sábado, 20 de dezembro de 2008

SOBRE "UNIVERSO, COMPUTADORES E TUDO RESTO"


Minhas respostas a questões colocadas por estudantes do Instituto Politécnico de Leiria sobre o meu livro "Universo, Computadores e Tudo o Resto":

P- No livro “Universo, Computadores e Tudo o Resto“, "tudo o resto" tem algum significado especial?

"Tudo o resto" quer dizer simplesmente que o livro trata de vários assuntos além do cosmos e das máquinas. Evidentemente que o Universo abarca tudo: vida e tudo o resto... Trata-se de uma referência ao livro "Life, Universe and Everything", terceiro volume da obra "Hitchhiker's Guide to the Galaxy", do escritor inglês Douglas Adams (falecido em 2001, já depois da publicação do meu livro). No primeiro volume dessa série já se colocava a questão sobre "vida, universo e tudo o resto" e o computador "Deep Thought" dava uma resposta que era apenas um número: 42. Esta mesma resposta é dada pelo calculador do Google (experimentem...) Parece uma brincadeira e é mesmo! O autor explicou um dia porque a resposta era 42:

"The answer to this is very simple. It was a joke. It had to be a number, an ordinary, smallish number, and I chose that one. Binary representations, base thirteen, Tibetan monks are all complete nonsense. I sat at my desk, stared into the garden and thought '42 will do.' I typed it out. End of story."

Portanto, embora o meu livro trate de assuntos sérios (é uma colecção de ensaios sobre ciência e cientistas, incluindo discussões de filosofia da ciência), o meu título é uma brincadeira com base noutra brincadeira.

P- Com o o aparecimento da nanotecnologia, do novo acelerador de partículas do CERN, dos últimos desenvolvimento da mecânica quântica e, mais em geral, da física moderna acredita que a física está mais próxima da «inteligência natural» da Natureza?

R- Sim, a ciência vai-se aproximando da Natureza que pretende descrever. Sem nunca lá conseguir chegar... Fazemos modelos cada vez melhores de uma realidade que é complicada e bastante esquiva. A "inteligência natural" da Natureza é uma metáfora, que remete para a existência de uma ordem natural, que é inteligível pelos humanos, embora de forma difícil e progressiva, e, por isso, sempre incompleta. Usando a analogia entre o Universo e o computador que discuto no livro, se o Universo é a máquina, as leis do Universo são o software dessa máquina. Um novo instrumento como o novo acelerador do CERN constitui um poderoso meio de procurar conhecer melhor as leis da física a um nível fundamental. Claro que nada nos diz sobre a vida nem sobre o resto...

P- Considerando os seus conhecimentos e experiência profissional, qual é a sua opinião acerca dos escritos antigos de Lucrécio e Plutarco?

R- Lucrécio é o autor de uma única obra, o poema "De Rerum Natura", em português "Sobre a Natureza das Coisas", que é o título de um blogue no qual escrevo com outros colegas. No manifesto do blogue escrevemos:

"O poeta latino Tito Lucrécio Caro, que viveu no século I a.C., escreveu um único livro: o poema De Rerum Natura. Nele defende a teoria atomista (Demócrito já tinha dito antes «Tudo no mundo é átomos e espaço vazio») mas fala, além de coisas da física e da química, de muitas outras coisas: biologia, psicologia, filosofia, etc. O blogue, que partilha o título com o poema de Lucrécio, fala também de várias coisas do mundo, procurando expor a sua natureza"

O poema de Lucrécio é admirável por defender a teoria atomística muito antes de ela ser conhecida cientificamente e, além disso, por discutir muitos domínios: vida e "tudo o resto", incluindo as questões da origem e evolução da vida. Quanto a Plutarco, outro autor que admiro, é um pensador grego da mesma época de Lucrécio, embora tenha escrito muitos mais livros que este. Defendeu a existência de uma inteligência animal de alguma maneira semelhante à dos humanos. Haveria, segundo ele, uma inteligência associada à vida. Os clássicos como Lucrécio e Plutarco continuam hoje a ser actuais e é por isso mesmo que são clássicos.

P- Acredita na existência de vida fora do planeta?

R- Sim, acho a coisa mais natural do mundo. Porque é que a vida só haveria de existir aqui? O Universo, que é infinitamente grande, deve ter vida em vários sítios, nós só não sabemos é onde. Continuamos a procurar... Aliás, pretendemos responder a um dos mistérios maiores da ciência actual que é o da origem da vida: Teve origem só na Terra? Teve origem noutro lugar ou lugares e foi trazida para a Terra?

Em 2009, ano do aniversário da publicação do livro "Astronomia Nova" de Kepler e ano das primeiras observações do céu com um telescópio efectuadas por Galileu, vai ser lançada uma sonda da NASA, a "Kepler", que pretende encontrar planetas extrasolares parecidos com a Terra, onde poderá eventualmente existir vida, embora não inteligente. Curiosamente, Kepler é um dos primeiros autores de ficção científica, portanto um antecessor de Douglas Adams. Ele foi o autor de "Somnium", em português "Sonho", onde descreve uma viagem espacial. Encontrar vida no Universo fora da Terra é um dos actuais sonhos do homem. A propósito ocorre-me uma anedota sobre um astrofísico a quem perguntaram se havia vida inteligente no Universo. Respondeu: "No Universo pode ser que sim, na Terra está visto que não".


1 comentário:

Fernando Gouveia disse...

Há também aquela famosa frase: «A prova da existência de vida inteligente extraterrestre é o facto de que nunca tentaram contactar-nos...»

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