segunda-feira, 7 de março de 2022

SONETO DO FÉRTIL DESESPERO

 

Outro poema de Eugénio Lisboa, inspirado pela guerra:

 

Dá-me, Musa, do verbo, a indignação,

o verbo bem duro e assassino,

que alimente fúria e acção

e oponha justiça ao desatino.

 

Dá-me, ó Musa, o verbo eloquente,

a força destemida da resposta,

que saiba opor à fúria do demente

a razão, à loucura, sobreposta.

 

Um povo tão pequeno e destemido,

mal armado e mal alimentado,

defendendo um país destruído,

 

dá tudo o que tem e o que não tem,

com desespero augusto e consumado,

e à morte que vier diz Amém!


Eugénio Lisboa


Dedico este soneto à homérica coragem do povo ucraniano, nesta hora histórica, em que se espera que a infâmia morra às mãos da fisga de David.

1 comentário:

Eugénia em Lisboa disse...

Indignação...

Indigno-me de verbos e ações
De loucas durezas assassinas
De ambições e tristes razões
Das musas eloquentes e finas

Indigno-me das armas tão nuas
Expostas à fúria e à demência
Indigno-me dos mortos nas ruas
E dos nucleares da ciência

Indigno-me com força destemida
Contra os lobos que alto uivam
Por noites cheias de luas sem vida

Indigno-me da morte sobreposta
No tempo histórico que não muda
E da miséria sempre à mostra...

F.C.

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