terça-feira, 13 de outubro de 2015

A memorização a par do entendimento

Nos anos 70 e 80 do século XVIII, Kant ensinou Pedagogia, tendo tido oportunidade para afirmar o seu entendimento iluminista de educação. As notas que escreveu para orientar os cursos que leccionou foram publicadas por um dos seus estudantes - Friedrich Theodor Rink - sob o título Sobre a educação, saído em 1803.

Um dos aspectos de grande interesse desta pequena-grande obra é a explicitação do que hoje designamos por currículo, dos seus fundamentos e organização.
A sua actualidade justifica a leitura ou a releitura.

Às crianças tem de se ensinar apenas aquelas coisas que se adequam à sua idada (...)
A memória tem de ser cultivada cedo mas imediatamente a par disso o entendimento.
Cultiva-se a memória1) através da fixação de nomes nas narrativas; 2) através da leitura e da escrita, aquela, porém, tem de ser exercitada de cabeça e não soletrando; 3) através das língua que têm de ser ensinadas às crianças inicialmente através da audição, antes de conseguirem ler alguma coisa. Nessa altura, é de grande préstimo chamado Orbis pictus* , adequadamente organizado, e pode-se dar início à Botânica, à Mineralogia e à descrição da natureza em geral. Fazer um bosquejo destes objectos dá azo ao desenho e à modelação, para o que se precisa de matemática. O mais vantajoso no primeiro ensino científico é versar a geografia, a matemática, bem como a física. As narrativas de viagens, ilustradas com gravuras e mapas, levam antão à geografia política. Do estado actual da superfície do globo remonta-se ao estado anterior, passa-se então à descrição da terra antiga, à história antiga, etc.

*[O mundo vível das coisas de Comenius, que apresenta imagens legendadas]

Edição consultada: Edições 70, ano de 2012, páginas 62, 49-50.

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