Novo texto de Eugénio Lisboa, com poema de Victor Hugo:
Victor Hugo
é sobretudo conhecido dos leitores portugueses pelos seus romances NOTRE DAME DE PARIS (O CORCUNDA DE NOTRE
DAME), LES MISÈRABLES, L’HOMME QUI RIT, QUATRE VINGT TREIZE e LES
TRAVAILLEURS DE LA MER, todos eles traduzidos em português. No entanto, o
autor de LES MISÉRABLES é também um
enorme poeta francês. André Gide, exigente e bem informado leitor de poesia (a
sua ANTHOLOGIE DE LA POÉSIE FRANÇAISE,
publicada na Bibliothèque de la Pléiade, é justamente célebre), considerava-o -
quase a contragosto, mas considerava-o – o maior poeta francês: grande lírico,
grande épico, grande e castigador satírico.
Destemido
combatente de grandes causas, o seu frontal ataque a Napoleão, o Pequeno,
obrigou-o a um longo exílio, primeiro, em Bruxelas (1851) e depois em Guernesey
(1855). Foi, durante o exílio em Bruxelas que publicou a sua recolha de poesia
– LES CHÂTIMENS (1853), que foi parte desse combate. Deste livro, disse Émile Faguet,
conhecido crítico do século XIX: “LES
CHÂTIMENTS tem partes maravilhosas, onde Hugo ultrapassa tudo, onde faz
recuar todos os limites da poesia eloquente, onde quase inventa (…) um novo
género: a sátira lírica, a imprecação
sagrada, a verdadeira Nemésis.” É deste livro que traduzo um pequeno excerto
(tradução um bocadinho livre, mas só um bocadinho). Dedico-a, desta vez, aos
muitos russos decentes, que senão reveem neste actual regime de Putine, que
tudo atropela, direitos, humanidade, ética, decência. Não me custa aceitar que
se sintam, em relação ao seu governo, como Hugo se sentia em relação a Napoleão,
o Pequeno, e que este eloquente livro tão bem traduz.
UM PEQUENO EXCERTO DE LES CHÂTIMENTS
DEDICADO AOS MUITOS CIDADÃOS RUSSOS
DECENTES
POSTO QUE O JUSTO ESTÁ
NO ABISMO,
POSTO QUE DÃO O CEPTRO AO
SADISMO,
POSTO QUE OS DIREITOS
SÃO VIOLADOS
E OS ALTIVOS FICAM
CALADOS,
PORQUE, EM TODO O LADO
SE DIZ
A DESHONRA DO MEU PAÍS
(…………………………………)
PORQUE AS ALMAS ESTÃO
ABALADAS,
PORQUE SE HESITA E,
OLVIDADOS
O EXACTO, O PURO, O
GRANDE, O BELO,
OS OLHOS IRADOS DA
HISTÓRIA,
A HONRA, A LEI, DIREITO
E GLÓRIA
E TANTOS MORTOS SEM
APELO
QUE EXÍLIO E DOR NÃO
TEMA!
TRISTEZA SÊ MEU
DIADEMA!
3 comentários:
Mais uma vez, obrigada.
É tudo muito mau, de fa(c)to.
A sua accolade, Ana Cristina, toca-me muito. Sou seu leitor assíduo e seu fiel admirador. Como dizem os ingleses, keep up the good work!
Um abraço
Eugénio lisboa
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