terça-feira, 9 de dezembro de 2008

A mãe de todas as demonstrações

Em 1945, um estudante de engenharia electrotécnica que a II Guerra Mundial transformara temporariamente em técnico de radar leu no número de Julho da revista The Atlantic Monthly o artigo As We May Think de Vannevar Bush. No artigo, uma versão mais elaborada de outro texto de 1939 intitulado Mechanization and the Record, Bush descreve o Memex, um conceito revolucionário que impressionou imenso o jovem Douglas Engelbart:

«A mente opera por associação o que torna ineficiente indexar a informação de forma alfabética ou numérica. O pensamento é mantido numa teia de conhecimento no cérebro; seria ideal encontrar uma forma de se fazer algo análogo de forma automatizada.

O artigo sugere um aparelho chamado Memex, que armazena publicações, livros e anotação, conjuntamente com fotos, como um suplemento à memória humana com claridade e permanência melhor

Com o final da guerra, Engelbart voltou para a Universidade, licenciou-se (em 1948) e foi trabalhar para o NACA Ames Laboratory - o precursor da NASA. Por volta de 1950, Engelbart recordou o artigo de Bush e começou a «envision people sitting in front of displays, 'flying around' in an information space where they could formulate and organize their ideas with incredible speed and flexibility

Engelbart deixou o Ames Lab e foi para Berkeley onde se doutorou em engenharia electrotécnica em 1955. O seu sonho de desenvolver uma forma de usar computadores para aumentar o intelecto levou-o para Stanford onde conseguiu financiamento para levar para a frente as suas ideias, em especial após o lançamento do Sputnik, em 1957. De facto, outro efeito colateral da guerra fria foi a criação pelo governo dos EUA da ARPA (Advanced Research Projects Agency), uma agência que financiava projectos arrojados que devolvessem aos Estados Unidos a supremacia tecnológica que o país queria manter.

Assim, em 1963, a ARPA financiou o laboratório que permitiu a Engelbart concretizar o sonho aceso nas Filipinas pelo artigo de Bush e apresentado nesse mesmo ano num artigo intitulado A Conceptual Framewok for an Argumentation of Man's Intellect. No Augmentation Research Center Engelbart desenvolveu, em conjunto com William English e John Rulifson, o On-Line System (NLS) o primeiro ambiente integrado para processamento de dados. O NLS foi pioneiro em muitas das características que hoje integram os modernos sistemas multimedia online: rato, ambiente de janelas múltiplas, e-mail, teleconferência, sistemas de ajuda online (via rádio ou vídeo), processador de texto e hipertexto.

Em 9 de Dezembro de 1968, faz hoje exactamente 40 anos, Engelbart e os seus 17 colaboradores demonstraram o NLS na Fall Joint Computer Conference, em São Francisco. Durante 90 minutos, uma audiência de cerca de 1000 engenheiros electrotécnicos viu pela primeira vez acessórios hoje corriqueiros como um teclado, um rato, e um microfone colocado na cabeça. O vídeo original deste evento histórico pode ser apreciado neste site da universidade de Stanford.

Numa entrevista recente à Folha Online, Engelbart descreve o processo de invenção do rato, uma caixa de madeira com algumas rodas pela qual não ganhou um cêntimo.

Mas se as suas ideias para aumentar o intelecto humano não lhe renderam dinheiro, renderam certamente o reconhecimento dos pares que se reunem hoje para celebrar os 40 anos do acontecimento na sessão Engelbart and the Dawn of Interactive Computing que termina a conferência Program for the Future. Como refere a Wired:

Forty years ago tomorrow, a Silicon Valley engineer named Douglas Engelbart made a presentation so influential that computer scientists now call it "the mother of all demos." More than a mere product demo, it was a down payment on an ambitious idea: That networked computers could help groups of people work together more effectively, raising the collective intelligence of the human race and making it possible to solve some of our most pressing problems, including pollution, famine, disease, and war.

Today, more than 100 hopeful believers in Engelbart's vision are gathering at San Jose's Tech Museum of Innovation, in the heart of Silicon Valley, to talk about the ways that they can help foster greater collective intelligence.

1 comentário:

alvares disse...

E talvez a mais madastra das demonstrações... Depois de se ver o video, fica demonstrado, que 40 anos depois, com tantas publicações por esse mundo fora, pouco coisa "realmente" nova se tem feito... Dá que pensar, não?

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