segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

POETA PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA

 


O título deste livro de poesia pode enganar, uma vez que o poeta não é professor de Educação Física. Chama-se Mauro Filipe da Silva Ponto. Fez licenciatura e mestrado em Engenharia Biomédica (por isso, sabe Física). está a fazer o doutoramento na Universidade de Coimbra em Engenharia Informática, na área da Inteligência em Artificial. Concretamente, analisa sinais neurológicos de modo a podere fazer diagnósticos de doenças. É locutor e técnico de som RUC- Rádio Universidade de Coimbra. Publicou em Novembro de 2021 o seu primeiro livro de poesia, precisamente com o título de cima, na chancela da Doudacorreria, de Lisboa. O mesmo mês foi fértil para ele uma vez que, mesmo no final, no dia 24 de Novembro, foi anunciado o Prémio Francisco Rodrigues Lobo, da Livraria Arquivo de Leiria com o apoio  da Caixa Agrícola, para a sua obra "Época da Laranja". O júri, presidido por Carlos André, integrava o saudoso João Paulo Cotrim, naquele que deve ter sido uma das suas últimas intervenções. 

O livro, com ilustrações espantosas de combates orientais da mão de Sofia Vargues, fala muito de desporto, em particular de futebol, mas sempre com uma veia poética muito original. E também fala de ciência, ou não fosse o seu autor investigador científico. Sempre com a palavra bem segura e a metáfora surpreendente.

Muitos parabéns Mauro! Escolhi três poemas que dão a ideia do registo do novo autor (ainda bem que estão sempre a aparecer novos autores):

12.

a primeira falta dura

o primeiro beijo de língua

o primeiro golo

a primeira festa

o primeiro dedo na tomada

a primeira negativa


a primeira superbock.

dá sempre choque.


27.

o tempo é a grandeza

física melhor definida

que temos


o sistema internacional 

de unidades conta o segundo

pelo número de vibrações

de um isótopo de césio


o tempo é a grandeza

física melhor definida

que existe


um segundo dão 9192631

vibrações de um isótopo

de césio


e o tempo por si só

nem existe, aceitamos

esta gelatina do espaço-tempo.


os físicos namoram

a relatividade geral


explicam aos invejosos

que o tempo pode correr

a diferentes ritmos nos

diversos lugares do mundo


eu cá acho que o tempo 

é a melhor definição 

de ignorância que existe


a ignorância passa sempre

 à mesma hora


se pessoa fosse

acertaríamos até o relógio

por ela


49.

as teorias da origem da vida

falam de formas primitivas que

chegaram na colisão de um asteróide.


é nelas que me baseio quando

vejo jogadores de futebol atrizes

e ouço que não são deste planeta.


arrisco-me a dizer

é esse o segredo do mundo,

ninguém é de cá. somos estrangeiros


num absurdo viemos

à inauguração de um planeta

cortaram a fita e aqui estamos


neste filme fazemos

as vezes de pobre,

sem mota mas à pendura






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