Por Eugénio Lisboa
Os políticos são iguais em todo
o lado.
Prometem fazer uma
ponte, mesmo não havendo rio.
Nikita Krushev
A leitura da nossa comunicação social pode ser muito elucidativa, nem sempre no melhor sentido. A normalidade de tom com que se fala de certas futuras candidaturas à Presidência da República, como se se tratasse de candidatos perfeitamente elegíveis, de gente competente, de uma seriedade à prova de bala, tendo dado provas de grande capacidade e eficácia, nos cargos públicos que antes desempenharam, deixa-me, a um tempo, perplexo e inquieto.
Um exemplo disso é o caso de Santana Lopes, que me faz lembrar aqueles bonecos “sempre em pé”: podemos deitá-los, que eles acabam sempre por se levantar. Mas, entre nós, ao contrário do que acontece em países com democracias amadurecidas, não existe a “morte política”. Um político, mesmo metido nas maiores trapalhadas, mesmo sendo um balão de ar, sem qualquer substância, nunca morre definitivamente para a vida política. Ele aposta – e com razão – na falta de memória dos eleitores. O infame Richard Nixon observava, com um saber de experiências feito, que os eleitores esquecem depressa o que um homem diz.
Santana Lopes foi um péssimo Secretário de Estado da Cultura que, de grande, tinha só o seu incomensurável ego e que, com a cultura, pouca ou nenhuma sintonia tinha. Foi um calamitoso Primeiro Ministro, a quem Sampaio deu relutantemente posse, de costas voltadas para ele, tendo acabado por demiti-lo, por indecente e má figura.
Como Presidente da Câmara é o que se sabe: basta falar-se com tantos que para ele trabalharam ou trabalham.
Há quem o ache um “grande orador”, o que só pode vir de pessoas que nunca ouviram um verdadeiro orador: Santana tem uma voz bem colocada e muita proa, mas em nada domina os segredos de uma verdadeira arte da oratória e o que diz não passa quase nunca de uma mão cheia de nada, outra, de coisa nenhuma. É um homem sem cultura, sem cultura política, sem capacidade de gestão e com uma autoestima de dimensões assustadoras. Está sempre mais preocupado consigo do que com o país. Não tem mundo, não tem a mais pequena noção do que se não pode fazer e não o vejo, nem de longe, capaz de respeitar e fazer respeitar a constituição.
Ora tudo isto não impede muita comunicação social de responsabilidade de o considerar um óbvio possível candidato, precisamente para o cargo para que não está minimamente qualificado. Pelo contrário, trata-se do cargo a que nunca deveria aspirar, se tivesse o mais pequenino sentido de autocrítica, coisa que nunca acontece às pessoas de autoestima exageradamente desfocada.
Infelizmente, Santana Lopes está longe de estar sozinho, quando se trata de não ser capaz de pôr sempre o interesse do país acima de quaisquer outros. Basta ver a calamitosa incapacidade de os partidos ditos do “arco da governação” fazerem os tão necessários “pactos de regime”, de que o desenvolvimento e estabilidade do país tanto necessitam.
O grande escritor americano Gore Vidal, que conhecia a política americana, como poucos, dizia isto, que se aplica como uma luva aos políticos lusíadas:
“Há sempre demasiados congressistas Democratas, há sempre demasiados congressistas Republicanos e não há nunca suficientes congressistas americanos.”
Traduza-se para Portugal e dá certo.
Eugénio Lisboa
Sem comentários:
Enviar um comentário