Introdução
Coimbra, sede de uma das mais antigas universidades portuguesas e uma das
mais antigas do mundo, é uma cidade extraordinariamente rica em história e
cultura. Sobressai o papel que teve na
produção e difusão de livros. Foi em Coimbra que funcionou a maior biblioteca
medieval português, no Mosteiro de Santa Cruz,
é em Coimbra que está a segunda biblioteca portuguesa, a Biblioteca
Geral da Universidade de Coimbra, com mais de 500 anos, que inclui a
Biblioteca Joanina, demandada por numerosos visitantes por ser considerada
uma das mais belas do mundo, e uma das mais antigas e maiores bibliotecas
municipais do país, foi em Coimbra que funcionaram editores e livreiros antigos e de nomeada
(João Barreira, Imprensa da Universidade de Coimbra, Atlântida, Coimbra Editora
e, na actualidade, a Almedina), foi em Coimbra que se editaram famosas revistas
literárias e científicas (O Instituto, Presença, etc.), e foi também
nessa cidade que nasceram ou viveram grandes escritores, tanto na poesia como
na prosa (no primeiro grupo Sá de Miranda, Camilo Pessanha, Eugénio de Castro, João
José Cochofel, Fernando Assis Pacheco, Teolinda Gersão, Inês Pedrosa, Nuno
Camarneiro, etc. e no segundo Luís de Camões?, Pedro da Fonseca, Almeida Garrett, Antero de
Quental, Eça de Queirós, António Nobre, Mário de Sá Carneiro, José Régio,
Carlos de Oliveira, Fernando Namora, Miguel Torga, Joaquim Namorado, Eugénio de
Andrade, Eduardo Lourenço, Virgílio Ferreira, Manuel Alegre, etc.).
E, no entanto, Coimbra está ainda a dever a si própria uma maior afirmação
nacional e internacional no domínio dos livros. Por exemplo, apesar de
existirem dois depósitos legais, os edifícios das suas bibliotecas são antigos,
não havendo ajudas do governo central, para pensar no seu restauro ou
refundação. Parece pertinente que se envidem esforços de aumento e valorização
dos espólios existentes na cidade e de dinamização da vida cultural do concelho.
Um bom exemplo recente do papel das bibliotecas de proximidade que existem
nalgumas cidades europeias é a a Biblioteca Gabriel Garcia Márquez, inaugurada
em 2022, a 40.º biblioteca da rede municipal de Barcelona, ganhou em Agosto de
2023 o prémio para a Biblioteca pública do Ano pela Federação Internacional de
Associações e Instituições de Bibliotecas (IFLA). O prédio reúne um pátio, um
auditório, um estúdio de rádio e salas de leitura.
Lisboa planeia duas novas bibliotecas municipais: a Biblioteca António Lobo
Antunes com a Biblioteca Alberto Mangel com o espólios dos escritores. Está a ser
considerada pela Câmara de Lisboa, sob proposta do historiador Rui Tavares, uma
grande biblioteca moderna internacional dedicada a Eduardo Lourenço, que tem
uma boa parte do seu espólio em Coimbra, onde ele se formou e ensinou. Outras cidades estão a renovar as suas bibliotecas, como a histórica Biblioteca Pública do Porto, com projecto de Souto Moura. De facto, as
bibliotecas podem servir para criar e reforçar centralidades, projectar as
cidades e elevar os seus residentes e visitantes.
Novo projecto
cultural
Com vista ao enriquecimento cultural da cidade de Coimbra – a cidade de
notáveis escritores, editores, livreiros e bibliotecários –, da região Centro e
do país que é manifesta por parte da Câmara Municipal de Coimbra e como inequívoca manifestação de apoio à cultura por parte da empresa Águas
de Coimbra EM, foi proposta a instalação, com o nome de ESTAÇÃO ELEVATÓRIA DE
COIMBRA (EEC). de um novo equipamento cultural na cidade de Coimbra – uma
biblioteca que funcione como moderno centro cultural no denominado “Museu da
Água,” situado no Parque Dr. Manuel Braga, em Coimbra, gerido pela empresa
Águas de Coimbra EM. A biblioteca será alimentada na sua totalidade por uma minha doação à Câmara Municipal de Coimbra / Biblioteca Municipal de cerca de 40.000 livros, periódicos (dos
quais cerca de 30% estrangeiros) e itens audiovisuais (CD, DVD, etc.).
