sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

AFORISMOS DE H. L. MENCKEN (1880 – 1956)


Novo texto de Eugénio Lisboa:

Henry Louis Mencken, literariamente conhecido como H. L. Mencken, foi provavelmente o mais influente crítico e ensaísta americano, nos anos vinte do século passado. Dotado de um sumptuoso e acutilante poder de manejo da língua inglesa e de um invulgar poder de ver as coisas muito por dentro, Mencken teve sempre a destemida vocação de se não render facilmente aos ventos que sopravam. Opondo-se, com óbvio risco, à religião organizada, à democracia representativa e à crença num deus qualquer, não se pode dizer que Mencken não sabia escolher bem os seus adversários.

 Tinha uma característica qualidade, que muito admiro: detestava glórias fraudulentas e batia-se como um bravo por impor escritores de real valor, como Theodore Dreiser e Sinclair Lewis. Mas tinha um ponto fraco: nem sempre viu a necessidade de pôr linhas vermelhas ao seu sarcasmo brilhante, e os americanos não acharam muita graça ao facto de ele fazer chacota com o New Deal de Roosevelt, depois de uma depressão assassina. Foi também muito mal visto que ele, inicialmente, se não desse conta do que significava a ascensão de Hitler na Alemanha. Mas deve notar-se que muita gente cometeu este erro. O brilhante George Bernard Shaw não deixou de ter o seu flirt com Mussolini. Acontece aos melhores. 

Da vasta bibliografia de Mencken, podem destacar-se os seguintes títulos: THE PHILOSOPHY OF FRIEDRICH NIETZSCHE (1907); IN DEFENSE OF WOMEN (1918); PREJUDICES, seis volumes de crítica (1919 – 1927); THE AMERICAN LANGUAGE (1919). 

Dou a seguir uma pequena mas significativa amostra do inquietante poder aforístico de Mencken. 

 Diga-se o que se disser dos Dez Mandamentos, devemos dar-nos por felizes por serem só dez. 

Não há assuntos chatos, há só escritores chatos. 

Ópera em inglês faz tanto sentido como beisebol em italiano. 

Quando se ouve um homem falar no seu amor pelo seu país, pode-se estar certo de que ele espera ser pago por isso. 

O pior governo é o mais moral. Um governo composto por cínicos é frequentemente mais tolerante e humano. Mas quando os fanáticos tomam o poder, não há limites para a opressão. 

A consciência é aquela voz interior que nos avisa que alguém pode estar a olhar. 

Nenhum homem merece uma confiança ilimitada – na melhor das hipóteses, a sua traição aguarda apenas uma tentação suficientemente forte. 

É relativamente fácil suportar a injustiça. É mais difícil suportar a justiça. 

Deus é um comediante a actuar para uma plateia demasiado assustada para poder rir. 

Os homens casados vivem mais tempo do que os solteiros – ou, pelo menos, queixam-se durante mais tempo-. 

Nada pode sair do artista que não esteja no homem. 

Nunca pus um charuto na boca, antes dos nove anos. 

É difícil acreditar que um homem está a dizer a verdade, quando sabemos que mentiríamos se estivéssemos no seu lugar. 

Imoralidade é a moralidade daqueles que se estão a divertir mais do que nós.

 Nunca deixe que um inferior lhe faça um favor. Pode custar-lhe caro. 

A fé pode ser definida, em resumo, como uma crença ilógica na ocorrência do improvável. 

Pode ser um pecado pensar mal dos outros. Mas raramente é um engano. 

Só há uma coisa na qual homens e mulheres estão de acordo: nenhum dos dois confia nas mulheres.

 (Hoje, fico-me por aqui. Se quiserem mais, é só pedirem: a verve de Mencken é inesgotável…) 

 Eugénio Lisboa

1 comentário:

TG disse...

Fui à wikipedia e vi 3 citações muito interessantes. Gostei das 3 mas achei esta muito interessante:
"O fato é que a educação, por si só, é uma forma de propaganda - deliberadamente um esquema para equipar o aluno, não com capacidade para equipar o aluno para sustentar ideias, mas para simplesmente alimentá-los com ideias prontas. Com a intenção de criar 'bons' cidadãos, fácil de dizer, dócil e inadimplente."

Rui Silva.

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