segunda-feira, 10 de novembro de 2014

MEDICALIZAÇÃO DA SOCIEDADE



Quarta-feira, 12 de Novembro, pelas 18h00, no espaço Rómulo de Carvalho Centro Ciência Viva da Universidade de Coimbra.


"Um dos fenómenos mais preocupantes que está a atingir a sociedade prende-se com a medicalização. O ser humano preocupa-se com a perda da saúde e quando lhe acenam com diagnósticos fabricados com o propósito de o perturbar aceita quaisquer propostas. A construção de novas doenças tem vindo a aumentar e a oferta de soluções também. Não há dia em que a comunicação social não chame a atenção para estes problemas. 

A medicalização é uma constante. Curiosamente começou dentro da medicina, mas agora estendeu-se a todas as áreas. Uma das doenças construídas diz respeito à transformação de situações normais, e desejáveis, como é o caso da tristeza. A tristeza, um estado de alma, base de muita criatividade, acabou por ser considerada como doença e tratada como se fosse uma "depressão". 

O resultado é fácil de ver, uma legião de dependentes de ansiolíticos e antidepressivos com todas as consequências daí resultantes. Mas o que é mais preocupante é a oferta de produtos para tudo e para nada, levando a um consumismo exagerado e sem qualquer valor. A população envelhece a olhos vistos e por isso tem de suportar algumas maleitas sem importância, sem correr risco de vida ou sofrer complicações graves de saúde. Frágeis, ansiosos, são um alvo preferencial de campanhas agressivas a fim de comprarem muitos produtos. Outra área que merece profunda reflexão diz respeito à alimentação. Hoje, cada alimento tem propriedades curativas e em função disso passaram a ser mais medicamentos do que outra coisa. Uma obscenidade. 

Todos os dias surgem press releases a anunciar propriedades e mais propriedades de muitos produtos a ponto de parecerem ser uma forma miraculosa para resolver ou prevenir os diferentes problemas. São tantos alimentos que dificilmente se encontrará algum que não tenha propriedades terapêuticas. Outro aspeto preocupante é transformar certas situações, que deveriam ser consideradas como normais, em casos patológicos. E se logo a seguir for oferecida uma "solução", então, é certo e sabido que a procura irá aumentar. 

Desmedicalizar a sociedade é um imperativo. Na prática não vai ser fácil, para não dizer impossível. Em primeiro lugar porque é uma fonte de negócio e em segundo porque as pessoas encontram explicações para os seus "problemas". O que é maravilhoso. Se a seguir tiverem à distância da sua bolsa a solução para os seus males, então, o negócio da medicalização tem o futuro garantido. E pelo que se vê por aí..." 

Salvador Massano Cardoso


Esta palestra insere-se no ciclo "A Ciência no Dia-a-Dia" organizado por António Piedade.

4 comentários:

Anónimo disse...

Nem mais. As farmacêuticas transformam a sociedade em dependentes e zombis. Fazer o desmame é imperativo e uma prioridade.

Carla

Azrael disse...

Que estupidez. A depressão não é tristeza. Depressão é una doença com mecanismos fisiológicos bem conhecidos.

Cisfranco disse...

Quem está fragilizado acredita em tudo. É difícil alguém nessa situação, perante um malabarista que acima de tudo quer fazer negócio, não acreditar. Há tanta coisa que se vende e consome em alta escala por esta via. Mas tudo bem, desde que não faça mesmo mal à saúde. O rombo que faz à carteira é o menos importante ... quem pode compra. Por isso é que a formação, o poder de discernimento e espírito crítico são tão importantes."Com papas e bolos se enganam os tolos..."

Anónimo disse...

"Depressão é una doença com mecanismos fisiológicos bem conhecidos"

Não consigo concordar, porque esta afirmação simplesmente não é verdadeira. Não existem evidências para muitos desses supostos mecanismos, não passam de suposições e alguns até já foram desmontados, principalmente o suposto desequilíbrio químico ao nível dos neurotransmissores, que objectivamente foi uma grande propaganda, mas não passou disso.

Muitos dos antidepressivos não são melhores do que o placebo, assim como demonstram mais do que uma meta-análises.

Para além disso, não existe nenhum critério objectivo para diagnosticar a depressão, assim como não existe nenhum critério objectivo para diagnosticar tantas outras coisas dentro da psiquiatria.

E mais, se a melancolia, tristeza acentuada, ou, se quiser, a depressão tiver uma causa ou conjunto de causas bem identificadas, no máximo, pode ser um sintoma de uma doença e não uma doença por si própria, passando essas causas a serem tratadas por outras áreas/especialidades da medicina.

É também importante notar que as pessoas podem ficar deprimidas por razões tão dispares que se torna praticamente impossível querer aplicar o mesmo tratamento a toda a gente. Cada pessoa é uma pessoa! Muitas vezes, na maioria das vezes, trata-se de um problema comportamental, uma reacção aos acontecimentos da vida, e não um problema médico. Daí falar-se na tal medicalização da sociedade, mas há mais exemplos, como na educação, etc.

Esta é a pura verdade, e é fácil de verificar, não inventei nada.

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