quarta-feira, 24 de abril de 2024

CONTRA A HEGEMONIA DA "NOVA NARRATIVA" DA "EDUCAÇÃO DO FUTURO", O ELOGIO DA ESCOLA, O ELOGIO DO PROFESSOR

Para compreender – e enfrentar – discursos como o que aqui reproduzimos, da lavra da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), ao qual, com honrosas excepções, políticos, comunicação social, académicos e educadores de demasiados países do mundo se curvam, recomendamos a leitura de dois livros organizados pelo professor de Ciências da Educação Jorge Larrosa, da Universidade de Barcelona (aqui e aqui). Maria Helena Damião e Cátia Delgado.
 
"Atualmente, estamos assistindo a certa dissolução da forma tradicional da escola. A escola, diz-se, já não é o único lugar da educação, e talvez não seja o mais adequado. A escola, diz-se, se transformou em um lugar anacrónico, obsoleto, desagradável e ineficaz. A aprendizagem, diz-se, ultrapassa as fronteiras da escola e se dá em todos os lugares e a qualquer momento. A crítica da escola se tornou um lugar-comum, e a educação ficou sem um lugar próprio. E é agora, neste momento de crítica e dissolução da forma da escola, que queremos repensá-la amorosamente para reencontrar sua especificidade e sua autêntica natureza. Este livro apresenta diversos exercícios de pensamento (textos, filmes e exposições) que tentam trazer ao mundo aspectos da escola, do estar na escola, do ordinário da escola, de uma memória escolar em suas atualizações, do chiaroscuro no cotidiano escolar, de tudo o que ainda faz com que a escola exista como lócus para um espaço público e um tempo livre." (aqui).
 
"Com as críticas ao professor tradicional, a exigência por inovação e a redefinição das funções da escola, o ofício de professor – que Hannah Arendt relacionava à transmissão e à renovação do mundo comum – vem sendo desqualificado. E as pessoas que o exercem estão sendo redefinidas como mediadoras, coaches, animadoras de aula ou impulsionadoras das aprendizagens autónomas. Ao mesmo tempo, são submetidas cada vez mais à “reciclagem” permanente, à precariedade laboral, à perda de sua autoridade simbólica e à dissolução do sentido público (e, portanto, independente) de seu trabalho. Reagindo a essa constatação, os autores deste livro dedicam tempo e atenção às formas, aos gestos e às materialidades que compõem o ofício de professor." (aqui)."
 
"Os organizadores deste volume, Jorge Larrosa, Karen Christine Rechia e Caroline Jaques Cubas, colaboram há anos em um projeto de largo alcance orientado a pensar e a defender a escola pública (tão ameaçada) e a dignificar o ofício de professor (tão precarizado). No marco desse projeto, foram organizadas algumas das atividades que deram lugar a este livro, assim como a Elogio da escola (aqui)."

2 comentários:

António Pires disse...

Esta hegemonia da "Educação do Futuro" entra pelas escolas dentro com a força de uma moda. Ninguém gosta de estar fora de moda. Ora, os exames estão fora de moda, mas...
No ano letivo de 2022/ 2023 fiz parte de um "júri de exame" do 9.º ano escolaridade. Então, obedecendo escrupulosamente às diretrizes governamentais, elaborámos a prova com um grau de dificuldade praticamente nulo, para a qual preenchemos três ou quatro grelhas excel repletas de critérios de classificação e correção que, depois de aplicados à risca, implicavam a não aprovação do examinando. Mas, como não quisemos ficar fora de moda, passámos o aluno! Infelizmente, isto não é, como dizia a outra, um caso pontual. A indisciplina, para ser eufemístico, tomou conta das escolas.

Carlos Ricardo Soares disse...

A bandeira da Liberdade. Porque abril é sempre primavera.
A minha esperança na educação, como no resto, é fruto da minha constatação, desde sempre, de que, em liberdade, havendo condições de liberdade, a cultura, por si mesma, gera progresso. Ou seja, o progresso é inerente ao processo cultural, que é o processo pelo qual o homem, em liberdade, escolhe o melhor, no quadro das possibilidades.
A Educação deve abster-se de agitar bandeiras.
A única bandeira, se houvesse uma, que ficaria bem à Educação, seria a da Liberdade.
O conceito de progresso é muito problemático e quando vejo alguém a usar o termo como uma bandeira fico preocupado, mesmo que esse uso se tenha banalizado, ou faça parte daqueles lugares comuns a que todos torcem o nariz e ninguém é capaz de dizer não.
Quando é um grupo, ou um partido, seja de humanistas, da verdade, de Deus, ou de outra coisa qualquer, a agitar a bandeira de progresso, ainda fico mais preocupado.
É na Liberdade, no quadro das possibilidades, subjetivas e objetivas, que o indivíduo opera as suas escolhas (e não as dos outros), e estas devem ser o mais livres possível, não devem ser tolhidas com repressões e opressões e práticas de submissão que se reproduzem em espirais de discriminação, de desigualdades, de violência e de injustiça.
Onde as pessoas têm liberdade de escolha o progresso acontece "naturalmente", diria mesmo que só na liberdade de escolha o progresso acontece como um determinismo. E isto deve dar-nos esperança e tranquilidade, desde que asseguremos a tal liberdade sem a qual os problemas se multiplicam. Em liberdade, o confronto com o tradicional faz parte do tradicional e é desse confronto que, também, resulta o progresso. Mas não se promove a liberdade quando se trabalha para a desinformação.
Iria mais longe, até ao paradoxo democrático, de dizer que não se promove liberdade quando se promove um partido, nem talvez quando esse partido fosse o partido da liberdade.

FÁBULA BEM DISPOSTA

Se uma vez um rei bateu na mãe, pra ficar com um terreno chamado, depois, Portugal, que mal tem que um russo teimoso tenha queimado o te...