segunda-feira, 11 de setembro de 2023

MAIS UM APONTAMENTO SOBRE A INSISTÊNCIA NO PAPEL DO PROFESSOR COMO REPLICADOR E APLICADOR

Desculpem-me os leitores voltar a uma questão que tenho por particularmente crítica: a atribuição ao professor do papel de replicador e aplicador seja do que for (ver aqui). 

O professor é, na sua essência, um profissional intelectual, tem obrigação (ética) de dominar as diversas áreas de conhecimento que configuram o ensino e, em função disso, decidir a sua acção. Acção que, sublinhe-se, não pode ser uma qualquer, mas a que concorre para o BEM dos alunos, isto é, para a sua formação (humana).

Pôr-lhe nas mãos, pronto a usar, o que pensar e o que fazer é um acto iníquo de desqualificação profissional, de falta de respeito por cada professor, um atentado à dignidade do trabalho que exerce.

Confesso que é um acto que me incomoda, tanto mais que as suas proporções são crescentes, como crescente é a sua aceitação pelas tutelas e pelas escolas (e, em última instância, pelos próprios professores).

As suas proporções são crescentes quer pelo despudor dos múltiplos "agentes educativos" que têm entrado nos sistemas de ensino para, em nome do BEM dos alunos, concretizarem interesses particulares, quer pela tecnologia informática que potencia a divulgação no imediato de tudo o que "oferecem" aos professores; quer pela fragilidade da formação que é proporcionada aos docentes cujo resultado é a insegurança nas suas decisões; quer, ainda, pela quantidade de tarefas que lhes são imputadas, não lhes deixando tempo nem força anímica para organizarem devidamente a sua acção.

Volto a George Gusdorf, que, no segundo capítulo do seu livro "Professores para quê" (ver, por exemplo, aquiaqui, aqui), publicado há sessenta anos, denunciava a prática emergente de tornar os manuais escolares como "substitutos do professor":

esses manuais escolares que editores judiciosos publicam em dupla edição: o livro do professor e o livro do aluno. O livro do professor é um bocado maior, fornece indicações complementares, dá a solução das dificuldades propostas, evitando ao corpo docente qualquer fadiga inútil. A fórmula é excelente e até permite a supressão pura e simples do professor. Basta que o aluno compre o livro do mestre e retome o monólogo por sua conta.

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