Essa doação será feita em parte num acto inicial (cerca de 4000 itens), sendo continuada em parcelas sucessivas, a última das quais, dos livros de sua autoria e de uso pessoal, sendo apenas consumada post-mortem. Ela será feita mediante assinatura de documento jurídico, preparado pela Câmara Municipal e a aprovado pelo executico camarário. No futuro, virá incluir os itens que o doador venha a adquirir ou a receber.
A condição de doação é que todos os itens doados sejam devidamente catalogados de acordo com as normas bibliográficas correntes na Biblioteca Municipal de Coimbra e por esse meio no catálogo colectivo das bibliotecas portuguesas, com o registo «Biblioteca Carlos Fiolhais», ficando acessíveis livre e gratuitamente ao público, quer presencialmente quer por empréstimo interbibliotecas ou domiciliário. O regulamento de acesso será o mesmo da Biblioteca Municipal.
A EEC deve servir como sítio de actividades culturais
(apresentações de livros, tertúlias, debates, workshops, pequenos
shows ligados a livros, etc.), que o doador se propõe organizar, privilegiando a ligação entre as artes, as
ciências e as tecnologias, de modo a diminuir o
intervalo entre as “duas culturas”. Assim, tal significa que a EEC se constitui,
na prática, como um pólo da Biblioteca Municipal de Coimbra, hoje com mais de cem
anos (foi fundada em 1923), de cujos serviços o doador beneficiou em jovem
quando ainda funcionavam no Claustro de Santa Cruz de Coimbra, contribuindo
sobremaneira para a sua formação, e que assim pretende não só reconhecer como recompensar.
Dadas as limitações físicas do espaço da EEC, fica previsto que uma parte do
espólio possa ficar armazenado noutro sítio, desejavelmente próximo, sendo o respectivo
acesso mais demorado.
Para concretizar o projecto espera-se que as Águas de Coimbra EM, detentora do espaço, e a Câmara Municipal de Coimbra, em estreita colaboração, assegurem, para além da adaptação do espaço a biblioteca/centro cultural com adequados projectos de arquitectura e engenharia (incluindo acesso livre a Internet e boas condições de projecção de imagem e som), a manutenção abertura permanente do espaço entre as 10h e as 18h dos dias úteis (para além de outras aberturas extraordinárias julgadas necessárias para alguns eventos), providenciando o apoio de funcionárias/os habilitados.
Sobre o conceito da EEC
“Estação elevatória” é o nome técnico da instalação que funcionou no Parque
Dr. Manuel Braga entre 1922 e 1983, para recolha de água do rio Mondego e sua
distribuição para consumo domiciliário. A Casa da EEC (inicialmente denominada
“Casa do Rio”, para a distinguir da Casa das Águas da Rua da Alegria) foi
erigida em 1922, mas já existiam recolhas de águas nesse sítio do rio desde
1889. No início dos anos de 1980 deixou de servir, dado não só o anquilosamento
tecnológico como a sua substituição pela estação elevatória da Boavista, a
montante do rio, e que permitia recolher águas com maior segurança ambiental e que
ainda hoje funciona (ver José Amado Mendes, História do Abastecimento de
Água a Coimbra, 2 vols., Águas de Coimbra e Museu da Água de Coimbra,
Coimbra, 2009). Depois de um período de abandono, o espaço foi restaurado e
ampliado por iniciativa da Câmara Municipal e dos Serviços de Águas e Saneamento
da cidade de Coimbra (na altura SMASC) ao abrigo do programa Polis, mediante um
projecto dos arquitectos Alberto Lage (Porto, 1969) e
Paola Monzio (Bérgamo, 1969), que ganhou em 2001 o prémio do concurso Polis/ European
para jovens arquitectos com o Centro de Monitorização e Interpretação Ambiental
de Coimbra – Museu da Água. (que acrescentou um novo edifício ao edifício
histórico) e um projecto de musealização do edifício da autoria do arquitecto
João Mendes Ribeiro (Coimbra, 1960). O sítio de Arqueologia Industrial
encontra-se hoje bem preservado, merecendo a sua qualidade e localização uma
utilização renovada.
