceu em 1495 em Montemor-o-Novo, no Alentejo (com o nome de João Cidade), tendo morrido em 1550, em Granada, Espanha. Depois de uma conversão tardia, que foi antecedida por uma vida de pastor, soldado e livreiro, fundou em 1540 um Hospital em Granada que é um dos primeiros hospitais modernos, por estar mais avançado que os hospitais medievais. Fundou também a Ordem Hospitaleira de S. João de Deus, que em Portugal (onde chegou em 1606. com a vinda de irmãos para Montemor-o-Novo) teve a seu cargo uma rede de hospitais militares que mostrou a sua utilidade nas Guerras da Restauração, cuja sede era precisamente o Convento de S. João de Deus em Lisboa. O edifício do mosteiro foi doado por D. António Mascarenhas, deão da capela real, em 1629, no período filipino, à Ordem Hospitaleira de S. João de Deus. No século XIX, após a extinção das ordens religiosas, o hospital de S. João de Deus passou a ser hospital da Guarda Real da Polícia de Lisboa, tendo passado para a GNR, fundada em 1911, em 1920. O edifício serviu várias funções na GNR (era chamado Quartel das Janelas Verdes) até ser aí inaugurado em 1966 o Centro Clínico da GNR.
Augusto Moutinho Borges tinha defendido a sua tese de doutoramento em 2008 sobre "Os Reais Hospitais Militares em Portugal administrados e fundados pelos Irmãos Hospitaleiros de S. João de Deus , 1640-1834, na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa (publicada em 2009 pela Imprensa da Universidade de Coimbra) e publicou recentemente a obra premiada "Azulejaria de S. João de Deus em Portugal, 1615-2015, na Caleidoscópio. De facto, os azulejos, representando muitas vezes cenas da vida do santo, são um dos elementos artísticos mais notáveis dos hospitais reais de S. João de Deus.
Estão de parabéns os autores por esta obra que revela um rico património ignorado praticamente de toda a gente dado o facto de o edifício ser uma instalação militar. Há muito Portugal desconhecido!
Na imagem: Tratamento aos loucos no Hospital Real de Granada (painel de azulejos no Convento-Hospital). Sim, eles eram açoitados. O mesmo aconteceu com S. João de Deus, que foi a certa altura da sua vida considerado louco.
1 comentário:
Estagiei neste mesmo local, e nunca soube da sua história até agora, é realmente interessante as revira-voltas que aconteceram e acabou como Centro Clinico da GNR.
-Daniel Parauta (18) 11/06/2024
Enviar um comentário