quinta-feira, 25 de abril de 2024

A LIBERDADE COMO CONSTRUÇÃO HUMANA E FINALIDADE ÚLTIMA DA EDUCAÇÃO

"O Homem é incapaz de gerir a sua liberdade por natureza. 
É preciso educar-se a si mesmo. 
Disciplinar-se, instruir-se e finalmente, capaz de moralizar-se,
com o intuito de saber utilizar ele próprio a sua liberdade."
Immanuel Kant
 
Nos anos 70 e 80 do século XVIII, Kant leccionou Pedagogia. As notas que esboçou foram organizadas e publicadas por Friedrich Theodor Rink, um dos seus estudantes, no pequeno volume que se apresenta ao lado, saído em 1803. Nele se pode perceber claramente a sua ideia iluminista da educação.
 
"O Homem é a única criatura que deve ser educada", declarou. Isto porque a sua natureza é educável, perfectível. Mas não basta que assim seja, precisa de ser educada por outrem. Educar significa, pois, levar aquele que se educa a tornar-se mais perfeito do que aquilo que é.
 
A liberdade, como capacidade - e coragem - de cada um usar a razão, é o centro desse desígnio. Assim, toda a educação deve visar a liberdade. Mas, convém ter presente que educar, segundo esse desígnio, "é o maior e o mais difícil problema que pode ser colocado ao Homem". 
 
Na verdade, implica aprender a pensar; melhor, a pensar por si, para que possa agir, autonomamente, em função da lei moral.

Considero que é de grande importância, no dia em que se festeja, em Portugal, o meio século depois da Revolução de Abril, voltarmos a Kant. Ainda que a educação, com destaque para a educação escolar, não seja garantia absoluta da manutenção da liberdade e da sua irmã democracia, ela é, por certo, o melhor caminho de que dispomos para chegarmos o mais perto possível destes valores. 
 
Mas, para isso temos, como sociedade, de conseguir manter a escola pública e os seus professores. Elevando-a através de um ensino capaz de desenvolver a inteligência das novas gerações, tendo por horizonte a acção ética. 

Reconheço que o desafio é grande num tempo em que (também) em Portugal são reais as tentativas de dissolução dessa instituição maravilhosa e de subversão da função docente.

1 comentário:

António Pires disse...

Nas escolas secundárias, cinquenta anos depois do 25 de Abril, os próprios professores - a quem foi retirada a autonomia para ensinar, ao arrepio do Estatuto da Carreira Docente, com imposição de normas e aberrações como são as Aprendizagens Essenciais, o Ensino por Grelhas Cheias de Domínios e Rubricas, ou os Métodos Pedagógicos da Filosofia Ubuntu, por exemplo, debaixo da supervisão do Ministério da Educação -, não sendo livres não podem educar para a liberdade.
Desde a reforma de Veiga Simão, a população escolar, de todos os níveis de ensino, tem aumentado ao longo dos últimos cinquenta anos. Não estará na hora de recuperar um pouco da qualidade de ensino que se tem vindo a perder ao longo dos últimos cinquenta anos?

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