O “Museu da Água”, que serviu como Centro de Monitorização e Interpretação
Ambiental relativo à água, foi inaugurado em 22 de Março de 2007 (Dia
Internacional da Água), sendo presidente da Câmara Carlos Encarnação. Foram ali
realizadas várias exposições (“Condomínio da Terra”, “Caminhando sobre a Água”,
“Forma d’Águas,” etc.) e oficinas, com inúmeras presenças de público escolar,
para além de conversas (de água e café, de água e chá, de água e doçaria
tradicional e de água e chocolate), concursos, passeios de barco, concertos (no
coreto muito próximo). Parte dessa actividade, interrompida por dificuldades
várias, incluindo o facto de o edifício não oferecer condições para o
funcionamento de um moderno museu, será reatada com a abertura da EEC. Será completamente preservado o espírito do lugar, o que desde logo se
observa na escolha do nome da nova instituição cultural. Mas, tratando-se agora
de um espaço cultural com serviço de biblioteca, há uma interpretação
metafórica óbvia de “Estação elevatória”: a EEC será um espaço onde os cidadãos
de todas as idades, origens e condições sociais se poderão “elevar,”
alimentando-se de bens culturais no ambiente único do parque que ocupa uma
parte do centro da cidade. Usando as mais modernas tecnologias, será também um
sítio virtual, que disponibiliza informação e serviços à distância. Um dos
espaços do piso superior poderá ser usado como estúdio para gravação de podcasts.
Nesse espírito, o doador seleccionará para a primeira entrega livros nas áreas de:
1. - Água e ambiente (nos seus múltiplos aspectos e funções:
física, química, biologia, ecologia, meteorologia e clima, engenharia civil /
hidráulica, ciência e tecnologia dos mares, história de viagens marítimas,
etc.), reforçando a relevância da água e do ambiente no futuro da Humanidade.
2. - Coimbra (história, literatura, arte, ciência, tecnologia,
autores e personagens locais, etc.) e, mais em geral, região Centro, reforçando
a ligação de Coimbra com a sua geografia.
3. - Livros e bibliotecas (arte e comércio livreiro, história do livro e das bibliotecas, editores e livreiros, bibliotecas, etc.), reforçando a centralidade desse tema na cidade de Coimbra (a cidade já foi candidata a Cidade Mundial do Livro).
A «marca de água» da EEC será sempre este triângulo harmonioso “água e
ambiente-Coimbra-livros”, que poderá ressaltar no logotipo a criar, pelas Águas de Coimbra EM. O doador compromete-se a colaborar com
outros serviços e equipamentos da Câmara no programa cultural do município que
se ligue aos vértices deste triângulo.
No entanto, a biblioteca a doar é muito polifacetada abrangendo por exemplo
boas colecções de literatura nacional e estrangeira (incluindo poesia), arte
(pintura, mas também fotografia), banda desenhada, ciência e tecnologia, ensaio
(temas dominantes: história da ciência, história de Portugal, prospectiva,
portugalidade, emigração, religião (principalmente jesuítas, judaísmo e
relações religião-ciência), biblioteconomia, educação, etc.). O número de
periódicos nacionais e estrangeiros é muito significativo. A colecção de discos
digitais com músicas (principalmente música clássica e jazz) e filmes (tanto
ficção como documentários) é também ampla e variada.
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