domingo, 24 de setembro de 2023

UM EXERCÍCIO PARA "ABRIR A MENTE"

Na sequência do texto recente de Eugénio Lisboa e de um texto que escrevi em 2016.

Tenho acompanhado o trabalho sobre Educação do filósofo William Hare, muito guiado por Bertrand Russell, mas também por John Dewey, sobre o que designa por "mente aberta".

Preocupado com o "doutrinamento" a que os professores estão constantemente sujeitos (por parte das mais diversas entidades externas e internas à escola) que os desvia da rota de pensamento intelectual, apanágio da sua profissão, tem escrito diversos textos assaz esclarecedores sobre o assunto.

Num deles (Openminded inquiry. Helping students assess their thinking) convida os futuros professores a “abrirem a mente”, dizendo-lhe como o podem fazer. Trata-se de um guia que, se estudado e bem entendido, beneficia este grupo, mas também os já professores e outros educadores.

A "mente aberta" é um ideal de pensamento que devemos procurar alcançar. Para isso, precisamos de o reconhecer e valorizar, estarmos atentos às suas exigências e sermos persistente na indagação metódica de conceitos, ideias e práticas, que, parecendo compreensíveis e admissíveis, geram confusões e mal-entendidos. O exercício, que se quer progressivo, amplia e aprofunda o raciocínio, com consequências positivas para a educação e para a sociedade.

Esse exercício requer a consciencialização e aperfeiçoamento de um conjunto de "ingredientes" que apresenta num breve, claro e funcional glossário. Desse conjunto fazem parte: suposição, preconceito, crítica, dogmatismo, especialista, falibilidade, humildade, doutrinamento, propaganda, conhecimento, juízo, escuta, pergunta, relativismo, tolerância...

Convido o leitor a fazer (ou refazer) esse exercício: aqui.

2 comentários:

António Pires disse...

Os professores já não estudam filosofia, história ou sociologia
enquanto estão em formação. Eu acho isso muito sério, porque
essas disciplinas eram uma base da profissão e hoje os estudantes
são formados quase como tecnólogos da educação, são
preparados para oferecer conjuntos de instruções.
Michael Young, 2014.

O que está em causa, em 2023, é a autonomia científica e pedagógica dos professores. Num ambiente de indisciplina e violência crescentes, em contexto de sala de aula, tudo o que se possa dizer sobre a autonomia do professor é letra morta.
A preparação dos professores "para oferecer conjuntos de instruções", como dizia Michael Young, já se reflete no ensino/ aprendizagem das nossas escolas EB 1,2,3 +S +JI, de onde foram expurgadas as matérias que exigiam um mínimo de estudo por parte de professores e alunos, para já não falar do espírito crítico, completamente submergido por doutrinas "educativas" completamente abstrusas.
Sem autonomia científica e pedagógica, como no tempo em que os professores do liceu eram tratados por doutores, não há ensino e, sem ensino, não há aprendizagem.
Já só nos restam as avaliações excelentes, feitas com grelhas pré-fabricadas, de todos os alunos!

Helena Damião disse...

Prezado António Pires, precisamente pelo que diz, temos o dever acrescido de estudar, de pensar, de analisar.... E tentarmos, na medida das nossas possibilidades, continuar a educar. Diz Gert Biesta, um filósofo que partilha a preocupação aqui em foco, que temos o dever de resistir. Não em nosso benefício, mas em benefício dos alunos. Cordialmente, MHDamião

O BRASIL JUNTA-SE AOS PAÍSES QUE PROÍBEM OU RESTRINGEM OS TELEMÓVEIS NA SALA DE AULA E NA ESCOLA

A notícia é da Agência Lusa. Encontrei-a no jornal Expresso (ver aqui ). É, felizmente, quase igual a outras que temos registado no De Rerum...