sábado, 31 de dezembro de 2016

Recorde-se, nesta passagem de ano, a noção kantiana de "educação"

Na passagem de um ano que foi, a diversos títulos, sombrio para um outro que se deseja mais luminoso, deixo algumas preciosas palavras de Immanuel Kant (1724 -1804) sobre a educação. 

Tal como outros filósofos que o antecederam, Kant percebeu bem que a educação é a única forma que temos de nos tornarmos e permanecermos humanos. Quando deixa de ser orientada por essa finalidade última que é o pensamento esclarecido, a barbárie rapidamente substitui a humanidade.

Talvez estejamos, mais uma vez, a falhar na resolução desse eterno problema que é a educação, "o maior e mais difícil que pode ser confiado ao homem"... Só assim se compreende o avanço das muitos nuvens cinzentas e algumas bem negras que pairam sobre todos nós.

"O homem é a única criatura que tem de ser educada (...)

Educar é uma arte cujo exercício tem de ser aperfeiçoado através de muitas gerações. Cumulada com os conhecimentos dos que já passaram, cada geração pode sempre levar a cabo, cada vez mais, uma educação que desenvolva proporcionadamente e de modo conforme ao seu fim todas as disposições naturais do homem, e assim conduzir todo o género humano à sua destinação.

O homem deve desenvolver primeiro as suas disposições para o bem; a Providência não as colocou já prontas nele; são meras disposições e sem a nota da moralidade. Tornar-se melhor, cultivar-se e, quando se é mau, produzir em si a moralidade, isso é tarefa do homem.

Mas quando se reflecte maduramente sobre isso, descobre-se que tal é muito difícil. 

Daí que a educação seja o maior e mais difícil problema que pode ser confiado ao homem.

Pois o saber depende da educação, e a educação depende, por seu turno, do saber.

Daí que a educação também só possa avançar a pouco e pouco, e é apenas pelo facto de uma geração transmitir as suas experiências e conhecimentos à seguinte, e esta acrescentar algo por sua vez e passá-lo deste modo à seguinte, que pode emergir um conceito correcto de como educar (...).

O homem pode ser ou meramente adestrado, amestrado, instruído mecanicamente, ou ser realmente esclarecido. Adestra-se cães, cavalos, e também se podem adestrar homens."

___________
Referência bibliográfica: Kant, I. (1803/2012). Sobre a pedagogia. Lisboa: Edições 70.

2 comentários:

Ildefonso Dias disse...

Para sí, professora Helena Damião, este excerto de uma carta de TOLSTOI a ROMAIN ROLLAND, retirada da revista vértice, Nov. - Dez. 1960; Depois, muito gostaria de saber o que pensa do texto, onde discorda dele, se for o caso, porque se afasta da realidade de hoje. Obrigado.


"Exceptuando aqueles que sustentam o principio inepto da ciência pela ciência e da arte pela arte, os partidários da civilização são obrigados a afirmar que a ciência e a arte são um grande bem para a humanidade. Esse bem, consiste em quem? Quais são os sinais que nos permitem distinguir o bem do mal? Os partidários da ciência e da arte evitam responder a estas perguntas. Pretendem mesmo que a definição do bem e do belo é impossível. «O bem em geral, dizem eles, o belo não pode ser definido». Mas mentem. Desde sempre, a humanidade, no seu progresso, não fez outra coisa que não fosse definir o bem e o belo. Mas essa definição não lhes convém: ela desmascara a futilidade, se não os defeitos nocivos contrários ao bem e ao belo do que eles chamam as suas ciências e artes. O bem e o belo estão definidos desde há séculos. Os brâmanes, os sages dos budistas, os sages dos chineses, dos hebreus, dos egípcios, os estóicos gregos definiram-no e o Evangelho demarcou-o da maneira mais precisa.
Tudo o que une os homens é o bem e o belo – tudo o que os separa é o mal e o feio.
Toda a gente conhece esta fórmula. Está escrita no nosso coração.
Para a humanidade, o bem e o belo é o que une os homens. Pois bem, se os partidários das ciências e das artes tivessem efectivamente por objectivo o bem da humanidade, não ignorariam o bem do homem e, não o ignorando, não cultivariam senão as ciências e artes que conduzem a esse objectivo. Não haveria ciências jurídicas, ciência militar, ciência de economia politica, nem de finança que apenas tem em mira o bem-estar de certas nações em detrimento das outras. Se, de facto, o bem tivesse o critério da ciência e das artes, jamais as pesquisas das ciências positivas, completamente fúteis com relação ao verdadeiro bem da humanidade, teriam adquirido a importância que têm; nem sobretudo o produto das nossas artes que, na melhor das hipóteses, apenas servem para desentediar os ociosos.”

marina disse...

uma pena que os seus textos quase desapareçam nestes tornados de posts tipo placas de anúncios do pingo doce , porque vale mesmo a pena lê-los . bem haja , bom ano :)

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